O empresário e ex-ministro Luiz Fernando Furlan está acompanhando o desenrolar da eleição americana como quem vê um filme de Hollywood.
Apesar do alerta pelas ameaças de judicialização por Donald Trump, que levam insegurança aos mercados e à população, Furlan prevê que não vai dar em nada, além de atrasar o processo. “Espero que as coisas se acalmem. Seria uma negação da história”, diz.
Sobre as preocupações com a abordagem de Joe Biden na questão ambiental do Brasil, o ex-ministro afirma que Jair Bolsonaro deveria convidar o democrata para sobrevoar a Amazônia.
Como o sr. tem acompanhado o suspense da eleição americana? Foi emocionante. Parecia um filme de Hollywood daqueles que não sei se era o mocinho que estava perdendo e no final ganha.
Nós estamos na era digital, que facilita a vida de todo mundo. E olhando a distância, parece um sistema complexo e até arcaico, justamente em um país que levanta a bandeira da tecnologia.
Não dá para comparar com a China porque lá não tem eleição. Foi um interessante exercício de democracia, inclusive para os brasileiros, que não estão acostumados a essa mudança voto a voto.
Do ponto de vista econômico seria mais interessante para o Brasil se Trump ganhasse? O Trump não foi um aliado do Brasil. Ficou mais naquela de tomar chimarrão junto, como se diz no Sul, mas o resultado não se pode dizer que tenha sido maravilhoso. Foi uma forçada de barra tremenda em cima da Huawei, que tem uma participação relevante na infraestrutura.
Há coisas essenciais para a vida humana: saúde, energia elétrica e internet. Os Estados Unidos se deram conta de que não têm uma empresa competitiva na tecnologia 5G. As duas que são competitivas com a Huawei são europeias.
O que nós queremos é uma tecnologia que funcione e que as pessoas possam desfrutar dos benefícios em educação, medicina e tantos outros avanços possíveis, do acesso a regiões remotas. Essa horizontalização do acesso tem efeito econômico. As pessoas progridem na vida, podem estudar, se formar, fazer trabalho remoto.
Eu não sei qual vai ser a abordagem do Biden. Nós estamos muito mal colocados em comunicação e tentando remediar o assunto amazônico. Eu tenho esperança que o vice-presidente esteja fazendo isso com esse Conselho da Amazônia.
O Biden fez ameaças de sanção econômica contra o Brasil por causa da questão ambiental. Se fosse o Bolsonaro, convidaria Biden para uma reunião em Brasília. Esperava ele em Manaus e vinha no mesmo avião sobrevoando a Amazônia, com um especialista do lado, para dizer: ‘Olhe em volta. O que o sr. vê? Floresta e rios. Não incêndios’.
Será que Bolsonaro teria o pragmatismo em caso de vitória de Biden? Não sei. A área internacional do Brasil está bem na orfandade. Eu vivi a experiência do Fernando Henrique, como empresário, e do Lula, primeiro como funcionário público e depois como empresário. Ambos eram muito atuantes nos fóruns internacionais. E não se pode dizer que o Lula falava muitos idiomas. Os dois fizeram muito sucesso internacional e trouxeram benefícios.
Hoje tem uma lacuna. O Ministério da Economia e o Banco Central preenchem, mas em coisas técnicas.
No assunto da Amazônia, tudo o que é ilegal, garimpo, invasão, tem que entrar pesado, mostrando que está errado, que é ilegal. E tem que ser penalizado.
E a judicialização da eleição americana pelo Trump? O que o sr. espera que vai acontecer? Eu acho que estava na hora de imitar o [Charles] de Gaulle e perguntar se é um país sério. Ir pelas chicanas jurídicas traz insegurança para os mercados, para a população, incita conflitos em um país que é um exemplo
de democracia do Ocidente.
Espero que as coisas se acalmem. Seria uma negação da história. Eu acho que isso não vai dar em nada. Vai esticar um pouquinho o assunto.
Voltando no 5G, se o Bolsonaro abraçar a tentativa de tirar a China da tecnologia no Brasil, eles podem retaliar e comprar carne da Austrália, por exemplo? Esse mundo é de vasos comunicantes. Se o cara não compra de um, ele tem que comprar de outro. Não é que a produção mundial sobe e desce. Principalmente na parte agrícola, e mesmo na mineral, não se faz milagre.
O mercado de grãos no mundo é dominado por quatro grandes multinacionais. Nem sempre quem compra sabe de onde vai vir o produto. Ele compra de um grande vendedor e tem a logística.
Quem tem que comer tem que comprar comida. Pode influenciar? Pode, mas o comércio tem muita racionalidade e muito pouco emoção. Crescendo a renda mundial, e os chineses melhorando a renda per capita, eles se alimentam melhor. A China produzindo mais carne tem que comprar ração, que é soja e milho.
Eu não tenho muita preocupação com isso. Se a China não compra, o Brasil vai vender para os americanos, que vão vender para a China ou para outro lugar as commodities que são cotadas em Bolsa.
Agora, eu que já trabalhei no comércio e muitas anos na indústria, nunca desprezaria um dos meus principais clientes. Você acha que é bom negócio? O Brasil tem que ser mais pragmático
nessa questão da tecnologia.
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