Pioneira na internet no Brasil, liderou a equipe que criou a FolhaWeb em julho de 1995 e foi diretora de conte�do do UOL de 1996 a 2011.
Transi��o
Olho as enormes estantes em volta de mim e penso na dureza deste momento de transi��o. Minha pr�xima casa talvez n�o tenha nem metade dessas prateleiras e desses livros. Temo sentir falta deles. Cresci numa casa com estantes generosas e muitas enciclop�dias ilustradas para matar as tardes de t�dio. Minha filha adolescente cresce cercada de fios e aparelhos que apitam, imersa na rede. Pergunto a ela se pensa que a casa dela no futuro ter� grandes estantes. Ela diz que n�o sabe, mas avisa que prefere livros em papel ("gosto de segurar"), ainda que invista muito tempo na comunica��o eletr�nica.
Talvez eu n�o devesse comparar essas coisas. A gente ficou com medo da rua e tranca as crian�as em casa, como se isso fosse saud�vel. Elas saem pelas janelas da internet.
Fiquei pensando que fa�o parte de uma gera��o de transi��o: nasci anal�gica, cresci el�trica e amadureci eletr�nica. Mas isso � bobagem. Minha gera��o ensinou os pais a programar videocassete e usar controle remoto antes de ensinar a usar o computador e o e-mail. E a gera��o dos meus pais deve ter ensinado a gera��o dos meus av�s a fazer outras coisas. Pensando bem, todas as gera��es s�o de transi��o. Exceto a �ltima, a derradeira, a que estiver por aqui quando o mundo acabar. Um dia, quando a humanidade acabar, esse mundo tecnol�gico n�o vai mais ter import�ncia nenhuma. Tanto esfor�o para nada. Tanta informa��o para nada. Puf. Baubau. Acabou.
Cartunista Alpino | ||
Tanto sat�lite, tanto Google e tanto Google Earth e a gente ainda perde esse tempo todo para tentar descobrir que fim levou o avi�o que saiu da Mal�sia com 239 pessoas em dire��o a Pequim e nunca chegou. Essa � a nossa pequenez. Esse � o vasto mundo. Mais vasto ainda o nosso cora��o.
Onde foram parar os discos em 78 rota��es que herdei? E as fitas de rolo com as entrevistas que meu pai fazia com os filhos? Onde guardei o videoteipe do meu beb�? O que ser� de todas as m�sicas que baixei em tantos formatos e salvei em tantos aparelhos que j� n�o existem mais? E as fotos, em tantos suportes e padr�es? Para onde v�o todas as fotos depois que o Facebook e o Instagram acabarem?
Abandonamos as indexa��es manuais e os arquivos de a�o, com as suas infinitas gavetinhas, pelos arquivos eletr�nicos e sua mem�ria infinita, onde perdemos todas as coisas e encontramos outras por acaso. E agora voltamos a precisar de indexa��es manuais, tagueamentos, etiquetas e zooms para encontrar as milhares de coisas que acumulamos sem pensar, por pregui�a ou por desleixo, porque custoso � selecionar.
Quando acabar a luz, a porta eletr�nica pode n�o abrir. Mas algu�m j� pensou numa solu��o. Algu�m j� criou mais uma start-up. Algu�m j� lucrou com a venda. E tr�s-quartos deixam os investidores a ver navios, conforme pesquisa de Shinkhar Ghosh, conferencista s�nior da Harvard Business School. Sem fracasso n�o h� neg�cio.
Nos Estados Unidos, a taxa de fracasso das empresas � de 25% no primeiro ano de vida, 55% no quinto ano e 71% em dez anos, segundo o Statistic Brain (www.statisticbrain.com). A principal raz�o do fracasso? Incompet�ncia (46%). � essa a nossa inspira��o.
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