Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mônica Bergamo
Descrição de chapéu Folhajus Chuvas no Sul

Defensoria Pública da União em Porto Alegre afirma que famílias no RS não conseguem acessar auxílios

Órgão alerta para o risco de sobrecarga e de aumento expressivo da exclusão social caso 'cidades provisórias' sejam construídas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Um relatório elaborado pela DPU (Defensoria Pública da União) em Porto Alegre aponta que, passado um mês desde o início da tragédia que assola o Rio Grande do Sul, o acesso a benefícios sociais ainda é custoso e, por vezes, impraticável para muitas das vítimas das enchentes.

O órgão ainda relata a situação precária encontrada nos alojamentos e alerta para o risco de sobrecarga e de aumento expressivo da exclusão social caso o governo de Eduardo Leite (PSDB) insista na construção das chamadas "cidades provisórias".

Centro de Porto Alegre foi tomado pela água do Guaíba
Centro de Porto Alegre tomado pela água do Guaíba - ANSELMO CUNHA/Anselmo Cunha - 14.mai.2024/AFP

Segundo a DPU em Porto Alegre, muitos dos afetados têm dificuldade para acessar o Auxílio Reconstrução, apoio de R$ 5.100 ofertado pelo governo federal, e os programas estaduais Volta por Cima e SOS Rio Grande do Sul. Entraves burocráticos e exigências de cadastros em canais digitais estariam por trás do transtorno.

"Esse contexto [de tragédia] exige um modelo de atuação diferente do habitual, que se adapte à dinâmica do evento e à necessidade de desburocratização para garantir o acesso a direitos", afirma a DPU em Porto Alegre.

"No que diz respeito ao Auxílio Reconstrução, a DPU tem observado uma série de equívocos no cadastro das famílias na plataforma gov.br", acrescenta. "É urgente que sejam disponibilizados novos mecanismos para o acesso".

Em abril, 628.854 famílias gaúchas foram contempladas pelo Bolsa Família. E outras 22.616 famílias foram consideradas aptas a entrar. Desses novos participantes, apenas 5.268 estavam recebendo o benefício em conta, mas os demais foram incluídos posteriormente.

Após ser admitido, o beneficiário do Bolsa Família pode ter que aguardar por até 90 dias para começar a receber os proventos. A espera se dá por questões burocráticas e orçamentárias, e também porque a movimentação de entrada e saída do programa é constante. Até a conclusão do prazo estimado, todos recebem.

À coluna, o Ministério do Desenvolvimento Social afirma que 93% das 641.422 famílias beneficiadas em maio já sacaram ou movimentaram os recursos. Desse total, 28,4 mil ingressaram no mês passado. Em junho, o número de contemplados é ainda maior: 658.016 famílias gaúchas receberão o Bolsa Família.

No relatório, os defensores públicos federais também fazem um alerta para o risco de o estado se tornar palco de um "gigantesco campo de desabrigados" caso não reveja seus planos de acolhimento.

Na semana passada, o governo Eduardo Leite assinou um termo de cooperação para a construção de cinco "cidades provisórias", como ficou conhecida a proposta, ou Centros Humanitários de Acolhimento. Três das estruturas serão implementadas em Porto Alegre, e outras duas, em Canoas (RS).

A DPU em Porto Alegre afirma que o superpovoamento sobrecarregará todas as estruturas de atendimento à população na região e fomentará "um conglomerado urbano com altos índices de exclusão social".

Como alternativa, sugere que o governo aproveite imóveis públicos ociosos para dar abrigo aos desalojados e desabrigados, forneça um aluguel social temporário e financie quartos de albergues e da rede hoteleira, entre outras medidas que poderiam substituir os centros provisórios.

"Não é adequada a formação de um gigantesco campo de desabrigados em plena capital gaúcha quando estudos apontam a existência de imóveis disponíveis para alocação de famílias desabrigadas em espaços menores, próximos dos bairros de origem e com melhor gestão dos serviços", diz a DPU em Porto Alegre.

