Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Descrição de chapéu basquete futebol americano

É hora de punir jogadores que não se vacinam?

Atletas americanos têm restrições, enquanto futebol inglês prefere apenas tentar educar

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Nas décadas de 1980 e 1990, o pesquisador Bob Goldman perguntou a atletas se eles tomariam uma droga que os daria a glória esportiva, mas os mataria em cinco anos. Metade disse que sim. O estudo conhecido como dilema de Goldman já foi repetido e até criticado, mas deixou uma mensagem: para alguns competidores o importante é o sucesso hoje, mesmo que a consequência amanhã seja a morte.

São situações diferentes, mas há certo paralelo com a baixa imunização contra a Covid-19 no futebol profissional na Inglaterra. Como os atletas de Goldman, alguns jogadores só se preocupam com o presente. Quase 80% da população britânica acima de 12 anos já tomou as duas doses. Mas, segundo a BBC, só 7 dos 20 clubes da Premier League têm mais de 50% da equipe completamente vacinada.

Uma reportagem do jornal The Telegraph listou alguns motivos: quem não quer se vacinar acha que por ser jovem e saudável não vai ter sintomas graves; desinformação; preguiça de ir à clínica; saber que não será punido pelo clube. Se a vacina der efeitos colaterais hoje e eu perder um jogo amanhã, para que arriscar?

O atacante Callum Robinson, do West Bromwich, pegou Covid-19 duas vezes e não quer se vacinar - Tim Keeton - 16.mai.21/Reuters

Poucos dizem publicamente que se vacinaram. O técnico da seleção inglesa, Gareth Southgate, disse que certos jogadores tendem a acreditar em teorias da conspiração nas redes sociais. O treinador do Liverpool, Jürgen Klopp, comparou não se vacinar a beber álcool e dirigir. “Eu não tomo a vacina apenas para me proteger, eu tomo para proteger as pessoas ao meu redor. Não entendo como isso pode ser uma limitação de liberdade.”

Em julho, o goleiro do Newcastle, Karl Darlow, foi internado com Covid, perdeu peso, sentiu cansaço extremo por semanas e medo. Recuperou-se e convenceu dois companheiros de clube a tomarem a vacina. Mason Mount, do Chelsea, teve que se isolar durante a Eurocopa e ficou fora de partidas da seleção inglesa por ter tido contato próximo com um jogador que teve teste positivo. Decidiu se vacinar.

Callum Robinson, do West Brom, pegou Covid duas vezes e mesmo assim não vai se imunizar: “É a minha escolha hoje”. Como se fosse simples assim.

É compreensível um atleta se preocupar com o que coloca em seu corpo. É preciso distinguir medo de egoísmo e saber que algumas pessoas, por motivos médicos por exemplo, não podem se imunizar.

Mas, mesmo que o risco de óbito em um jovem saudável seja menor, quem se vacina tem menos risco de transmitir o vírus e matar alguém. Será que Robinson entende que a ciência que ele rejeita é a mesma que melhora a forma como ele treina, que o reabilita quando se machuca, que ajudou a criar protocolos para que o trabalho dele voltasse na pandemia enquanto milhões na Inglaterra estavam em isolamento, que é graças aos cientistas que o público, vacinado e testado, retornou aos estádios para torcer por ele?

Nos Estados Unidos, jogadores da NFL que não se imunizam têm mais restrições e os da NBA podem perder partidas e parte do salário. No Aberto da Austrália, haverá tratamento diferente para tenistas não vacinados. Atletas que não tomaram as duas doses terão que fazer 21 dias de quarentena antes da Olimpíada de Inverno de Pequim.

O armador Kyrie Irving se recusa a tomar vacina conta o coronavírus e está afastado do Brooklyn Nets na NBA - Sarah Stier - 1º.jan.20/AFP

O recado é: vacinar-se é uma escolha, e ninguém vai o obrigar, mas esteja preparado para as consequências de não ajudar em um esforço coletivo. Se atletas do futebol inglês que desdenham da vacina vissem que a vida deles ficou mais difícil e restrita, talvez, apenas talvez, começassem a pensar de maneira diferente.

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