![mônica bergamo](http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/1507426.jpeg)
Jornalista, assina coluna com informa��es sobre diversas �reas, entre elas, pol�tica, moda e coluna social. Est� na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.
Theodoro Cochrane fala de beijo gay e de suposto caso com Gianecchini
"Sabe quem � a m�e dele?", pergunta Severino, o porteiro de um pr�dio nos Jardins, com ar de quem vai contar uma novidade ao rep�rter Joelmir Tavares, que est� � espera de Theodoro Cochrane.
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O ator (e DJ e figurinista e cen�grafo e diretor), que completa 37 anos nesta ter�a (17), j� se conformou: ser chamado de "o filho da Mar�lia Gabriela" � uma sina que vai acompanh�-lo para sempre. Sem poder mudar isso, ele trabalha. Finaliza o primeiro curta-metragem que dirigiu, "Para Salvar Beth", prepara a dire��o de arte de uma pe�a e cria o figurino de outra.
Em seu apartamento, na tarde de uma quarta-feira, ele se dedica � edi��o do filme. O branco que cobre desde o ch�o at� o teto s� � quebrado pela cor de alguns m�veis e das fotos contempor�neas nas paredes. "Sempre quis morar dentro de uma galeria", diz. O anfitri�o fica feliz quando seus convidados trocam os sapatos por um dos pares de pantufas empilhados na entrada.
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A m�e, que para visitar basta ele atravessar a rua, � uma inspira��o. Moradora do pr�dio em frente, a apresentadora (e atriz e cantora e escritora) j� "sofreu" e levou muito "cacete", diz o filho, por se aventurar em diferentes �reas.
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"Antigamente se voc� n�o focasse numa �nica profiss�o era uma pessoa desnorteada, sem rumo, desconcentrada. Hoje em dia � um m�rito ser multifacetado", afirma ele.
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Nem sempre pensou assim. Fascinado com a "magia" das telas desde crian�a, mirou primeiro uma carreira atr�s das c�meras. Sua mais antiga lembran�a da inf�ncia, de quando tinha uns tr�s anos, � a imagem da m�e no monitor de um est�dio de TV, "com roupa vermelha de lantejoula, o cabelo de permanente, desse tamanho [p�e as m�os em volta da cabe�a], loiro".
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Passou uma temporada em 1997 em Los Angeles, nos EUA, estudando para ser diretor de cinema, mas a vontade de atuar foi mais forte. Virou aprendiz do diretor de teatro Antunes Filho. Depois fez Escola de Arte Dram�tica da USP, onde percebeu o tino para cen�rio e figurino. Tamb�m se formou na faculdade de desenho industrial.
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Desde a estreia na TV, em 2003, com um papel na miniss�rie da Globo "A Casa das Sete Mulheres", fez mais duas s�ries, seis novelas, cinco filmes. No teatro, ganhou o Pr�mio Shell de figurino em 2010. Fez dire��o de arte para o diretor Antonio Abujamra (1932-2015). Neste ano, cuidou das roupas da pe�a "Vanya e Sonia e Masha e Spike", com a m�e no elenco.
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Mas nenhum desses trabalhos fez ecoar seu nome tanto quanto a foto de um paparazzo que mostra Theodoro beijando outro homem no Carnaval da Bahia, em fevereiro.
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Sentado no sof� da sala, ele suspira e chora. "Escreveram coisas horrorosas a respeito de mim, da minha fam�lia, nas redes sociais. Eu tinha medo de sair de casa. Minha p�gina ficou parecendo um site pornogr�fico, de tanta foto er�tica. Foi muito forte."
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Fez sil�ncio sobre o fato para barrar mais m�goas e evitar a impress�o de que queria se promover. "N�o que eu quisesse esconder, mas preferia que n�o viesse � tona. Acho que vivemos num pa�s extremamente careta em alguns sentidos, bastante hip�crita."
