Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu Folhajus TSE

'Hoje é o dia em que Moro respira', diz Rosangela Moro após julgamento no TSE que absolveu senador

Deputada federal afirma ter acompanhado julgamento no TSE com serenidade, defende que o marido era apenas um juiz de primeira instância na Lava Jato e diz esperar que ele siga como senador em 2026

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Brasília

Rosangela Moro (União-SP) diz que agora seu marido pode respirar. Na noite de terça-feira (21), o senador Sergio Moro (União-PR) viu um pedido de cassação contra o seu mandato ser rejeitado por unanimidade pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), uma rara vitória em meio à maré de reveses sofridos pelo ex-juiz da Operação Lava Jato.

O casal de parlamentares acompanhou o julgamento a partir de uma TV instalada no gabinete de Moro no Senado Federal, em Brasília. Quando o voto do ministro Kassio Nunes Marques foi proferido, formando maioria favorável ao parlamentar, a apreensão deu lugar à comemoração.

"Seguimos ali, atenciosos, no restante do julgamento. Fechou com o voto do ministro Alexandre [de Moraes], que foi muito feliz", afirma a deputada federal, que recebeu a coluna em seu gabinete na Câmara, na quarta-feira (22).

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O senador Sergio Moro e a deputada federal Rosangela Moro no Senado Federal, em Brasília - Gabriela Biló - 9.abr.2024/Folhapress

Rosangela contemporiza ao falar sobre as derrotas impostas ao ex-titular da 13ª Vara Federal de Curitiba pelo mesmo sistema de Justiça que acaba de absolvê-lo. "A gente precisa confiar nas instituições", afirma ela.

"Se houve esses reveses e mudou o entendimento, é o que o Supremo decidiu. E [se] o Supremo decidiu, cabe à gente cumprir", diz, em referência a decisões recentes do STF (Supremo Tribunal Federal), como a que extinguiu um processo contra José Dirceu (PT) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Ao rememorar a Lava Jato dez anos depois da deflagração de sua primeira fase, a deputada afirma que o marido foi apenas uma peça de uma engrenagem maior, diz que nunca o viu como um herói e nega que ele tenha buscado holofotes junto à opinião pública quando juiz. "Sergio Moro falava nos autos", defende.

Prestes a completar 50 anos de idade, a advogada de formação e carreira afirma ter se interessado pela política depois dos 30 e diz que a atividade é necessária para que melhorias ocorram na sociedade —embora não negue o legado antipolítica alimentado pelos desdobramentos da força-tarefa.

"A gente tem que desmistificar que a política é ruim. Tudo é política. A gente precisa da política para tomar as melhores decisões", afirma Rosangela.

NA CORTE ELEITORAL

Após a decisão do TSE, o senador Moro falou que havia muitos boatos sobre a cassação e que eles eram um exagero. Mas, até terça-feira (21), aliados dos senhores tinham dúvidas se, de fato, ele poderia sair livre desse julgamento. Foi mesmo um exagero?
O exagero que o senador quis dizer é [no sentido de] que já estava aparecendo uma nova eleição suplementar, já estavam dando a cassação como certa.

A gente aguardou esse julgamento com muita serenidade. O voto [favorável] do relator no [Tribunal Regional Eleitoral do] estado do Paraná, ter ganho na primeira instância... Isso foi mostrando o que a gente já sabia: os fatos e a lei estavam do nosso lado.

Esse julgamento foi um ponto fora da curva, se a gente considerar os reveses para a Lava Jato nos últimos meses. Como tem sido esse período para a senhora e para o senador?
Com relação ao processo eleitoral, a gente, claro, preferia que não tivesse tido essas impugnações e pudesse, desde o início, ter a tranquilidade de não ter que responder ao processo.

Com relação aos reveses da Lava Jato, aí a gente não está mais falando do Sergio Moro senador, a gente está falando do Sergio Moro ex-juiz da Lava Jato, ex-ministro da Justiça. Hoje ele não é mais magistrado.

O Supremo está fazendo o seu papel de julgar, conforme as demandas que aparecem lá, e o Sergio Moro não participa porque não é mais membro do Judiciário. A Lava Jato está unicamente correndo pelo Judiciário.

Todas essas questões nunca te tiraram o sono?
Eu perdi o meu sono quando vi a reportagem do Fantástico [da TV Globo] que mostrou o plano do PCC [o Primeiro Comando da Capital, que mirou Moro em plano de ataque revelado no ano passado].

A gente tem que tratar sempre tudo com serenidade. Eu sou uma pessoa de muita fé.

Ele era um juiz de primeira instância, aí tinham três no Tribunal [Regional Federal da 4ª Região], tinham mais não sei quantos no STJ [Superior Tribunal de Justiça], no STF [Supremo Tribunal Federal, referendando decisões]. Depois, mudou o entendimento.

Como que um juiz de primeira instância vai fazer um conluio com o universo inteiro? Não cabe essa afirmativa.

Infelizmente, há uma cultura assim: "Não gosto da sua decisão, então eu vou achar alguma coisa que desagrade coletivamente a tua imagem e vou partir para cima de você". É a cultura do "vou acabar com a tua reputação".

Visitaram toda a nossa vida. A que processo a gente responde, o que roubou? Nada, não tem. Então, a gente tinha essa serenidade, somada à fé e tudo. Um dia de cada vez.

A VARA DE CURITIBA

A senhora afirmou que o senador Moro era só um juiz de primeira instância, mas em manifestações pró-impeachment de Dilma Rousseff havia bonecos e cartazes dele. Como é mudar de posição e passar de um herói nacional, como ele era visto, e a senhora estava ao lado dele, para um momento como esse?
Eu não o via naquela época como um herói nacional.

Eu o via como um juiz que estava fazendo o seu trabalho e que, por estar atingindo pessoas econômica e politicamente poderosas, ganhou ali um destaque.

Ele é apenas uma peça de toda essa engrenagem, o juiz não trabalha sozinho. Tem o Ministério Público, tem a Polícia Federal que investiga, tem as cortes superiores que referendam as decisões.

Sempre me fiz a seguinte pergunta: por que só no juiz da primeira instância? Sempre vi isso com dificuldade. Não tenho essa resposta até hoje.

Talvez porque, sendo de primeira instância, estivesse mais perto da população.

Mas ele não atraiu isso para ele? O então juiz dava entrevistas, aparecia muito na mídia, ia a eventos.
Veja bem: ele teve muita resistência para dar entrevista. Muita resistência. A Operação Lava Jato é de 2014, a primeira entrevista que ele deu foi uns dois anos depois.

A liturgia da magistratura requer uma introspecção. Sergio Moro falava nos autos.

Para a sorte dos jornalistas, os autos eram eletrônicos e estavam lá. Os processos são públicos. Eu nunca tive a curiosidade de ir lá consultar os processos que saíram da Lava Jato, mas estavam lá disponíveis para quem quiser.

Eu acompanhava a Lava Jato pelos jornais.

A deputada federal Rosangela Moro (União-SP) na Câmara dos Deputados, em Brasília - Divulgação

ESTADO DE DIREITO

Parte dos magistrados que deram a decisão do TSE já estiveram em julgamentos do STF que anularam decisões da Lava Jato e que, inclusive, beneficiaram o hoje presidente Lula (PT). Como a senhora vê a Justiça nesse momento? A senhora acha que, quando ela nos beneficia, parece ser um pouco mais justa?
Absolutamente, não. Eu, até pela minha formação jurídica, sou defensora do "rule of law", o Estado democrático de Direito. Se a gente tem as instituições e as instituições estão trabalhando, a gente precisa confiar nelas. E eu espero das instituições, sempre, julgamentos técnicos.

Se houve esses reveses e mudou o entendimento, é o que o Supremo decidiu. E [se] o Supremo decidiu, cabe à gente cumprir.

Eu sou advogada de formação, já ganhei processo, já perdi processo. Se eu não ganho, tenho as instâncias para recorrer, esse é o caminho certo para fazer. Não vou para a imprensa desmerecer juiz, porque o caminho não é por aí. Se a gente quer uma democracia, a gente tem que fortalecer as instituições.

A decisão no TSE foi antecedida por conversas do senador Moro com ministros das cortes superiores. Como a senhora vê um julgamento na Justiça passando também por conversas e articulações políticas?
Eu vejo um julgamento absolutamente técnico. Todos os votos foram alinhados com as provas ou não provas dos autos. E é natural que haja esses diálogos e que aliados políticos conversem entre si, torçam por nós.

Essas coisas que estão falando de acordão, eu não consigo ver dessa maneira.

LULA E A LAVA JATO

Muitas pessoas que ainda hoje são partidárias da operação falam que a Lava Jato perdeu uma grande oportunidade de punir a corrupção quando se fixou na ideia de pegar Lula. O que a senhora acha dessas críticas?
O governo da época em que descobriu-se os fatos era o governo do PT.

Teve o início da operação, e a cada fio que as investigações iam puxando, envolvia mais gente, e chegou na proporção que chegou. E era o governo do PT. E, salvo equívoco —não, com certeza [se corrige]—, outras pessoas que não eram do governo do PT também sofreram os efeitos da Operação Lava Jato.

Eu não consigo compactuar com essa ideia e essa narrativa de que "a ideia era especificamente com relação a uma pessoa do PT". Foram os crimes, foram os fatos.

É errado dizer que está criminalizando a política; a política que se mostrou criminosa. Ainda que queiram jogar a sujeira por debaixo do tapete, os fatos estão aí. Bilhões foram devolvidos. Delações premiadas [foram feitas] na presença de advogados, na presença do Ministério Público.

Logo depois que o então ministro deixou o governo do presidente Jair Bolsonaro, a senhora lançou um livro e falou que queria colocar um ponto final naquela sua fase de vida pública. O que te fez repensar essa decisão e se candidatar?
O Sergio cumpriu a quarentena quando saiu da função do Ministério [da Justiça] e nós fomos passar um tempo fora do Brasil. Um dia, a gente estava andando na rua e um rapaz alto, negro, chegou e falou: "Eu conheço você". E ele falava um português diferente. O Sergio falou: "Tá, tá bom, eu sou o Sergio Moro", porque o cara estava querendo lembrar.

Ele era um angolano que estava nos Estados Unidos. Ele sabia da Operação Lava Jato, que tinha tido reflexo no país dele. Ele pegou e falou assim [para nós]: "Não desista do teu país".

Claro que não foi [só] o que o angolano disse [que motivou o retorno à vida pública]. É muito bom você morar fora, ter essa experiência, mas é o nosso país. Se a gente tem alguma coisa para retribuir ou contribuir, é o nosso país. E era o cenário pré-eleição, tinha lá a "terceira via".

A gente ponderou e falou: "Vamos voltar".

VIDA POLÍTICA

Hoje, estando aqui na Câmara, a senhora tem uma outra visão sobre a política? Uma visão antipolítica se avolumou nos últimos anos, e em parte a Lava Jato teria contribuído com isso.
Minha visão, estando dentro ou fora, praticamente não muda. Como todas as profissões, tem bom médico, tem péssimo médico. Tem bom jornalista, tem jornalista que não é bom. Tem político bom, tem político ruim.

Se as pessoas que têm esse propósito de contribuir, pensar no coletivo, para fazer política boa, baseada em evidência, para resolver a vida das pessoas, saúde, educação, segurança, qual setor seja da pátria, esses lugares têm que ser ocupados por essas pessoas.

A gente tem que desmistificar que a política é ruim. Tudo é política. A gente precisa da política para tomar as melhores decisões. Onde vai alocar recurso público? Quais são as prioridades? O que dá para melhorar? O que dá para fazer?

Eu acompanho as redes [e vejo] muita gente nova interessada pela política. Eu, quando tinha a idade dessa garotada que está interessada por política, não me interessava.

Com quantos anos a senhora foi se interessar por política?
Eu comecei a me interessar por política principalmente quando comecei a trabalhar com as Apaes (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), com a política pública. Foi em 2008, 2009.

Claro que a gente sempre se preocupa, mas aquela pergunta "como eu posso contribuir com essa política?" [surgiu] tendo a sorte de trabalhar nesse universo das pessoas com deficiência.

A senhora já defendeu uma "terceira via" para a Presidência da República. Na próxima eleição, em 2026, acha possível o nome do senador Moro ser apresentado para esse posto?
A gente está no [partido] União Brasil. O nosso partido tem um candidato forte, que é o governador [de Goiás, Ronaldo] Caiado. Há outros nomes fortes. Tarcísio [de Freitas, de São Paulo], há o nome também do [Romeu] Zema [de Minas Gerais].

O que eu imagino que em 2026 vá acontecer é uma união desses atores para ter um nome forte para concorrer com o governo Lula, ao qual a gente faz uma oposição.

O senador Sergio Moro [suspira]… Hoje é o dia em que ele respira depois desse julgamento. E deve continuar cumprindo o seu papel no Senado, assim espero.

A senhora defenderia a candidatura dele?
O senador Sergio e eu, a gente é muito assim: "Vamos focar no que temos agora?".

A gente tem um compromisso assumido agora. A gente tem o compromisso de honrar os nossos mandatos —eu, como deputada federal, e ele, como senador. É esse o plano.

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