Manchada pelas ameaças de atentado contra políticos e pelo ataque a uma sinagoga que causou 11 mortos, a campanha para as eleições legislativas de meio mandato, localmente apelidadas de “midterms”, revela a tensão que paira sobre a sociedade americana.
Muito mais do que uma mera disputa por algumas cadeiras no Congresso, a eleição tem o poder de definir o rumo do país nos próximos dois anos.
Uma eventual mudança na relação de forças na Câmara e no Senado, atualmente sob controle dos republicanos, pode levar a uma derrocada do atual governo.
Embalados pela vitória, os democratas teriam novos meios institucionais para apoiar as investigações sobre a colusão entre agentes russos e a equipe de Donald Trump durante a campanha de 2016.
O processo pode, em tese, culminar em um pedido de impeachment.
Trump, porém, chega ao pleito em posição de força. A inquestionável popularidade da presidente deriva da bonança econômica lançada pelo seu predecessor Barack Obama e prolongada pela sua vasta reforma fiscal do ano passado.
A recente indicação do novo juiz da Suprema Corte, Brett Kavanaugh, consolidou o seu apoio entre o eleitorado mais conservador.
As “midterms” também permitirão avaliar as chances dos democratas na próxima eleição presidencial.
Desmobilizados por Obama, que nunca se mostrou interessado pelo jogo sucessório, e intimidados por Hillary Clinton, uma nova geração aproveitou o cenário pós-eleitoral de terra arrasada para assumir as rédeas do partido.
Muita visibilidade tem sido acordada aos novos representantes da ala mais à esquerda dos democratas, apadrinhada por Bernie Sanders, que podem surpreender em estados acostumados a eleger governadores e senadores conservadores, como o Texas ou a Flórida.
Um sinal de que as novas dinâmicas geográficas, como a migração de jovens dos litorais do Atlântico e do Pacífico em busca de uma melhor qualidade de vida nas regiões centrais, estão gradualmente transformando o mapa eleitoral.
Isto posto, é importante ressaltar que a renovação do partido também tem sido conduzida por políticos próximos do centro.
Não por acaso, uma das suas principais referências, o antigo vice-presidente Joe Biden, continua sendo citado como um presidenciável.
O que realmente caracteriza o Partido Democrata na era Trump é a capacidade de romper com a hegemonia centralizadora dos anos Clinton e dar protagonismo equivalente a representantes de diferentes ideologias do campo progressista.
Uma derrota nas “midterms” provavelmente levaria a um encerramento dessa interessante experiência de renovação política.
Um eventual bom desempenho dos democratas pode reforçar, em vez de atenuar, a agenda conservadora da política externa.
Sem o controle do Congresso, Trump deve dobrar a aposta nas relações internacionais, área onde tem poderes quase imperiais, para manter a sua base mobilizada.
Exausta, a comunidade internacional deve se preparar para mais atitudes polêmicas por parte de Trump nos próximos anos.
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