Maria Inês Dolci

Advogada especializada na área da defesa do consumidor.

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Maria Inês Dolci
Descrição de chapéu Folhajus inflação

Consumidor é realista, não pessimista

Com baixa renda e classe média emparedadas, o dinheiro mal dá para despesas básicas

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O aumento do pessimismo de empresários e consumidores –lamentável para o país, diga-se– é o famoso segredo de polichinelo, ou seja, que é de conhecimento geral. A economia brasileira, os empregos, a renda e os investimentos em educação, ciência e tecnologia foram destroçados. Esperavam o quê? Confiança de que os mesmos artífices do naufrágio salvassem o Titanic?

A esperança era que o aumento do índice de vacinados contra a Covid-19 fizesse a vida voltar ao normal, ou quase. E que isso incluísse o retorno às compras, que faria a economia andar. Há vacinas, porém muitas pessoas não apareceram nos postos para tomar a segunda e terceira doses. Os otimistas também se esqueceram –ou fingiram se esquecer– de que a maioria das vagas de trabalho que surgem são precárias, informais e pagam pouco.

Corredor com vários clientes, alguns usando máscara de proteção, no Hipermercado Zaffari do Bourbon Shopping São Paulo
Corredor de supermercado de São Paulo durante a pandemia - Mathilde Missioneiro - 08.abr.2020/Folhapress

E mais: o retorno da inflação generalizada espanta os clientes. A cada semana os produtos estão mais caros, e isso funciona como um freio do consumo. Outro aspecto importante são as ameaças digitais, como o ataque hacker ao site das Lojas Americanas. Isso obriga os compradores a checar com muita atenção os sites, e a investir em antivírus mais completos e sofisticados, ou seja, mais caros.

Sem consumidores não há consumo. Com baixa renda e classe média emparedadas, o dinheiro mal dá para as despesas básicas, muitas delas de preços administrados, como energia elétrica, gás de cozinha e combustíveis.

Qual a mágica esperada para que a economia melhorasse? Diziam que a saída seriam as privatizações. Não privatizaram. A correção da tabela do Imposto de Renda. Não corrigiram. O aumento da faixa de isenção. Não aumentaram. A geração de empregos formais. Não aconteceu nem perto do necessário.

Gambiarras eleitorais, como a tentativa de reduzir artificialmente os preços dos combustíveis, já sabemos como terminam, e quem pagará a conta (nós).

Os muito pobres são obrigados a optar: pagam água, luz e IPTU em dia, ou comem. Se decidem comer, há outro dilema: como cozinhar, se o GLP custa quase 10% do salário mínimo? Mais da metade dos domicílios brasileiros estão nas classes D e E, com renda de até R$ 2,8 mil.

A situação só não está pior porque quase quatro milhões se tornaram microempresários ou microempreendedores individuais em 2021. Mas estes negócios enfrentam dificuldades, como retração do consumo, juros elevados, burocracia e falta de uma diretriz econômica clara para o país.

Uma das várias razões para esse cenário, que impede o consumidor de sonhar com novos produtos e serviços, está no desempenho da indústria. O mercado prevê um chocho crescimento ou até estagnação do PIB (Produto Interno Bruto) este ano. E a indústria, responsável por mais de 20% da soma das riquezas do Brasil, deverá puxar os números para baixo.

O que nos resta é fazer orçamento, comparar preços, fugir do rotativo do cartão de crédito, economizar energia elétrica e combustíveis, e escolher muito bem nossos representantes políticos. Para milhões de brasileiros, a saída tem sido trocar produtos de marca premium por similares mais baratos. E para milhões de outros, incluir vísceras e ossos na alimentação diária.

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