Os defensores destacam que uma atuação célere e eficaz por parte do Governo do RS é necessária num contexto em que milhares de cidadãos ainda se encontram em espaços provisórios precários ou inadequados. Em Porto Alegre, por exemplo, apenas um dos alojamentos visitados por eles tem camas.

"São ginásios ou escolas em que as famílias ficam distribuídas sobre colchões, com pouco acesso à luz solar e sem qualquer privacidade; os banheiros ficam em condições de higiene precárias em razão do pequeno número em comparação com a quantidade de pessoas acolhidas", diz o relatório.

"Essas constatações não desnaturam a histórica mobilização da sociedade gaúcha e nacional para o socorro às vítimas das enchentes. Evidenciam, porém, que os alojamentos são estruturas provisórias e que é atribuição do poder público assumir a gestão dos espaços", completa.

O documento é assinado pelo Grupo Extraordinário de Monitoramento e Ação em Defesa das Vítimas das Enchentes, criado pela DPU na capital gaúcha e coordenado pelo defensor público federal Gabriel Travassos. A atuação envolve 48 defensores e servidores públicos e foi iniciada em 5 de maio.

Desde o início da crise, os defensores públicos federais já visitaram mais de 30 abrigos em Porto Alegre e fizeram mais de 1.800 atendimentos, que resultaram em mais de 2.000 processos de assistência jurídica.

A própria DPU em Porto Alegre teve sua sede na cidade alagada pelas águas do rio Guaíba, no início do mês passado. A princípio, os quadros do órgão se instalaram no Teatro Renascença, no bairro Menino Deus, mas tiveram que evacuar o local por causa de uma nova inundação.

Nos abrigos, os defensores públicos federais fazem desde atendimentos diretos a monitoramento das condições oferecidas, além de checar se grupos com necessidades específicas estão sendo atendidos, como mulheres vítimas de violência doméstica, pessoas trans e a população que vive em situação de rua.

Uma equipe também foi destacada para comparecer a agências da Caixa Econômica Federal e fiscalizar o saque de benefícios como o Bolsa Família e o FGTS, liberados em condições especiais para as vítimas.

No relatório, a DPU em Porto Alegre diz ter instaurado 30 processos coletivos de assistência jurídica. Trabalhadores que denunciaram situações de assédio laboral, com empregadores exigindo presença mesmo com a pessoa estando desabrigada e sem condições de deslocamento, estão entre os casos ajuizados.

"Ninguém pode ser deixado para trás. A reconstrução [do estado] deve observar a dimensão socioambiental dos danos para adotar medidas que a curto, médio e longo prazo previnam novos desastres e reestruturem a sociedade gaúcha por meio de ações e projetos de redução da desigualdade e reparação dos danos sofridos", defende a DPU em Porto Alegre.

O documento elaborado pelo órgão, que em Porto Alegre é chefiado por Regina Taube, afirma que muitas das ações realizadas até aqui só foram possíveis graças ao poder da Defensoria Pública de requisitar documentos a autoridades e à administração pública.

Sob a gestão de Augusto Aras, a PGR (Procuradoria-Geral da República) ingressou com 22 processos no STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo o fim do mecanismo. A demanda foi negada pela corte.

"Graças a essa prerrogativa, os membros da DPU podem requisitar exames, certidões, informações, documentos e diligências imprescindíveis de órgãos públicos e privados para a adequada assistência jurídica à população", afirma o órgão.


CERTAME

O jogador Neymar Jr. recebeu convidados no leilão beneficente promovido pelo Intituto Neymar Jr. no Clube Atlético Monte Líbano, em São Paulo, na noite de segunda-feira (3). A apresentadora Luciana Gimenez esteve lá. Os lutadores Popó e Minotauro também compareceram.

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

Erramos: o texto foi alterado

O dado de que apenas 23% das 22.616 famílias elegíveis para receber o Bolsa Família no RS sacaram os recursos se refere a abril e não está atualizado. Naquele mês, 628.854 famílias foram contempladas pelo programa no estado. Após o decreto de calamidade, todos os novos ingressantes receberam o benefício. O texto foi atualizado.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.