Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

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Paul Krugman

Extrema direita da França é ruim, mas Trump é mais hipócrita

Ambos compartilham preconceitos, mas têm prioridades políticas diferentes

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The New York Times

A França realizou o primeiro de dois turnos das eleições parlamentares no domingo, e o partido de "extrema direita" teve uma grande vitória.

Coloquei entre aspas porque os partidos de direita na Europa podem ser diferentes da extrema direita americana —o etnonacionalismo que mira os imigrantes é tão feio quanto, mas as políticas econômicas são menos hipócritas. Vou chegar a isso em breve.

O ex-presidente dos EUA, Donald Trump - Tom Brenner/Reuters

Antes de prosseguir, no entanto, quais são as implicações do bom desempenho do partido Reunião Nacional (RN)?

Pelo que entendi, ainda não está claro se a RN ganhará a maioria dos assentos e se será capaz de formar um governo, e em geral está muito incerto como a França funcionará dada a diminuição da força de Emmanuel Macron, que ainda será presidente.

Deixarei especulações sobre tais assuntos para pessoas que são especialistas de verdade em política francesa —não que eles saibam também.

Em vez disso, deixe-me ser um americano típico e explorar o que os eventos na França podem significar para os Estados Unidos.

A primeira coisa a dizer é que os resultados das eleições francesas provavelmente têm menos a ver com ideologia do que você pode imaginar.

Os eleitores franceses, como em todo o mundo desenvolvido, estão de mau humor e direcionando sua ira contra os políticos no poder, sejam eles de direita, de esquerda ou de centro.

O Reino Unido, por exemplo, realizará sua própria eleição nesta quinta-feira (4) e, a menos que as pesquisas estejam muito erradas, o Partido Conservador, que governa o país há 14 anos, está a caminho de uma derrota ainda mais esmagadora do que os centristas de Macron.

Por que os eleitores estão tão irritados? Essa não é uma pergunta fácil de responder. Pelas medidas usuais, Macron tem sido um gerente bastante bem-sucedido da economia. A taxa de desemprego da França caiu significativamente em seu mandato, enquanto a taxa de emprego para adultos em idade ativa disparou.

Como quase todas as outras nações ricas, a França experimentou um surto de inflação à medida que a economia mundial se recuperava da pandemia de Covid-19 —na verdade, se você usar medidas comparáveis, os preços na França subiram aproximadamente a mesma taxa que nos Estados Unidos.

Mas também aqui, a inflação diminuiu rapidamente sem um aumento no desemprego, e o estado atual da economia parece bastante bom pelos padrões históricos.

Um comentário: os números mais recentes de inflação nos EUA foram ofuscados pelo debate presidencial da última quinta-feira, mas as notícias foram realmente boas.

Com 2,6% ao ano, a inflação está apenas marginalmente acima da meta de 2% do Federal Reserve (Fed). O pico na inflação medida no início deste ano agora parece ser apenas ruído estatístico, e há um bom argumento para afirmar que a inflação foi essencialmente derrotada e que o Fed deveria começar a reduzir as taxas de juros.

De volta à França. A economia francesa parece bastante boa, no entanto, os franceses não estão sentindo isso, ou pelo menos dizem aos pesquisadores que não estão sentindo; os números podem estar bons, mas os sentimentos estão ruins.

Apesar do alto emprego e da inflação relativamente baixa, a confiança econômica das famílias está muito abaixo da média histórica. Se isso faz lembrar a situação dos EUA, você está certo; as semelhanças são quase assustadoras.

Dito isso, os trabalhadores franceses têm algumas razões para se sentirem descontentes. Macron tentou ser um bom tecnocrata, elevando a idade de aposentadoria muito baixa da França em nome da responsabilidade fiscal.

Ele tentou reduzir as emissões de carbono aumentando os impostos sobre combustíveis, desencadeando protestos generalizados, enquanto acabava com um imposto sobre a riqueza que, segundo ele, estava prejudicando a economia francesa —uma medida que levou muitos a chamá-lo de "presidente dos ricos".

E em termos de política econômica, a RN basicamente fez campanha contra Macron pela esquerda. Prometeu reduzir a idade de aposentadoria para muitos trabalhadores enquanto cortava o imposto sobre energia. Como pagaria por essas medidas? Cortando benefícios para imigrantes.

Caso você esteja se perguntando: não, os números não batem. Mas deixando de lado a matemática, a RN efetivamente assumiu uma posição a favor de um Estado grande e benefícios sociais generosos, mas essencialmente apenas para pessoas com a origem étnica certa.

O contraste com o trumpismo deveria ser óbvio.

O Maga [Make America Great Again, slogan da campanha de Trump] compartilha a hostilidade da direita francesa aos imigrantes e a xenofobia geral.

Mas Donald Trump, muito mais do que Macron, realmente foi um presidente dos ricos, reduzindo os impostos sobre empresas e sobre os ricos enquanto tentava sem sucesso cortar benefícios de saúde para milhões.

E, se Trump for reeleito, não há motivo para pensar que ele não faria ainda mais para beneficiar os ricos em detrimento dos americanos comuns.

Ele até aventou a ideia de substituir os impostos de renda por tarifas —ou seja, impostos sobre importações. Assim como as ideias da RN, a matemática não bate; mas qualquer tentativa nesse sentido causaria grandes aumentos de preços para a grande maioria dos trabalhadores americanos, enquanto proporcionaria grandes ganhos de renda para o 1%.

Por isso passei anos argumentando que não devemos chamar Trump de populista. Sim, ele atende a alguns preconceitos populares. Mas suas ideias econômicas tornam a situação dos trabalhadores pior, enquanto os oligarcas americanos enriquecem ainda mais.

Então, sim, a direita francesa é ruim, e seu crescimento é alarmante. Mas o movimento Maga é pior, porque combina o horror da direita europeia com uma hipocrisia e desprezo por seus apoiadores impressionante.

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