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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu tecnologia

Contra taxa extra, bigtechs afirmam que teles ganham com 'explosão' da internet

OUTRO LADO: Operadoras dizem que gigantes desconsideram fatores relevantes e que troca de tecnologia consome mais investimento do que em outros setores

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Brasília

Representadas pela Aliança pela Internet Aberta, as bigtechs contrataram um estudo para confrontar as operadoras de telefonia, defensoras de uma taxa extra pelo aumento de tráfego de conteúdos em suas redes, principalmente vídeos e séries.

Além dos gigantes Netflix, Amazon, TikTok, Meta e X, também integram a Aliança outras associação. Entre elas estão a Abert (emissoras de rádio e TV aberta), Abranet (provedores de internet e instituições de pagamento), Abes (software).

O estudo, feito pelos economistas José Guilherme Reis e Marcelo Guaranys, mostra que, mesmo com o crescimento do tráfego da internet na última década, as três companhias —Vivo, Claro e Tim— registraram retorno crescente sobre capital (Roic) e margem Ebitda (lucro antes de juros, amortização de depreciações).

Logo da Netflix na sede da companhia, em Los Gatos, Califórnia (EUA) - 23.jan.2018-AFP

Na média, o Roic, índice que mostra quanto uma empresa cresceu com o dinheiro que recebeu, atingiu 7,09%, em 2023, e era de 6,56%, em 2013. O retorno sobre o investimento também se revelou compatível com o dos demais setores de infraestrutura intensivos em capital, como energia, transporte, saneamento e logística.

Os economistas afirmam ainda que o Roic seria maior caso não houvesse a política pública definida pela Anatel, que troca descontos nas outorgas da telefonia celular por cobertura massificada no país —inclusive em áreas afastadas de pouco interesse comercial.

"Nossa estimativa sugere que a média de Roic para Vivo, Claro e Tim em 2023 saltaria de 7,09% para 9,13% se essas obrigações fossem excluídas", escrevem os economistas.

Apesar disso, eles afirmam que há um impacto positivo sobre o Ebitda resultante dos descontos com os pagamentos referentes às licenças de uso das frequências —avenidas no ar por onde as teles fazem trafegar seus sinais.

Próxima década

O estudo ainda aponta necessidade de aumento de 6,7% dos investimentos anuais para fazer frente ao crescimento da demanda por dados nos próximos anos.

"Os resultados mostram que a média de Roic das três operadoras apresenta uma clara projeção de crescimento mesmo nos cenários mais conservadores", afirmam.

"Esse indicador será de 7,42% em 2033 se o crescimento da receita for de 3% ao ano. Se essa alta for de 5% ao ano, o Roic subirá para 11,74% e chegará a 11,74% com crescimento de receitas de 8% ao ano. Concluímos que não há um problema estrutural na remuneração do setor, considerando que os investimentos continuam gerando retorno e suas margens seguem em crescimento."

Ainda segundo os economistas, na Europa, onde existe o debate sobre a cobrança de uma taxa sobre o consumo excessivo de dados na rede, a queda do retorno sobre investimento das operadoras se deve à inflação, que restringiu o consumo nos países.

Relator do marco civil da internet, o ex-deputado Alessandro Molon, presidente da Aliança pela Internet Livre, busca blindar as bigtechs e os consumidores de uma cobrança adicional pelo crescimento do consumo de dados nas redes.

O ministro de Comunicações, Juscelino Filho (UB-MA), já disse publicamente que defende a cobrança e que pretende enviar um projeto de lei ao Congresso nacional. Os recursos seriam usados em programas de massificação de internet, principalmente em escolas.

Marco Ferrari, presidente da Conéxis, associação que representa as operadoras, criticou o estudo.

"Há comparações inadequadas", disse. "O investimento feito em telecomunicações é muito mais intensivo do que nos demais ramos da infraestrutura devido à rapidez do avanço tecnológico."

O executivo foi irônico ao sugerir que a comparação fosse feita com o retorno das bigtechs, que, segundo ele, lucra em cima de investimentos das operadoras em suas redes.

Com Diego Felix

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