Se você está acompanhando o torneio de tênis de Wimbledon, viu que uma das novidades desta edição é o retorno de russos e belarussos, banidos no ano passado por causa da guerra na Ucrânia. Eles estão competindo como neutros e precisaram se comprometer a não exibir nenhum símbolo de apoio aos governos de Vladimir Putin e Aleksandr Lukachenko como, por exemplo, bandeiras no uniforme. Isso vale também para os espectadores.
Só para colocar em contexto, o Reino Unido é forte aliado da Ucrânia e já impôs diversas sanções aos russos em território britânico. Notícias da guerra estão diariamente nos jornais, quem mora no Reino Unido sente os efeitos econômicos no custo de vida causados pela invasão russa à Ucrânia, com apoio de Belarus. Wimbledon também fez questão de se posicionar, proibindo a participação em 2022 e a permitindo com restrições em 2023.
Os atletas ucranianos, muitos com amigos e familiares ainda sofrendo ataques de mísseis russos, acreditam que o esporte está falhando com eles ao deixar que nomes como Veronika Kudermetova voltem às quadras. A russa é patrocinada por uma empresa de óleo e gás de seu país que é acusada de colaborar com a guerra, fornecendo combustível e pneus. A tenista removeu a logomarca da empresa de seu uniforme em Wimbledon.
A ucraniana Elina Svitolina, ativa na defesa de seu país e contra a guerra, decidiu que não aperta mais a mão de tenistas de Rússia ou Belarus na hora do cumprimento na rede ao fim das partidas. Foi assim ao vencer Victoria Azarenka nas oitavas de final, causando uma saia justa.
Assim que a partida acabou, Azarenka, já sabendo que a rival não apertaria sua mão, nem foi à rede. O público não entendeu e vaiou a belarussa, pensando tratar-se de um gesto antidesportivo. Questionada na entrevista coletiva, Azarenka disse que estava respeitando a vontade de Svitolina e que o foco deveria ser no tênis, não em "uma plateia de bêbados vaiando".
Em março do ano passado, dias depois do início da guerra, escrevi uma coluna dizendo que achava certo punir atletas russos, em um momento em que muitos países e federações estavam banindo competidores de Rússia e Belarus.
Reproduzo um trecho: "Importa porque regimes autoritários usam o esporte como ferramenta de poder para melhorar a própria imagem. Importa porque dar a um país o privilégio de sediar eventos internacionais gera dinheiro e prestígio. Importa porque falar sobre o assunto fora da esfera política permite que pessoas vejam que há algo errado e façam questionamentos".
É um assunto complexo: eles devem pagar pelos erros de seus governantes? Um ano e quatro meses depois daquela coluna, continuo defendendo que a Rússia seja proibida de sediar eventos esportivos, e tenho uma posição um pouco mais branda com relação à participação de atletas desses países em torneios. Muitos não têm culpa, são abertamente contra a guerra e nem moram mais na Rússia ou em Belarus. Ao mesmo tempo, entendo e apoio a posição de tenistas com Svitolina.
Na final feminina de Wimbledon, neste fim de semana, o foco será apenas no esporte, já que o confronto é entre Ons Jabeur, da Tunísia, e Markéta Vondrousová, da República Tcheca. Duas potenciais finalistas, Svitolina e Aryna Sabalenka, de Belarus, pararam nas semifinais. Mas, pode ter certeza, a polêmica entre russos, belarussos e ucranianos só deu uma pausa. No máximo, até o próximo torneio.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.