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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu Luxo

Nosso quarto mais caro fatura mais que o Fasano de SP inteiro, diz Alex Allard

Megainvestidor dono do seis estrelas Rosewood investirá R$ 10 bilhões para replicar o projeto no país

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Brasília

Alexandre Allard, 55, nasceu em Washington (EUA) e mudou-se com a família para a Costa do Marfim, onde ficou até os 15 anos. Transferiu-se para a França, onde estudou e fundou sua primeira empresa. Após vender seu principal negócio, a Consodata, por cerca de R$ 3 bilhões, passou a investir em projetos de revitalização imobiliária, que foram expandindo para o que chama de "ecossistema maior".

Fez isso em Pequim, em que o bairro histórico de Qianmen acabou se tornando patrimônio da humanidade, e, em Paris, onde recuperou os icônicos hotéis Royale Monceau e De la Marine. Em 2022, inaugurou o hotel Rosewood, âncora de um complexo turístico e de negócios que agora será replicado em três cidades e custará R$ 10 bilhões.

O empresário Alex Allard, fundador da Cidade Matarazzo
O empresário Alex Allard, fundador da Cidade Matarazzo - Divulgação

No Brasil, a elite top-top representa muito menos de 5% da população. Dá para ganhar dinheiro com um hotel seis estrelas?
O Rosewood é para atrair as elites financeiras, para mostrar ao topo da pirâmide do mundo os nossos produtos. Mas, em breve, vamos abrir o nosso projeto da rua. Lá, os melhores chefes do Brasil farão comida por R$ 12. O Soho House é um lugar para toda a comunidade criativa do Brasil, com escritórios com aluguel de R$ 8 mil e R$ 20 mil por ano. Então, é uma experiência aberta a todo mundo. Nossa expectativa é ter 15 milhões de visitantes por ano e nem todos têm um jato privado. É um ecossistema que vai de R$ 12 a R$ 250 mil.

R$ 250 mil?!
Nosso quarto mais caro sozinho faz mais faturamento que o Fasano de São Paulo inteiro. Você tem que imaginar a margem, entende? Se eu faço R$ 250 mil com um quarto, as minhas margens são dez vezes maiores que [a de um hotel] com 60 quartos. A minha competição é com o Cheval Blanc e o Crillon, em Paris, e a suíte do Four Seasons, em Nova York. Coloquei o Brasil em um outro patamar. Não da competição no Brasil, da competição mundial.

Mas vocês também vendem quartos, não?
Todo mundo achava que o Alex Allard seria uma empresa de real estate [imobiliária]. O Cidade Matarazzo não é isso. É um grande templo de celebração do que é a cultura do Brasil e lá tem um modelo econômico e também vendemos os apartamentos, que são os mais caros da América Latina, apesar de estar do lado errado da avenida Paulista [ironia por não ter escolhido o bairro dos Jardins e, sim, Cerqueira César].

Esse modelo será replicado?
Trabalhamos em quatro outros projetos com um legado patrimonial e cultural muito forte no Rio de Janeiro, Salvador, Camboriú e outro em São Paulo. Será o mesmo ecossistema: o hotel com um centro cultural e de trabalho, restaurantes e lojas de produtos. São modelos financeiros parecidos, mas com uma identidade super forte. Um lugar como o Pelourinho é um patrimônio muito valioso. O nosso trabalho é pegar tudo isso, fazer um suco super condensado para que o cheiro, para que a experiência, leve alguém a tomar um avião para viver isso. Não acredito nesse mundo do McDonald's, do Louis Vuitton, que você compra o mesmo produto em todos os lugares do mundo.

A globalização das marcas de luxo acabou com elas?
Trabalhei no mercado de itens de consumo durante muitos anos e há uma mudança acontecendo e ela vai prejudicar o crescimento de grupos gigantes de luxo. Não é que terá uma crise, que ninguém vai comprar uma bolsa Louis Vuitton. Mas as pessoas agora preferem comprar um [ingresso] para um concerto, uma viagem.

Quem tem muito dinheiro não sonha mais com uma Ferrari?
As novas gerações não querem mais comprar carros ou apartamentos. Para isso, tem Airbnb, Uber, outras alternativas. A materialidade da riqueza está desaparecendo para se realizar através de outros conceitos, que são momentos de vida.

E o Brasil representa essa tendência?
É uma terra de experiências.

Você vendeu tudo mesmo para erguer esse projeto?
Sim. Entrei com um pouco mais de R$ 1 bilhão e colocamos [junto com sócios] R$ 3 bilhões.

Quanto custará a expansão para outras cidades?
Mais ou menos R$ 10 bilhões. Não tenho dúvida de que eu já sou o megainvestidor do turismo brasileiro.

Terá outros investidores?
Vamos anunciar em algumas semanas um novo aumento de capital, um refinanciamento [da dívida inicial]. O mercado financeiro respondeu muito bem. Conseguimos institucionalizar o nosso produto, que é um produto de infraestrutura de cidade. Tem investidor para isso, tem investidor de fora, apesar de eles não acreditarem no Brasil, cujo risco é um repelente. E temos a capacidade de acessar crédito do BNDES, do Banco do Nordeste e da Caixa Econômica Federal.

Como quebrar o preconceito e fazer com que um assalariado entre num lugar como esse?
É o nosso desafio de cada dia. É uma estupidez pensar que os pobres têm de viver num mundo sujo, cheio de problemas, e só os ricos, com acesso à beleza. Quando jovem, eu não tive nada, não tive lugar para dormir, mas sempre fiquei maravilhado pelas belezas que eu encontrei nos museus gratuitos da França. Meu trabalho é inspirar as pessoas. Talvez, no meio delas, tenha um outro Alexandre Allard.


Raio-X | Alex Allard

Empreendedor, formou-se na França, onde iniciou-se nos negócios na área de informática. Depois, migrou para o ramo da propaganda digital, com a Diacom, que rapidamente captou os principais anunciantes do país. Em 1994, vendeu todas suas empresas para fundar a Consodata, uma espécie de banco de dados para anunciantes, um negócio que, em 2000, foi vendido para a Telecom Itália por 500 milhões de euros. Naquele momento, começou seus projetos de reabilitação imobiliária.

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