Celso Vilardi é um dos criminalistas mais famosos do país. Na Lava Jato, passou a advogar para empresas envolvidas em corrupção como forma de preservá-las da quebradeira.
Hoje, ele está por trás das maiores investigações corporativas do país, envolvendo práticas criminosas ou acidentes, como o da barragem da Vale.
Como define seu trabalho?
Defendo a sobrevivência das companhias, um trabalho que chamo de advocacia de crise. Na Americanas, por exemplo, atuo com o escritório BMA.
O que garante que a Americanas abrirá tudo para vocês?
No contrato, exijo aprovação do conselho de administração dando liberdade total de atuação, e até de investigação, doa a quem doer.
Esse papel não é do comitê independente?
Sim, mas o comitê costuma demorar. Minha investigação orienta o meu trabalho e é autônoma. Sou favorável à continuidade desses comitês, mas não é possível que não se possa fixar prazos [para eles]. A prorrogação [do prazo] dependeria de um relatório preliminar. Senão, essa investigação corre o risco de ser superada pela das autoridades policiais.
Foi você que pediu o afastamento da diretoria da Vale na época do acidente?
Participei do aconselhamento em casos assim sobre esse assunto em defesa do melhor interesse da companhia. A crise exige atitudes corajosas.
Como afastar pessoas?
Sim. O problema é que isso é visto como um pré-julgamento. Às vezes, você só precisa garantir que o time anterior não vá atrapalhar a investigação.
Também pediram a destituição da diretoria da Americanas?
Houve um fato relevante confirmando isso.
Existe um marco para esse ramo da advocacia?
A Lava Jato. Houve excessos na operação, hoje mal vista, tendo consequências, inclusive, nos acordos de leniência. É fundamental uma legislação para resguardar empresas.
Já tem?
A esperança é que o Congresso nacional module, unificando, ao menos os balcões do estado. É necessária uma lei que fixe parâmetros [para o cálculo do ressarcimento]. Porque, até agora, estamos vivendo a ressaca da Lava Jato.
Como funciona em outros países?
Nos EUA, a SEC [CVM do país] e o DoJ [Departamento de Justiça] podem fazer acordos, mas trabalham em conjunto. Lá se pode cobrar grandes valores, desde que não matem a empresa.
RAIO-X | Celso Vilardi
Formado em Direito e mestre em Direito Processual Penal (PUC-SP), Vilardi publicou diversos artigos e o livro "Aspectos Atuais do Direito do Mercado Financeiro e de Capitais". Na Lava Jato, defendeu Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, entre outras. Integra o Chambers and Partners: Latin America.
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