Bruno e Giovanna, como amigo da família, primeiro minha total e irrestrita solidariedade e meu abraço forte em vocês, por extensão a Titi e Bless.
Nos últimos dias, todas as mídias deram conta da violência racista ocorrida com seus filhos em um restaurante em Portugal e da reação assertiva da Giovanna diante da racista.
O fato despertou diversas reflexões, e se abre uma janela de possibilidades para uma tomada de atitude para além de nos darmos por satisfeitos pela prisão da racista.
O limite do punitivismo é que, enquanto sistema, o racismo continuará operando estruturalmente, apesar de o sentimento de justiça nos aliviar a raiva do momento.
A racista pagou fiança e está em liberdade. A Justiça, ao alforriar a racista, passa um recado de conivência. Pode-se cometer o crime de racismo, pagar uma taxa simbólica e estar na rua para cometer novo ato. A lei precisa de atualização e complementos.
Voltando para as janelas, penso que se abrem possibilidades importantíssimas na construção de um arcabouço que possa proteger as pessoas pretas da violência, construir mecanismo de retaguarda jurídica e trazer ações de Estado para uma questão que vai além de prender ou não quem comete o ato de racismo.
Países como França e Portugal nem sequer aceitam fazer censo racial, o que impossibilita a construção de uma agenda pública na sociedade capaz de pautar o aparelho de Estado para produzir políticas públicas e institucionalmente combater o racismo.
Nesse caso, as redes de relação e de identidades de vocês enquanto brancos, com acesso a espaços de poder e visibilidade, podem ajudar a construir uma articulação envolvendo aliados não pretos com a mesma influência dentro e fora dos espaços de decisão, para se somar à luta antirracista.
Dentro do nosso país, onde o racismo é eficiente e eficaz e, ao contrário do que alegam, não é nada velado, é violento e dos mais hostis, basta pegar nosso legado histórico de um país com 522 anos de existência e 388 anos de escravidão, onde o Estado, através de leis, até hoje vilipendia direitos e interdita o acesso de homens e mulheres pretas a vida digna.
Crianças pretas sofrem violência de todo tipo, simbólica, psicológica, estética e física, e nós, como pais, temos uma missão permanente de produzir um ambiente sadio e seguro onde possam desfrutar da sua infância, juventude e vida adulta de maneira plena, num país que tem como alvo de sua violência institucional e social pessoas da minha origem.
Contem comigo para tudo, para somar esforços, pois cadeia para racista é pouco. Precisamos ir além, para um país sem racismo, livre e seguro para nossas crianças.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.