Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

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Paul Krugman
Descrição de chapéu juros

Por que os americanos estão tão negativos sobre a economia?

É uma pergunta interessante, visto que a economia parece notavelmente forte

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Quase um ano se passou desde que o Escritório de Análises Econômicas anunciou que a economia dos Estados Unidos tinha se contraído por dois trimestres consecutivos. Algumas pessoas acreditam, erroneamente, que dois trimestres de queda do PIB são a definição oficial de recessão. A negatividade econômica correu desenfreada, especialmente, mas não apenas, na direita política.

A pergunta interessante agora é por que, pelo menos de acordo com algumas pesquisas, o público continua muito negativo sobre a economia –tão negativo quanto no passado em meio a graves recessões econômicas–, embora esses gritos de recessão tenham sido claramente um alarme falso, e na verdade a economia esteja parecendo notavelmente forte. Ou talvez a pergunta deva ser por que as pessoas dizem que estão muito negativas sobre a economia.

É um assunto delicado, embora eu já o tenha comentado antes. Você não quer dizer que os americanos são estúpidos; você certamente não quer soar como aquele conselheiro de John McCain que insistia que os Estados Unidos eram uma "nação de chorões" que estava passando apenas por uma "recessão mental".

Traders trabalham na Nyse (Bolsa de Valores de Nova York) em Nova York - Brendan McDermid - 10.mai.2023/Reuters

Por outro lado, agora existem enormes lacunas entre o que as pessoas dizem sobre a economia e tanto o que dizem os dados quanto o que elas dizem sobre sua própria experiência. Temos novas informações sobre o que está por trás dessas lacunas.

Primeiro, sobre a tão alardeada "recessão Biden". A definição real de recessão envolve vários indicadores econômicos e, além desses números do PIB, nada do que aconteceu com a economia se parece remotamente com uma recessão.

Desde dezembro de 2021, a economia dos EUA gerou quase 6 milhões de empregos, enquanto a taxa de desemprego caiu de 3,9% para 3,4%, um nível não visto desde a década de 1960.

Não, o desemprego não está baixo porque os americanos abandonaram a força de trabalho: a porcentagem de adultos trabalhando ou procurando emprego diminuiu, mas isso é quase inteiramente resultado do envelhecimento da população, e a participação na força de trabalho está novamente alinhada com as projeções pré-pandêmicas.

São bons empregos, segundo os próprios trabalhadores. De acordo com o Conference Board, que pesquisa a satisfação no trabalho desde 1987, "os trabalhadores americanos nunca estiveram tão satisfeitos".

Certamente, o retorno de uma inflação severa após décadas de tranquilidade abalou a todos, e não apenas porque reduziu a renda real. (Os salários reais caíram durante o segundo mandato de Ronald Reagan, mas mesmo assim as pessoas se sentiam muito bem com a economia.) Um benefício da inflação baixa é que ela dá à população uma coisa a menos com que se preocupar; segundo a Associação Americana de Psiquiatria, a inflação foi uma importante fonte de estresse durante 2022.

No entanto, embora continue elevada, a inflação caiu bastante. A taxa nos últimos seis meses foi de 3,3%, em comparação com 9,6% em junho passado. O preço da gasolina, um importante ponto de discussão política no ano passado, agora está mais ou menos normal em comparação com os ganhos médios.

As pessoas têm notado. Em outubro, 20% dos americanos apontaram a inflação como o problema mais importante que o país enfrentava; agora o número caiu para 9%.

Então, o que está acontecendo? A regra geral parece ser que os americanos estão se sentindo bem com sua situação pessoal, mas acreditam que coisas ruins estão acontecendo com outras pessoas. Um estudo do Fed (Federal Reserve, BC dos EUA) descobriu que, no final de 2021, uma porcentagem recorde de americanos era positiva sobre suas próprias finanças, enquanto um piso recorde era positivo sobre a economia. Ainda não temos resultados para 2022, mas meu palpite é que serão parecidos.

O partidarismo certamente explica grande parte dessa divergência.

Um estudo recém-publicado mostra que quem ocupa a Casa Branca tem efeitos enormes sobre as visões da economia; isso é verdade para os apoiadores de ambos os partidos, embora o efeito pareça ser cerca de duas vezes mais forte entre os republicanos. O estudo também descobriu, entretanto, que essas mudanças nos pontos de vista relatados não parecem ter nenhum efeito sobre os gastos reais –que refletem "torcida", em oposição a "expectativas reais".

Além disso, há boas razões para se acreditar que as reportagens na mídia sobre a economia tiveram um viés fortemente negativo. Uma coisa que tem dado muito, muito certo nos EUA ultimamente é a geração de empregos, mas o público relata consistentemente ter ouvido mais notícias negativas do que positivas sobre o emprego.

Não vamos deixar os economistas escaparem. Como aponta Mark Zandi, da Moody's Analytics, muitos economistas previram recessão mês após mês no ano passado. Mais cedo ou mais tarde, uma recessão sem dúvida acontecerá, mas, como ele diz, "em meus mais de 30 anos como economista profissional nunca vi tanto pessimismo quanto à recessão", mesmo que a economia tenha permanecido resiliente. E esse pessimismo certamente se infiltrou no público.

Então, onde tudo isso nos deixa? Os EUA ainda não trouxeram a inflação de volta aos níveis pré-pandêmicos, e ainda poderemos ter um pouso forçado econômico. Mas até agora, pelo menos, tivemos uma recuperação incrivelmente bem-sucedida do choque da Covid.

Embora muitos americanos digam nas pesquisas que as coisas estão péssimas –o que revela algo sobre como as pessoas respondem às pesquisas e onde obtêm suas informações–, isso não contradiz aquela avaliação positiva.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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