Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

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Paul Krugman

O que os 40 mil pontos do índice Dow Jones dizem sobre a economia dos EUA

Há uma diferença entre o que sabemos sobre o estado econômico do país e a forma como Trump o descreve

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The New York Times

Na semana passada, pela primeira vez na história, o índice Dow Jones fechou acima de 40 mil pontos.

Ao contrário de muitos comentaristas de direita, não considero o mercado de ações o melhor indicador da saúde da economia, ou mesmo um bom indicador. Mas é um indicador. E, dada a situação da política americana, com hiperpolarização e teorias da conspiração correndo soltas, eu argumentaria que esse marco merece mais atenção do que tem recebido.

Sem querer ser muito direto, mas você tem alguma dúvida de que os republicanos, de modo geral, estariam anunciando o recorde do Dow aos quatro ventos se Donald Trump ainda estivesse na Casa Branca?

Escultura de bronze conhecida como o Touro de Wall Street, em Manhattan, Nova York - Carlo Allegri - 16.jan.2019/Reuters

O pano de fundo aqui é a diferença entre o que sabemos sobre o estado real de nossa economia e a forma como Trump e seus aliados a descrevem.

Pelos números, a economia parece muito boa. O desemprego agora está abaixo de 4% há 27 meses, um recorde alcançado pela última vez no final da década de 1960, terminando em fevereiro de 1970. A inflação está muito abaixo do pico em 2022, embora, pela maioria das medidas, ainda esteja um pouco acima da meta do Federal Reserve (o banco central dos EUA) de 2%. O crescimento econômico dos EUA nos últimos quatro anos tem sido muito mais rápido do que em outros países ricos comparáveis.

No entanto, Trump diz que a economia está "desmoronando em um esgoto de ruína". Como essas alegações podem ser conciliadas com os bons dados econômicos?

Bem, os números que acabei de citar vêm de agências oficiais —o Bureau of Labor Statistics (BLS, que produz dados do mercado de trabalho) e o Bureau of Economic Analysis (que estima o Produto Interno Bruto).

E se você fosse um partidário hardcore do Maga ["Make America Great Again", slogan da campanha de Trump] inclinado a teorias da conspiração —mas eu estaria sendo repetitivo— você poderia dizer a si mesmo que os bons números econômicos são falsos, inventados por um "deep state" [estado profundo] corrupto para ajudar o presidente Biden a vencer a eleição.

Embora eu não tenha uma maneira de quantificar isso, minha impressão é que as teorias da conspiração sobre os dados econômicos têm proliferado à medida que as notícias melhoram.

Por exemplo, você já ouviu falar da teoria de que o BLS está escondendo a inflação ao remover o café do CPI (Índice de Preços ao Consumidor dos EUA)? (Não está).

Mas como sabemos que o BLS não está manipulando os dados a favor de Biden? A melhor resposta, provavelmente, é aprender algo sobre os métodos e a cultura institucional do órgão; corromper os dados seria muito difícil. (Embora autocratas em outros países tenham feito tais coisas, e não há garantia de que não aconteceria se Trump, conhecido por sua mendacidade, recuperasse o poder).

Outra resposta é olhar para dados empresariais independentes, privados, como pesquisas de gerentes de compras, que contam a mesma história sobre a inflação em declínio que as estatísticas oficiais.

Mas se tudo isso parecer muito acadêmico e desconectado, há o fato bruto dos preços recordes das ações. Como eu disse, o mercado de ações não é um indicador muito bom de como a economia está se saindo. No entanto, é difícil conciliar o Dow Jones a 40 mil pontos com a alegação de Trump de que a economia é um esgoto.

Em particular, embora tentar explicar as flutuações das ações seja, em geral, uma perda de tempo, a recente alta nas ações provavelmente reflete relatórios econômicos sugerindo que o aumento da inflação medida no início deste ano foi apenas um solavanco no caminho para um pouso suave.

Máximas históricas tanto para o Dow quanto para medidas mais amplas como o S&P 500 também são notáveis, dado que, em 2020, durante o segundo debate de Biden e Trump, Trump —que realmente gosta de medir o sucesso econômico pelo mercado de ações— disse que o mercado de ações iria cair se Biden vencesse.

Agora, todo mundo faz previsões ruins —Deus sabe que eu fiz. Mas você deve admitir seus erros e aprender com eles, especialmente se foram motivados pelo raciocínio tendencioso.

Trump, no entanto, mais uma vez afirmou que as ações vão cair se ele não vencer. Ele também fez algo que acho que não tem precedentes: tentar levar crédito por um mercado de ações em alta mesmo estando fora do cargo, afirmando que os ganhos no mercado de ações significam que os investidores estão apostando em sua futura vitória.

Essa alegação é, para não dizer outra coisa, patética. E uma das coisas que ainda me deixa perplexo sobre o apelo político de Trump é por que mais americanos não veem esse tipo de lamentação e jactância como ridículos.

Mas vamos fingir, apenas por um momento, levar a sério a história de Trump sobre os preços das ações. Se o fizermos, os acontecimentos recentes na corrida presidencial de 2024 fornecem um tipo de teste. Ainda há uma grande chance de que Trump vença.

Mas as médias das pesquisas sugerem que a vantagem no voto popular que ele tinha alguns meses atrás evaporou, embora sim, ele pareça estar à frente nos estados-pêndulo-chave. Os mercados de apostas ainda favorecem modestamente Trump, mas muito menos do que faziam não muito tempo atrás.

Portanto, se a teoria de autoengrandecimento de Trump sobre o mercado de ações estiver correta, as ações estariam caindo em resposta às suas chances reduzidas de vitória. Em vez disso, elas estão em alta.

Mais uma vez, nada disso deve ser visto como motivo para começar a considerar os preços das ações como uma boa medida de sucesso econômico. Eles não são; empregos, inflação e renda real são o que importa, e o argumento para o Bidenomics se baseia nesses fundamentos, não no Dow.

Mas, em um momento em que um lado da divisão política está vendendo fantasias econômicas distópicas, faz sentido apontar para o fato inegável de que os preços das ações têm atingido novos recordes.

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