![patrícia campos mello](http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16060197.jpeg)
Rep�rter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre pol�tica e economia internacional. Escreve �s sextas-feiras.
Por que estou aqui
"Por que tinha rem�dio para os dois americanos, mas n�o tem para gente, africanos?"
Foi esta pergunta de Mamadu Bah, que trabalha em um hotel aqui em Freetown, que eu n�o soube responder.
E � por isso que estou aqui.
Serra Leoa � a terra que o mundo esqueceu. As pessoas s�o pobres, negras, passaram por anos de guerra civil, mas ningu�m est� nem a�.
Agora, para completar, h� o inimigo invis�vel: o ebola.
Todo mundo aqui est� em p�nico. Ningu�m sabe bem como pega, como se prevenir.
E, principalmente, eles perguntam: por que nunca fizeram um rem�dio ou vacina para esta doen�a? Afinal, a primeira epidemia de ebola foi em 1976, no que era ent�o o Zaire.
O ebola faz parte das chamadas "doen�as negligenciadas" –que atingem s� gente pobre, ent�o n�o interessam para as ind�strias farmac�uticas. Se elas podem lucrar com Viagra e rem�dio de colesterol, por que iriam investir em pesquisa para mal�ria e ebola?
Com a atual epidemia de ebola, os dilemas �ticos ficaram flagrantes.
A Zmapp, empresa americana, est� testando uma droga contra ebola. Resolveu administr�-la ao m�dico Kent Brantly e � mission�ria Nancy Writebol, americanos que se infectaram na Lib�ria. Um mission�rio espanhol tamb�m teve acesso � droga, mas n�o sobreviveu.
N�o usaram no m�dico Umar Khan, her�i nacional de Serra Leoa, que tratou 100 doentes de ebola antes de morrer infectado. Nem em outros africanos.
Agora, foi dada a dois m�dicos liberianos e um nigeriano, depois de insistentes pedidos.
Especialistas apontam para o risco de se usar uma droga que n�o foi testada e pode ter muitos efeitos colaterais ou at� causar a morte.
"E se usamos uma droga dessa nos africanos e o rem�dio mata, v�o dizer os americanos testaram drogas nos africanos", diz um especialista.
Por outro lado, se usam s� nos americanos, v�o negar a muitos africanos sua �nica possibilidade de sobreviv�ncia?
Uma outra empresa, a canadense Tekmira, tamb�m desenvolve uma droga contra ebola.
Mas, de qualquer maneira, ainda n�o h� doses suficientes para todo mundo.
O fato � que, muito provavelmente, n�o haver� uma droga ou vacina eficiente no mercado antes do fim desta epidemia.
E esses pa�ses africanos t�m que continuar lutando para quebrar a cadeia de transmiss�o –evitar que doentes continuem infectando suas fam�lias, que os escondem em casa por medo de hospitais; impedir que m�dicos e enfermeiras, sem a prote��o necess�ria, se infectem ao tratar os doentes.
Para isso, � preciso de gente treinada, para ir atr�s de todas as pessoas que tiveram contato com um doente de ebola, e dinheiro, para comprar equipamentos.
S� para se ter uma ideia, em Kailahun, distrito de Serra Leoa mais afetado pelo ebola, h� 4 ambul�ncias para atender 480 mil pessoas.
Por isso, cada vez que algu�m adoece com ebola num vilarejo, h� grandes chances de a fam�lia trazer o doente em transporte p�blico at� o hospital, infectando ainda mais gente.
Se os jornalistas n�o estiverem aqui para noticiar o que est� acontecendo, a� mesmo � que v�o se esquecer deste povo.
E, neste momento, eles precisam de toda a aten��o, a ajuda e as doa��es poss�veis.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade