O grupo Judeus pela Democracia de SP lança nesta segunda (18) um manifesto contra o “cerceamento da memória do Holocausto” no debate contemporâneo no Brasil. ”Não aceitaremos a tentativa de alguns grupos e instituições de silenciar quem critica o terror que o projeto político-ideológico do governo Bolsonaro leva a cabo”, diz o texto.
MEMÓRIA
“Recuperar a memória do Holocausto para lidar com o presente não é banalizá-la. É uma forma de melhor combater as políticas análogas ao nazifascismo de propagação do vírus, de genocídio indígena, de difusão de fake news e discursos de ódio.”
Leia o Manifesto na íntegra:
"A memória do Holocausto quer dizer, apesar de tudo, responsabilidade e atenção
Aconteceu, logo pode acontecer de novo; este é o ponto principal de tudo o que temos a dizer
(Primo Levi, Os Afogados e os Sobreviventes)
Hoje, a poucos dias da entrega do relatório final da CPI da Covid-19 que deverá indiciar criminalmente o atual presidente da República por crime contra a humanidade e crime de genocídio contra os povos indígenas, há ainda quem condene aqueles que trazem à tona a memória do Holocausto para pensar os perigos do presente. É como se tudo o que aconteceu entre 1933 e 1945, por ter se dado em "circunstâncias completamente diferentes das atuais", devesse ser sepultado na memória e sacralizado sob o argumento do risco de banalização.
O que nós, membros do coletivo Judeus pela Democracia de São Paulo, não aceitamos, por responsabilidade e atenção à herança que o Holocausto nos legou, é a tentativa de alguns grupos e instituições de silenciar aqueles que protestam contra o terror do projeto político-ideológico que governos de extrema-direita têm levado a cabo.
A ideologia mórbida do nazifascismo parece ecoar nas violências do governo atual do Brasil: propagação do vírus na pandemia; genocídio contra os povos indígenas; difusão de fake news, de conspirações negacionistas, de discursos de ódio e de violência misógina, racista e homofóbica; financiamento com dinheiro público da destruição da floresta Amazônica; naturalização da fome de dezenas de milhões de brasileiros; organização estratégica de milícias para a defesa de seu governo e de sua ideologia.
Para nós, preservar a memória quer dizer que, apesar das circustâncias atuais serem diferentes daquelas de 1933 a 1945, não podemos deixar de ouvir o apelo das testemunhas do Holocausto para que fortaleçamos nossa responsabilidade e atenção frente aos perigos do presente e de um governo que se assemelha ao nazifascismo.
Não à toa, após ouvir, na CPI da Covid-19, os depoimentos de um paciente e de um ex-médico da rede Prevent Senior, um senador não encontrou outra palavra para descrever a violência da política em curso: 'Nazismo! Não tenho como não chamar isso de nazista, o que assistimos hoje [no Brasil], com todas as letras dessa palavra'.
Enfim, não podemos aceitar a banalização do mal como política de Estado. Nem banalização da memória, nem banalização do presente. Anos atrás, o sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, Primo Levi, já notara o caráter "endêmico" e "epidêmico" da violência nazi-fascista no "Terceiro Mundo", alertando que ela estava à espera de um novo bufão que a organizasse, a legalizasse e a declarasse necessária.
Ao invés de fecharmos os ouvidos para a memória da Holocausto e os olhos para o horror de hoje, escutemos o passado para melhor combatermos as violências do presente."
FAMOSOS NAS REDES
com LÍGIA MESQUITA, VICTORIA AZEVEDO, BIANKA VIEIRA e MANOELLA SMITH
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