São muitos os obstáculos enfrentados por quem tem a ideia de uma série e deseja vê-la exibida em uma plataforma de streaming. É um processo que dura anos e, mesmo quando dá certo, pode causar enorme frustração, porque não basta estrear na Netflix ou na HBO. O espectador precisa encontrá-la, e nem sempre isso ocorre.
A oferta de conteúdos é feita com base em algoritmos que rastreiam seus hábitos, além de obedecer aos interesses de cada plataforma. Não é por outro motivo que as empresas do ramo incentivam a criação de páginas iniciais individualizadas.
Nos debates sobre a regulamentação das plataformas este tema está sendo tratado. São as chamadas regras de proeminência. Tanto quanto a exigência de cotas, entende-se que é necessário estabelecer mecanismos capazes de dar visibilidade às produções nacionais.
As regras de proeminência não têm o poder (ainda bem) de obrigar ninguém a assistir a determinado conteúdo brasileiro, mas podem driblar o algoritmo e torná-lo mais visível.
Faço essa longa introdução para falar de duas séries brasileiras recentes, "A História Delas" e "Últimas Férias", ambas do Star+. Acredito que tiveram menos repercussão do que mereciam. E acho que isso ocorreu, em parte, porque tiveram pouca proeminência na plataforma.
Como informa o título, um pouco óbvio, "A História Delas" é uma trama protagonizada por mulheres. Isabel, vivida por Letícia Spiller, é mulher de um empresário picareta preso pela Polícia Federal. Com tornozeleira e os bens bloqueados, ela se vê obrigada a morar no único imóvel que possui em seu nome, uma casinha na Vila Manhattan, na periferia de São Paulo.
A casa, na verdade, pertence a Marta, interpretada por Cris Vianna. Ex-empregada de Isabel, ela largou o emprego para criar um negócio caseiro de yakisoba, no espaço onde vive com a filha Ana Jasmim, papel de Emma Araújo, e uma netinha. A chegada de Isabel e de sua filha, Ana Rosa, estudante de psicologia, vivida por Bia Arantes, é o ponto de partida da série.
Ao longo de oito episódios, com direção de Pablo Uranga e roteiro de Mariana Trench Bastos, vamos ver os desencontros destas quatro mulheres, muito diferentes entre si, mas que precisam achar pontos de contato para superar dificuldades.
Entre conflitos de classe e choques de geração aparentemente insuperáveis, as quatro vão passar por processos pessoais de entendimento das diferenças e de que, em algumas situações, precisam ser mais generosas em relação às outras.
Como em "Big Little Lies", o quarteto feminino de "A História Delas" se dá conta que há uma questão de gênero incontornável, que aflige a todas e só se resolverá com a união delas.
Ainda que peque por didatismo, a série é bem-sucedida no retrato que faz dessas mulheres, mantendo até o fim o interesse pelo desenvolvimento da trama.
Menos original, mas também muito bem realizada, "As Últimas Férias" é um drama protagonizado por sete adolescentes, que se reúnem numa ilha para festejar o fim do ciclo colegial.
As relações entre eles, bem costurada pelo roteiro, se mostram complexas e não previsíveis, pondo em pauta questões como violência sexual, consumo exagerado de álcool e dilemas sobre a sexualidade. Lara Tremouroux e Stella Rabelo se destacam no elenco da série muito bem dirigida por Daniel Lieff.
Faço uma pausa em janeiro e retorno com a coluna em fevereiro. Um feliz Ano-Novo aos leitores.
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