� economista. Na coluna, tratou das grandes discuss�es econ�micas internacionais adaptadas ao contexto brasileiro.
O labirinto do pr�prio umbigo
Certa vez, o escritor Eduardo Galeano, morto nesta semana, agradeceu ao jornalismo por "retir�-lo da contempla��o do labirinto de seu pr�prio umbigo". Na semana passada, escrevi que o investimento no Brasil est� esclerosado. Por qu�? Qui�� porque tenhamos ficado meditando sobre o labirinto abdominal por tempo demasiado.
A apatia do investimento brasileiro � frequentemente explicada pela contempla��o do pr�prio umbigo. Considere as explica��es mais comuns para a baixa taxa de investimento brasileira:
A carga tribut�ria excessiva, que onera as empresas e desestimula a forma��o de capital;
A infraestrutura deficiente –incluindo os problemas no setor de energia–, que aumenta os custos produtivos dos empres�rios;
A m�o de obra cara e, em geral, de baixa qualifica��o, que eleva esses custos;
O ambiente de neg�cios opaco, repleto de regras obsoletas, licenciamentos excessivos e obst�culos diversos;
O ambiente institucional que favorece certas empresas em detrimento de outras –as pol�ticas de cr�dito subsidiado do BNDES;
O "capitalismo de Estado" brasileiro, que trava as decis�es do setor privado. Por certo, todos esses motivos t�m seu papel. Mas, em comum, todos s�o motivos internos.
Breve passar de olhos ao redor revela que a lista de poss�veis impedimentos ao investimento no Brasil n�o � exclusividade nacional.
Muitos de nossos pares emergentes sofrem dos mesmos males –a infraestrutura deficiente, por exemplo, � pervasiva.
Qual o pa�s emergente que n�o sofre com um ambiente de neg�cios opaco? Em que lugar do mundo –no mundo emergente– o ambiente institucional � t�o melhor do que o brasileiro para justificar n�veis de investimento mais elevados por essa raz�o? O "capitalismo de Estado"? Vejam a China, que, mesmo engajada em processo de reformas e abertura, ainda cultiva pr�ticas intervencionistas.
A carga tribut�ria brasileira de fato � an�mala, compar�vel � de pa�ses desenvolvidos. Mas a carga tribut�ria brasileira tem ordem de grandeza semelhante � do M�xico, segunda maior economia da Am�rica Latina.
Ambas s�o superiores � do Chile, � da Col�mbia e � do Peru, todas ao redor de 20% do PIB.
No Brasil, os tributos somam cerca de 36% do PIB; no M�xico, uns 30%. Enquanto isso, segundo dados do FMI, a taxa de investimento do Brasil � de uns 19% do PIB, com perspectiva de queda; a do M�xico, de 22%, com perspectiva de alta.
Se as raz�es tipicamente citadas para explicar o baixo n�vel de investimentos no Brasil n�o s�o t�o diferentes das condi��es vistas em outros pa�ses emergentes, inclusive na pr�pria Am�rica Latina, qual seria o motivo que n�o pertence � lista, tampouco remete � s�ndrome do umbigo?
Eis uma hip�tese: a abertura econ�mica. N�o � mist�rio que o Brasil seja uma das economias mais fechadas do planeta, de acordo com qualquer m�trica que se utilize para medi-la. N�o por acaso, essa � tamb�m a diferen�a mais marcante entre o Brasil e seus pares emergentes: feitas as ressalvas para as Venezuelas do planeta, o Brasil � mais fechado do que o M�xico, do que a Col�mbia, do que o Peru, do que o Chile –os membros da Alian�a do Pac�fico, que crescem mais do que n�s. O Brasil � tamb�m mais fechado do que a �ndia, do que a China, do que a Turquia, do que a �frica do Sul.
H� vasta literatura acad�mica e emp�rica sobre a rela��o entre investimento e abertura. Diversos artigos mostram que, quanto mais aberta ao com�rcio internacional � uma economia, mais investimento direto estrangeiro recebe. Quanto mais investimento direto estrangeiro recebe, maior � a disponibilidade de recursos para o investimento dom�stico.
A concorr�ncia tamb�m � fundamental: quanto mais aberta � uma economia, mais competi��o haver� de existir entre as firmas locais e as estrangeiras, gerando est�mulos � inova��o e ao investimento por parte das empresas dom�sticas.
Infelizmente, no Brasil, ainda n�o estamos suficientemente abertos para refletir sobre esses temas.
O medo de perder mercado e a velha ladainha do "entreguismo" ainda dominam o debate nacional. Chega de contemplar o umbigo labir�ntico, n�o?
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