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Ele segue: "N�o quero ser setorizado, ser de um nicho. Gosto de mostrar o meu trabalho e a minha sensibilidade art�stica. Eu sou Theodoro, eu sou um ator, um figurinista, um DJ, um diretor. Se eu t� beijando mulher, se eu t� beijando homem, se eu t� beijando cachorro, n�o vai interferir. � minha vida." E revela uma tristeza: "Eu nunca tive reconhecimento com meu trabalho nessa amplitude".
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No meio do "redemoinho", faltou � entrevista coletiva da pe�a da m�e porque sabia que o flagra seria tema. Na ocasi�o, Mar�lia Gabriela falou: "[Ele tem] �tima forma��o, � inteligente, maduro, um cidad�o e tem direito de viver integralmente sua vida. Acho assustador a ignor�ncia, desonestidade, preconceito, homofobia e outras fobias".
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Theodoro diz que estava b�bado na hora da foto, mas suspeitou ter visto um flash. Pensou: "Paparazzo? Aqui na Bahia, �s duas da manh�? E eu nem sou famoso o suficiente para ter paparazzo atr�s de mim". Passado o epis�dio, o ator at� ri: "Foi um beijo que, eu juro por Deus, n�o deve ter durado tr�s segundos. O fot�grafo foi do caralho!".
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Para ele, o interesse na vida alheia � reflexo da "nossa sociedade Kim Kardashian" –ela � a celebridade americana que ficou famosa mundialmente n�o se sabe muito bem por qu�. "Qual a relev�ncia dessa pessoa? Prefiro saber de quem tem valor art�stico, intelectual, pol�tico."
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Ele hesita ("N�o vou falar desse assunto") ao ouvir o nome de Reynaldo Gianecchini ser mencionado na conversa. Em sua biografia, escrita pelo jornalista Guilherme Fiuza, o ator e ex-marido de Mar�lia Gabriela abordou o coment�rio que o liga a Theodoro : a vers�o de que os dois tiveram um relacionamento amoroso e que o casamento com a m�e era s� fachada. No livro, o caso � descrito como boato.
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"� uma mentira absurda", afirma Theodoro. Na �poca, tinha namorada, ele lembra. "� ofensivo a mim, a ele e principalmente � minha m�e. As pessoas preferem aceitar que o gal� da novela das oito � gay a acreditar que ele � apaixonado por uma mulher mais velha. Para que a minha m�e ia se submeter a isso? E que imagem de sucesso que eu tenho [ir�nico], de capa de revista, gal� de TV, para ela ser obrigada a me 'poupar'?", diz.
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Ele caminha pela casa. Fala animadamente sobre o curta "Para Salvar Beth", que h� dez anos tinha vontade de fazer e hoje � seu maior projeto. A sala foi usada em uma cena de sua m�e e de Antonio Fagundes, que vivem um casal na hist�ria. O diretor banca o filme do pr�prio bolso, "na ra�a", e quer inscrev�-lo em festivais de Nova York, Berlim, Toronto e Cannes.
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Na cozinha, diante da ampla janela, a geladeira tem pregados na lateral um papel com sua dieta e um folheto com orienta��es para a empregada lavar, secar e passar as roupas de acordo com a etiqueta. Na sala, ele ri ao observar a mania de deixar alinhados sobre uma mesinha seis controles remotos de diferentes tamanhos, dispostos invariavelmente na mesma ordem. No quarto, mostra a cole��o de edi��es da "Playboy" –a dire��o de arte dos ensaios da revista sempre o atraiu.
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Da "casa dos sonhos, o lugar preferido no mundo", sai � noite ao menos uma vez por semana para tocar. � DJ fixo na programa��o de tr�s boates da capital. Theodoro, que sempre gostou de festas, tamb�m aproveita as voltinhas nas pistas para fazer contatos profissionais e acaba refor�ando parcerias de trabalho.
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V� nas baladas uma cena cada vez "mais homog�nea" e se define como membro da "tribo dos ecl�ticos". "Nunca gostei de ser padronizado, rotulado, em nada. Na profiss�o, no estilo, na vida."
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