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Fábio Pupo (interino) cobre economia pela Folha há cinco anos, após oito no Valor Econômico. Formado em jornalismo pela UFPR e especializado em jornalismo financeiro pela City, University of London, é membro da Oxford Climate Journalism Network

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Governo quer ampliar residência médica e enfrenta risco de greve

Decreto deu maioria ao governo em comissão que define as regras para especialização de recém-formados; médicos veem risco de uso político para cobrir buraco da saúde

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São Paulo e Brasília

A comunidade médica entrou em choque com os ministérios da Educação e da Saúde após a publicação de um decreto que deu maioria ao governo na Comissão Nacional de Residência Médica.

Por trás dessa briga está o interesse do governo em ampliar as residências médicas para "democratizar o acesso à saúde". Os médicos resistem ao uso político de recém-formados, que, para eles, podem ser obrigados a passar um ano no atendimento básico em vez de se dedicarem à sua especialização.

Preocupado com a possibilidade de uma greve da categoria, o governo abriu negociações. Embora o MEC e a Saúde sejam os mais interessados, as conversas ocorrem, primordialmente, com o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.

Equipe médica no centro cirúrgico do hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias (RJ)
Equipe médica no centro cirúrgico do hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias (RJ) - Eduardo Anizelli - 10.dez.23/Folhapress

Há cerca de um mês, um decreto de Lula extinguiu a paridade de votos que existia na comissão responsável por regular, supervisionar e avaliar os programas de residência médica.

Antes, o colegiado, presidido por um indicado do MEC, era composto por 12 membros, sendo seis representantes do governo e seis das entidades médicas.

Com a alteração, o governo passou a ter oito cadeiras e os representantes dos médicos passaram a ser cinco.

Foi criada ainda uma câmara recursal, acionada em casos de impasse ou questionamento dos conselheiros, que terá três integrantes, sendo dois do governo.

Para entidades como o CFM (Conselho Federal de Medicina), as mudanças trazem riscos de prejuízos para a formação dos especialistas. Elas consideram que os programas de formação precisam ter qualidade e imparcialidade, favorecendo posicionamentos técnicos em vez de interesses políticos.

Nos bastidores, a avaliação é de que o governo promoveu as alterações para passar propostas que eram barradas na comissão, como autorizar a entrada de especialistas estrangeiros sem Revalida e obrigar que os programas destinem médicos para a atenção primária por um ano. Para a categoria, essa seria uma forma de tapar gargalos nos centros de saúde.

Entidades regionais da classe, como o Cremesp, de São Paulo, chamaram o decreto de "draconiano e sorrateiro". O conselho paulista afirmou que pretende questioná-lo na Justiça e mobilizar parlamentares para evitar que interesses políticos se sobreponham à formação de novos profissionais.

Confronto

No fim de abril, representantes do CFM, associações médicas e parlamentares do Congresso se reuniram com os ministros Camilo Santana (Educação) e Nísia Trindade (Saúde). Eles exigiram a revogação do decreto.

Na reunião, eles ouviram dos ministros que o governo falhou no diálogo e que o texto deveria ter sido discutido antes de ser publicado.

Naquele momento, Santana afirmou que o decreto não terá validade, enquanto todos os lados não estiverem satisfeitos com uma nova proposta.

Inicialmente, os médicos se recusaram a avançar com as conversas caso o decreto não fosse revogado.

Desde então, duas reuniões foram realizadas mirando um nova proposta: uma com o vice-presidente Geraldo Alckmin e outra, com mais de 200 lideranças do movimento médico.

Plano B

Em ofício encaminhado ao vice-presidente no último dia 7, cinco presidentes de entidades médicas pediram o fim da câmara recursal, exigiram a volta da paridade entre os conselheiros, bem como a obrigatoriedade de todos os membros votantes serem médicos —a única exceção seria o indicado da Sesu (Secretaria de Educação Superior).

No ofício, eles pedem ainda a exclusão da criação de câmara técnicas regionais, que "podem criar decisões disformes". A ideia é manter a unicidade da comissão nacional.

Assinaram o ofício os presidentes do CFM, da AMB (Associação Médica Brasileira), FMB (Federação Médica Brasileira), ANMR (Associação Nacional dos Médicos Residentes) e ANM (Academia Nacional de Medicina).

Nesta semana, Alckmin se reuniu com o grupo para tirar dúvidas e "aparar arestas".

Outro lado

Consultado, o MEC afirmou, em nota, que o decreto foi criado em conjunto com o Ministério da Saúde para "equacionar a governança" da comissão de residência e que "as pastas estão abertas ao diálogo em torno de eventuais pontos divergentes, tendo sempre como parâmetro a garantia da qualidade das residências médicas e a sua função estratégica para a democratização do acesso à saúde no país."

O Ministério da Saúde disse que preza pelo diálogo e articulação com instituições parceiras no desenvolvimento de suas ações. "As entidades médicas, incluindo o Conselho Federal de Medicina (CFM), têm um lugar importante nessa rede colaborativa, que vem sendo a cada dia mais fortalecida."

Com Diego Felix

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