Assim como o planeta Terra está cobrando os abusos cometidos por séculos, com tsunamis, vendavais, enchentes, secas e temperaturas extremas, a fatura da concentração de renda, dos baixos salários e da falta de empregos formais vem na forma de consumo anêmico e de economia que patina e não decola. Novamente, o Natal passará ao largo dos milhões de lares mais pobres e das mais de 200 mil pessoas em situação de rua no Brasil.
A ceia de Natal está 8,9% mais cara neste ano em relação a 2022, revelou a Abras (Associação Brasileira de Supermercados), com custo médio de R$ 321,13. A renda média do brasileiro fica em torno de R$ 3.000. Ou seja, apenas os produtos da cesta de Natal equivalem a quase 11% desse valor.
Mesmo com o Desenrola Brasil (programa de renegociação das dívidas prorrogado pelo governo federal até março de 2024) e as reduções na taxa Selic –básica de juros da economia–, três em cada dez famílias brasileiras não estão com as contas em dia. Os conselhos são os de sempre: fazer orçamento, não gastar mais do que ganha, cortar despesas supérfluas etc. Mas que gastos são supérfluos para quem ganha até R$ 3.000 –pouco mais de dois salários mínimos– e tem de bancar boletos relativos a moradia, alimentação, saúde, vestuário e transporte?
É óbvio que tudo isso não cabe nessa renda média, por mais que se economize. Então, o que as pessoas fazem é usar o cartão de crédito como se fosse dinheiro extra, até que se tornem inadimplentes.
Quando o país dos baixos salários tem uma carga tributária média superior a 33%, a situação fica ainda pior. Além disso, não são somente as pessoas de classe média ou alta que têm desejo de consumir. Todos desejam, ainda que sem as mínimas condições socioeconômicas.
A Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) informou que a venda de celulares irregulares deve ficar em torno de 21% do mercado neste quarto trimestre de 2023. No ano passado, o contrabando em geral provocou perdas de R$ 410 bilhões ao país –R$ 280,8 bilhões que o comércio deixou de vender e R$ 129,2 bilhões em impostos não arrecadados, apurou levantamento do FNCP (Fórum Nacional contra a Pirataria e Ilegalidade).
Ainda não se pode assegurar que a reforma tributária vá melhorar esse quadro. Depende de como ficará o texto final e de quantos setores terão tributação reduzida.
Não vejo, sinceramente, grandes esforços nacionais, de forma mais ampla e organizada, para melhorar a renda média dos brasileiros. Muito menos para ampliar o percentual de trabalhadores com emprego formal. Então, parece que ainda escreveremos muitos textos sobre a economia que não cresce, o emprego que não aparece e o salário que entristece.
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