Nicolás José Isola

Filósofo, mestre em Educação, doutor em Ciências Sociais, coach executivo e consultor em storytelling.

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Nicolás José Isola

O medo de falar

Muitas pessoas não se comunicam por receio de serem rejeitadas

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Comunicar é sempre um risco. Trabalhando com executivas e executivos, fico surpreso com quanto medo elas e eles ficam de falar em algumas situações, especialmente nas redes sociais que utilizam habitualmente, como LinkedIn, ou quando estão em algumas reuniões com pessoas de posição mais alta na hierarquia.

O medo impede a criatividade e gera lógicas conservadoras de trabalho. Quando temos medo, ficamos quietos e não procuramos a ousadia.

Por um lado, essas pessoas que têm medo de se comunicar procuram afastar-se da vergonha que sentem por outras pessoas que escrevem o tempo todo qualquer coisa nas redes, sem adicionar valor. Falam que não querem se parecer com esse tipo de pessoas que posta o tempo todo sem muito critério nem sentido.

Homem faz sinal de silêncio com o dedo indicador à frente da boca
Sammy-Sander por Pixabay

Por outro, muitas pessoas têm medo de compartilhar coisas porque acham que não serão bem recebidas. Um medo ancestral que a maioria dos seres humanos tem. De fato, isso é superevidente na adolescência, aquele período onde todos estamos com perguntas sobre quem somos e quem queremos ser. Quando somos adultos, começamos a camuflar essa sensação, porém ela persiste, e muito.

Trabalhando com o alto escalão executivo é possível perceber o medo e a subordinação que eles têm dos investidores e da direção da companhia. Isto é, o medo está sempre ali, dando voltas, mesmo quando as pessoas fingem estar superadaptadas e dizem sentir-se seguras. Como fala a canção de Lenine: "Medo que dá medo do medo que dá".

Nas organizações, as pessoas de maior senioridade não falam dos medos que elas têm. Existem muitos medos, medo do feedback de uma liderança, medo de não performar bem e medo de arriscar. Comunicar-se é um risco, porque pode sair mal.

É por isso mesmo que muitas pessoas não se comunicam, por receio de serem rejeitadas. Torna-se engraçado porque as companhias simulam que nos escritórios respira-se liberdade e segurança psicológica. Segundo elas, não existem medos, mas eles estão ali o tempo todo, escondidos naquele ambiente seguro simulado.

De novo, é uma coisa muito humana. Se eu compartilho alguma coisa e sinto que não serei ouvido, no fundo não vou me sentir amado. Melhor me salvar. Melhor ficar quieto, abaixo do radar.

Nos tempos da aparente liberdade de expressão, muitas pessoas ficam caladas, sem aportar todo o valor que elas têm para oferecer. Com esses silêncios, perdemos duas coisas relevantes: diversidade e ideias.

Não falar dos medos ao se manifestar é uma forma muito boa de fazer com que eles continuem. Assim, os medos aumentam e se tornam impossíveis de administrar e mudar.

Aquilo que fica inconsciente não pode ser falado nem processado, mas fica de um jeito residual. Vivo.

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