Rep�rter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre pol�tica e economia internacional. Escreve �s sextas-feiras.
Educa��o amorosa e Escola Sem Partido
Algumas escolas nos Estados Unidos est�o incluindo "educa��o amorosa" no curr�culo. Muitos educadores chegaram � conclus�o de que a gera��o Snapchat+Instagram at� sabe como evitar filhos e se proteger de doen�as sexualmente transmiss�veis, mas n�o tem a mais remota de ideia de como se namora algu�m.
Segundo o Centers for Diseases Control (CDC), ag�ncia de prote��o � sa�de americana, quase 80% das escolas de ensino m�dio oferecem aulas de educa��o sexual —embora, em boa parte delas, isso se limite a ensinar a abstin�ncia como �nica forma aceit�vel de contracep��o.
Leticia Moreira - 23.mai.2014/Reuters | ||
Livros sobre g�nero e educa��o sexual usados em escola em S�o Paulo em 2014 |
Os alunos aprendem sobre gravidez na adolesc�ncia, masturba��o, inicia��o sexual, viol�ncia sexual. Na maioria das vezes, no entanto, ignoram completamente o significado de "relacionamento".
Est�o imersos na cultura de "ficadas" e sua comunica��o se limita a emojis, v�deos, fotos e mensagens de texto. Contato pessoal, olho no olho, conversa —tudo isso pode causar constrangimento, e constrangimento � tudo o que eles n�o querem.
Segundo Richard Weissbourd, director do programa de Desenvolvimento Humano e Psicologia da Universidade Harvard, muitos adolescentes n�o entendem, por exemplo, o que � um namoro saud�vel e o que � um relacionamento t�xico. N�o diferenciam amor de paix�o ou desejo sexual.
A boa not�cia � que esses jovens querem aprender mais sobre o que � namorar. Segundo pesquisa divulgada por Weissbourd em maio, 70% dos jovens entrevistados gostariam de ter recebido de seus pais mais informa��es sobre aspectos emocionais dos relacionamentos, e 65% gostariam de ter aprendido na escola.
A professora Kerry Cronin, do Boston College, foi mais longe. Ao longo dos anos, notou que os alunos s�o absolutamente inaptos socialmente quando se refere a relacionamentos amorosos, por isso a maioria s� "fica", e n�o "sai" ou "namora".
Na cultura do "hookup", como "ficar" � chamado nos EUA, n�o h� nenhum compromisso e a "ficada" n�o deve gerar nenhuma expectativa.
"� uma intera��o sexual ou f�sica sem nenhum conte�do emocional aparente e n�o h� expectativa de continua��o", explica. Entre seus alunos, 7 de cada 8 s� ficavam, sem compromisso.
Pensando nisso, Cronin introduziu uma atividade em seu curso introdut�rio de Filosofia. Para serem aprovados no curso, os alunos precisam convidar algu�m para sair. Tem que ser pessoalmente, n�o vale mandar mensagem de texto. O aluno precisa estar interessado "romanticamente" na pessoa, a "sa�da" ou "date", tem que durar entre 60 e 90 minutos e ser durante o dia.
"A ideia � encarar o constrangimento e descobrir que, mesmo se voc� for rejeitado, n�o � o fim do mundo. Essa gera��o tem p�nico de fracasso. Resili�ncia � uma quest�o importante", disse Cronin em entrevista ao jornal da universidade.
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No Brasil, onde movimentos como o Escola sem Partido tentam vetar temas como orienta��o sexual das salas de aulas e apenas a minoria das escolas oferece algum tipo de informa��o sobre o assunto, imagine a dificuldade de emplacar "educa��o amorosa" no curr�culo.
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