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Fábio Pupo (interino) cobre economia pela Folha há cinco anos, após oito no Valor Econômico. Formado em jornalismo pela UFPR e especializado em jornalismo financeiro pela City, University of London, é membro da Oxford Climate Journalism Network

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Descrição de chapéu Eletrobras

Grupo ligado ao Planalto investiga atuação do 3G na Eletrobras

Objetivo é levantar conflitos de interesse que levaram a União a perder comando na companhia sendo maior acionista

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Brasília

Um grupo informal de trabalho ligado ao Palácio do Planalto investiga a atuação do 3G Capital, criado pelo trio de bilionários da Americanas, para demonstrar o que chamam de "tomada de controle" da Eletrobras. Também vasculha esqueletos supostamente deixados no processo de privatização.

Sob a supervisão de um importante assessor do presidente Lula, o grupo possui três integrantes e quer mostrar ao STF a existência de uma suposta ação orquestrada do 3G, que, por meio de executivos próprios ou de parceiros em empresas investidas, teria se infiltrado na Eletrobras para comandá-la, mesmo tendo uma participação minoritária.

O trio de bilionários da 3G Capital, Beto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles
O trio de bilionários da 3G Capital, Beto Sicupira (esq.), Jorge Paulo Lemann (centro) e Marcel Telles (dir.) - Divulgação

O fundo, que contou com os bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles até janeiro do ano passado, é um acionista minoritário na Eletrobras, com 1,3% de participação.

Mesmo assim, segundo integrantes do grupo ouvidos sob anonimato, o 3G organizou a formação do conselho de administração e influenciou até na escolha de diretores executivos.

O governo possui quase 40% das ações da companhia e vota com 10% delas nas assembleias —o que considera ser inconstitucional e, por isso, foi ao STF em busca da reversão desse modelo.

O grupo afirma já ter encontrado relação entre os atuais representantes do conselho de administração da Eletrobras e o 3G —cujos antigos sócios estão no epicentro da crise da Americanas, em recuperação judicial com uma dívida de R$ 43 bilhões após a revelação de inconsistências contábeis.

Um dos conselheiros mais ativos, Pedro Batista, fundador da Vinci Partners, é sócio do 3G Radar (gestora) e do 3G Capital.

Outro conselheiro, Felipe Dias foi sócio da Squadra Investimentos, um dos principais acionistas da Equatorial Energia. Vinci Partners e o próprio 3G também entraram como sócios na Equatorial.

Elvira Presta, hoje vice-presidente financeira e de relações com investidores da Eletrobras, já trabalhou para o 3G, ainda segundo relatos.

Também se vasculha a relação de diretores da Vibra (ex-BR) com o 3G. O atual presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, presidiu a distribuidora de combustíveis.

Consultado, não respondeu até a publicação desta reportagem. A Eletrobras não quis comentar.

A assessoria de Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles informou que os investidores não têm nenhum envolvimento com a Eletrobras. A saída deles da 3G Capital se deu, inclusive, anteriormente à operação de privatização da Eletrobras, em junho 2022.

A coluna não conseguiu contato com o 3G.

Esqueletos

Em outra frente, foram levantados os potenciais problemas que podem acarretar despesas para a Eletrobras e que não foram, segundo o grupo, devidamente contabilizados no momento da capitalização, que levou a União a perder o comando.

Um deles são os empréstimos compulsórios. Eles foram realizados nos anos 1960 junto a grandes consumidores para viabilizar a expansão da estatal. Duraram até 1993 e a legislação definiu que, em 2013, os credores deveriam receber os valores corrigidos em ações da companhia.

Diversos credores foram à Justiça e hoje a empresa negocia caso a caso. Oferece descontos que variam entre 20% e 40% no valor e as negociações são protegidas por segredo de Justiça.

Ao todo, a Eletrobras provisionou R$ 26 bilhões em seu balanço para o acerto de contas e pode aumentar esse valor em mais R$ 5,3 bilhões diante de possível perda em processos judiciais em curso. Esse passivo, no total, é de R$ 78 bilhões. A companhia vale R$ 90,5 bilhões.

Desse total, a empresa considera que R$ 46,4 bilhões não terão de ser pagos. Deste total, ao menos R$ 25 bilhões envolvem créditos das cobranças realizadas entre 1964 a 1976 e que foram pagas, segundo a empresa, com títulos ao portador. Como tal, não são negociáveis na Bolsa e não têm preços definidos.

A empresa afirma que uma decisão do STJ confirmou que esses títulos não são exigíveis.
Também afasta o risco de ter de arcar com outros R$ 14 bilhões referentes à aplicação dos juros remuneratórios de 6% ao ano sobre os supostos créditos.

Outro ponto na mesa é a privatização da Amazonas Energia, uma das antigas subsidiárias da Eletrobras.

Os integrantes do grupo afirmam ter havido um rombo de R$ 3 bilhões na transação advindos de uma disputa judicial.

Querem usar esses casos para mostrar ao STF que a União precisa manter seu poder de decisão no conselho para evitar arcar com futuras perdas por ser o maior acionista da Eletrobras.

Com Diego Felix

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