Wellington Vitorino passou em quarto lugar na escola técnica, iniciou seu negócio em 16 de maio de 2016 e vai se casar em 20 de abril deste ano. Para ele, o número quatro e seus múltiplos o perseguem e significam base, estrutura. Negro e nascido pobre em São Gonçalo (RJ), começou a trabalhar aos oito anos e, com a ajuda de mecenas, estudou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT, nos EUA. Lá se aprimorou para empreender com seu Instituto Four (quatro, em inglês) que, a partir de sábado (20), abre inscrições para a nona edição do PróLíder, programa de formação de jovens lideranças.
Como quebrou o ciclo da pobreza e foi parar no MIT?
Sou filho do ProUni. Tive 100% de bolsa no curso de Administração do Ibmec, que custava quatro salários por mês. Me formei e meus pais também passaram a ter acesso a uma renda melhor. Antes, minha mãe recebia menos de dois salários e meu pai, um pouco mais. Dificilmente meus filhos não terão acesso a uma educação melhor que a minha.
Por que decidiu ajudar outros jovens?
Eu poderia ter viajado para muitos lugares com os amigos herdeiros que fiz no MIT. Fui vendedor de picolé, dormi em sala de professor de escola pública para aproveitar a bolsa na escola [privada] por anos. Tive apoio e meu compromisso aqui é retribuir.
Como financia isso?
O instituto começou com doações e, desde 2018, passou a vender formação de líderes para empresas. O primeiro grande cliente foi o McDonald's. Hoje, a gente tem quase R$ 10 milhões de orçamento e boa parte desse dinheiro é investida na formação dessa turma que, por si, não tinha como estudar fora, por exemplo. Já formamos mais de 400 e cerca de 60 tocam negócios que faturam mais de R$ 30 milhões. Mas não é o dinheiro pelo dinheiro. No Maranhão, por exemplo, tem um projeto ligado à cadeia do açaí muito atento à questão do trabalho infantil. O primeiro absorvente biodegradável do Brasil saiu daqui.
Você vive nos EUA. A mobilidade social para negros lá é maior?
Quando eu fui estudar lá, eram 600 brasileiros em MBAs. Só tinha um negro, eu. O racismo estrutural está entranhado nas estruturas [sociais] brasileiras. Existem mil empresas no Brasil que faturam mais de R$ 1 bilhão por ano. Só duas são de negros, a do Thiaguinho [cantor] e a do Ronaldo [Fenômeno]. Nos EUA é mais fácil.
Tem saída? Programas de cotas são uma forma, mas a inclusão produtiva é melhor. O Bolsa Família é um bom exemplo disso. O que dá maior mobilidade às pessoas é a renda e não o fim do preconceito.
Raio-X | Wellington Vitorino
Formação: Administração de Empresas pelo Ibmec/RJ, MBA pelo MIT (EUA)
Carreira: Fundou o Instituto Four, que atua em oito frentes. Uma delas é o ProLíder, que forma lideranças empresariais. É idealizador do Four Summit, evento com CEOs e políticos que pretende ser a Davos brasileira
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