� economista. Na coluna, tratou das grandes discuss�es econ�micas internacionais adaptadas ao contexto brasileiro.
Abertura econ�mica � inimiga do povo?
"Entreguismo" � termo antigo, usado para acusar aqueles que defendem uma maior abertura da economia de serem coniventes com o interesse de grandes empresas estrangeiras. Empresas que "roubam empregos", "inundam os mercados dom�sticos" retirando das empresas nacionais a fatia que lhes cabe.
O medo da abertura � onipresente no Brasil, mas n�o � temor unicamente nacional. Ele existe nos EUA com igual vigor.
Veja a discuss�o em torno da ousadia do presidente Obama, a promo��o do TPP –o Trans-Pacific Partnership–, o mega-acordo de com�rcio entre os EUA e 11 pa�ses asi�ticos. Considere a posi��o de alguns congressistas democratas, ferrenhos opositores do TPP por acharem que o acordo reduzir� os empregos norte-americanos, o TPP como um "grande inimigo do povo". H� muita carga ideol�gica no debate sobre a abertura comercial e pouco conhecimento dos fatos, tanto no Brasil quanto nos EUA.
Abertura ao com�rcio prejudica os empregos de um pa�s? Em certos setores e empresas que perderam a capacidade de competir internacionalmente, � evidente que a resposta � um redundante sim. Mas, se nem todos ganham com a abertura econ�mica, no longo prazo ela traz enormes benef�cios, como documenta a extensa literatura acad�mica sobre o tema e os in�meros estudos de caso.
Pense na Coreia, em Cingapura, em Taiwan. Considere a �ndia, a China. Todos esses pa�ses alcan�aram taxas invej�veis de crescimento por tempo prolongado gra�as ao seu maior engajamento internacional. O "entreguismo" que ati�a os argumentos protecionistas repercute a intensa preocupa��o com grupos espec�ficos que inevitavelmente haver�o de perder com a abertura econ�mica.
Protecionistas exortam os governos a impor barreiras comerciais para proteger os empregos, as fatias de mercado das empresas nacionais. Entretanto, o que se sabe � que, quando essas barreiras s�o impostas, o custo do protecionismo pode ser incrivelmente alto.
Quando um pa�s adota maiores tarifas de importa��o para "proteger" os produtos locais, como fez o Brasil em 2012 com a famosa lista de cem produtos que inclu�a de pneus a produtos sider�rgicos, de materiais de constru��o a utens�lios de cozinha, de pl�sticos a batatas –sim, batatas–, ele aumenta o custo das empresas que precisam desses insumos para produzir.
A importa��o mais cara de pneus prejudica as empresas do setor automotivo; a de material de constru��o, o setor imobili�rio; a de batatas..., bem, ao consumidor, as batatas. Se as empresas compram seus insumos no exterior a pre�os mais elevados, ter�o de repassar esses custos para o consumidor ou ir�o reduzir a produ��o.
O corte na produ��o haver� de afetar n�o apenas o investimento como tamb�m o emprego. Ou seja, o ciclo protecionista se encerra n�o com a prote��o do povo, mas com a perda de empregos, o aumento da infla��o, a queda dos investimentos.
Os argumentos contr�rios � abertura tendem a ser bem-sucedidos porque, se � f�cil enxergar onde empregos ser�o perdidos devido ao aumento das press�es competitivas, � dif�cil ver onde novos empregos surgiriam em raz�o do maior acesso �s novas tecnologias e aos novos mercados motivado pelo com�rcio.
Mas a realidade � que, ao aumentar os custos dos insumos, o protecionismo permite que firmas estrangeiras do mesmo ramo sejam mais competitivas do que os exportadores dom�sticos. Desse modo, o protecionismo pune o trabalhador.
H� ampla evid�ncia de que empresas exportadoras geralmente pagam sal�rios mais altos do que outras firmas (para o leitor interessado, h� extensa literatura em www.piie.com). Assim, o trabalhador que poderia encontrar um emprego bem remunerado numa ind�stria exportadora cuja tend�ncia seria de se expandir na aus�ncia de medidas que limitam o com�rcio encontrar� dificuldades devido ao protecionismo. Ou seja, os custos de fechar-se s�o especialmente perniciosos, pouco vis�veis para o povo.
A resposta, portanto, � que a abertura econ�mica n�o � "inimiga do povo". Ela tende a facilitar o futuro, enquanto o protecionismo tenta reconstruir o passado. Fica a cargo do leitor o julgamento sobre o que � melhor para o Brasil.
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