A população brasileira está menos propensa a receber uma vacina contra o coronavírus que tenha como origem a China, ou seja, fruto de uma parceria com laboratórios do país asiático, ou a Rússia.
A rejeição a um tipo de imunização produzida na China aumenta ainda mais, quando se tratam de brasileiros que aprovam a gestão do presidente Jair Bolsonaro.
As conclusões estão presentes em estudo feito pelo Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública, da Unb (Universidade de Brasília). Foram entrevistados 2.771 pessoas no estudo.
Também participaram do estudo acadêmicos da Universidade Federal de Goiás, da Universidade Federal do Paraná e da canadense Western University.
A vacina chinesa virou alvo de disputa política, envolvendo o governo do presidente Jair Bolsonaro e o governador paulista João Dória (PSDB).
O ápice da disputa aconteceu nesta quarta-feira (21), quando Bolsonaro desautorizou seu ministro Eduardo Pazuello (Saúde), afirmando que não vai comprar a vacina chinesa - um dia após Pazuello anunciar um protocolo de intenções para a compra de 46 milhões de doses da vacina desenvolvida em parceria entre o Instituto Butantan e o laboratório chinês Sinovac.
De uma maneira geral, os brasileiros se mostram favoráveis a receber uma vacina contra a Covid-19. O estudo mostra que 78,1% do total de entrevistados se mostraram favoráveis a receberem algum tipo de imunização - quando não se detalha de qual país será originária a vacina.
"Embora não conste no questionário apresentado uma pergunta específica sobre a motivação, é bem razoável supor que os brasileiros consideram que uma ponta para retomar uma vida normal passa pela vacina", afirma Wladimir Gramacho, coordenador do estudo.
"Quando ligamos a vacina a um país, por outro lado, acende uma preocupação nos brasileiros. Particularmente em relação à China, por causa da polarização política atual, do fato de que o vírus veio daquele país", completa.
O estudo mostra que a intenção em tomar uma vacina contra a Covid-19 se reduz em 16,4% quando se trata de uma vacina que tenha sido desenvolvida na China.
Dentre as pessoas que consideram o governo Bolsonaro bom ou ótimo, 52,2% afirmaram que há pouca ou nenhuma chance de tomara uma vacina chinesa.
Apenas 26,6% dos apoiadores do presidente afirmaram que há muita chance de se vacinarem se a substância for produzida na China.
Embora não com os mesmos níveis de rejeição, os brasileiros também se mostraram contrários a serem imunizados com uma vacina produzida na Rússia. A intenção de se vacinarem se reduz em 14,1% quando os entrevistados são questionados sobre a possibilidade de tomarem uma imunização proveniente daquele país.
Em relação aos que aprovam a gestão do presidente Bolsonaro, 36% afirmam que há pouca ou nenhuma chance de se vacinarem com uma vacina russa. Os resultados mostram que 29,3% dos entrevistados afirmam que há muita chance de se vacinarem com uma vacina russa.
"Trata-se de uma opinião muito parecida com a do presidente", afirma o coordenador do estudo.
Gramacho diz que a explicação pode estar ligada ao fenômeno dos "atalhos cognitivos". Quando as pessoas se encontram diante de uma situação complexa - como a pandemia do novo coronavírus - em que não há tempo ou meios para obter uma informação de qualidade, como compreender estudos científicos, há uma tendência a seguir visões de formadores de opinião ou pessoas influentes.
"Por outro lado, o estudo mostra que não faz muita diferença de onde vem a vacina para aqueles que reprovam o governo Bolsonaro. Só diminui um pouco a intenção de se vacinar", explica.
Dentre os que consideram o governo ruim ou péssimo, 18% afirmam que há pouca ou nenhuma chance de se vacinarem com a vacina chinesa. O índice fica muito parecido quando questionados a respeito de vacinas russas (19,2%), americanas (15,9%) ou da vacina da universidade de Oxford (16,3%).
Após grande pressão de governadores, o Ministério da Saúde anunciou na terça-feira (20) um protocolo de intenções para a compra de 46 milhões de doses da vacina desenvolvida pelo Butantan e a chinesa Sinovac.
No dia seguinte, no entanto, Bolsonaro afirmou que não iria comprar a vacina chinesa e afirmou que o brasileiro “não será cobaia de ninguém”.
O Ministério da Saúde informou então que houve uma “interpretação equivocada” da fala do ministro Pazuello.
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