A política externa brasileira foi capturada há muitos anos pelo lobby das “campeãs”, aqueles conglomerados brasileiros que receberam crédito subsidiado e apoio diplomático para expandir suas operações mundo afora.
Hoje, o lobby enfrenta sua maior crise e a política que defende entrou em falência. Com as revelações sobre o tamanho da falcatrua, todos perderam: o governo brasileiro, seus parceiros estrangeiros e as próprias multinacionais que se pretendia turbinar.
Só que o lobby é forte e não desaparecerá. Ele não se limita aos conglomerados empresariais que receberam o subsídio para atuar no exterior, mas inclui gente na burocracia federal, nos bancos públicos, na universidade e na imprensa.
A força do lobby será comprovada mais uma vez em outubro, quando nenhum candidato à Presidência tocará no assunto.
Tal situação impõe uma pergunta: é possível fazer algo para quebrar a dominância desse grupo de interesse sobre a política externa brasileira?
Para alguns, o financiamento público de campanha ajudará a mitigar o problema, pois reduzirá o poder das multinacionais sobre o governo de plantão. Ocorre que os mecanismos pelos quais o lobby exerce influência vão muito além do financiamento de campanhas.
Tampouco será suficiente a pressão da opinião pública, da sociedade civil ou a exposição constante dos escândalos na imprensa. O assunto não mobiliza o eleitorado e, ao contrário de quem protesta, o lobby tem disciplina e resiliência porque depende da manutenção desse esquema para sobreviver.
No entanto, há dois processos novos em andamento que podem fazer uma diferença.
O primeiro é o trabalho de jornalistas e acadêmicos num conjunto de livros sobre os bastidores da diplomacia das “campeãs”. Com esse material em mãos, será possível melhorar muito a qualidade da conversa pública brasileira. Não será uma mudança radical, mas se trata de uma condição necessária para acabar com a hegemonia intelectual nos círculos das classes governantes de que o lobby goza até os dias de hoje.
O objetivo desses trabalhos não é demonizar as multinacionais. Antes, trata-se de abrir espaço para uma conversa pública bem informada sobre como se pode internacionalizar o capital brasileiro direito.
O segundo processo está ocorrendo dentro do próprio lobby: pela primeira vez, há briga entre seus membros. A Odebrecht, por exemplo, já percebeu que há risco de as outras empreiteiras não fazerem tantas reformas quanto ela própria. E se ela pagar essa conta sozinha, estará perdida. Essa briga acaba de começar.
Pela primeira vez em décadas, existe uma chance de o Brasil redirecionar a agenda do lobby que mais influencia sua atuação externa. É notícia boa.
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