Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde � professor-adjunto de rela��es internacionais e pol�ticas p�blicas. Escreve �s quartas.
2017, o ano em que a China se firmou como superpot�ncia
A China, goste-se ou n�o, continua a crescer muito forte. N�o mais a taxas de 12%, como h� 15 anos, mas alguma coisa entre 6,5% e 7% a partir de uma base de 13 trilh�es de d�lares.
De acordo com c�lculos do FMI, que �s vezes mede o PIB dos pa�ses pelo crit�rio de poder de paridade de compra, a China j� � a maior economia do mundo, o que significa um eclipse t�o importante nas rela��es econ�micas internacionais que a �ltima vez que a gente tinha observado alguma coisa semelhante foi 1871, quando os EUA ultrapassaram o Reino Unido.
AFP - 6.dez.2017 | ||
Foto a�rea mostra sistema de carregamento autom�tico de cont�ineres em navios no porto de Yangshan |
Neste 2017 que termina, refor�a-se uma outra constata��o: os Estados Unidos n�o s�o mais hegem�nicos. S�o protagonistas, mas ostentam tal condi��o ladeados pela China. Tem gente que brinca que n�o se pode mais falar em "Brics", mas em mais 'C + bris".
Os chineses est�o tomando muito cuidado para que sua indiscut�vel categoria de superpot�ncia n�o lhes suba � cabe�a. Buscam n�o demonstrar estrelismo, sem tentar impor lideran�a, por exemplo, naquelas institui��es que foram criadas pelos Brics.
Fazem isso de maneira muito sutil. � o caso do Novo Banco do Desenvolvimento (NBD) e tamb�m de outras institui��es onde os chineses s�o o principal ator, como o Banco Asi�tico de Investimento em Infraestrutura.
Algo que nos ajuda a explicar essa postura chinesa est� presente numa frase famosa do Deng Xiaoping, grande arquiteto dessa nova fase da China h� 40 anos: "hide your strengths, bite the bullet, gain time". Ou seja, esconda suas for�as, engula sapos, aceite passar por dificuldades, ganhe tempo.
Quer dizer, os chineses est�o em uma estrat�gia de longu�ssimo prazo, em que a ascens�o precisa ser vista mais como natural do que imposta. Eles gostam muitas vezes de aparecer como pa�s em desenvolvimento, n�o se desvinculando, por exemplo, na ONU, da agenda dos africanos ou da �sia mais pobre.
Quanto mais pa�ses possam se vincular institucionalmente a processos em institui��es pluri ou multilaterais onde a lideran�a chinesa � potente, isso � melhor para a Pequim. Isso � especialmente interessante debaixo do guarda-chuva do NBD, pois isso d� � China um ve�culo que n�o tem as mesmas amarras geogr�ficas a que se prende o Banco Asi�tico de Infraestrutura e Investimento.
O Banco Asi�tico s� vai fazer investimentos na �sia, ao passo que o Novo Banco de Desenvolvimento pode investir em projetos na Am�rica Latina, na �frica, em outras localidades, o que d� � China n�o s� maior espa�o de manobra, mas tamb�m uma certa indire��o que eles tanto apreciam em sua cultura como na pol�tica externa.
O que essa China superpot�ncia quer com o Brasil? Bem, o mais correto � notar que as rela��es econ�micas bilaterais passam por um momento inercial.
Do ponto de vista comercial, continua muito parecida com aquela que os pa�ses latino-americanos mantinham com a Inglaterra no s�culo 19. Ou seja, por uma lado, grande exportadores de mat�rias-primas; por outro, um exportador de bens manufaturados de mais valor agregado.
Isso deve continuar. A China tem enormes preocupa��es com seguran�a alimentar, precisa mais ainda das commodities minerais para seus projetos de infraestrutura.
O que seguramente foge da in�rcia � aumento percept�vel do investimento chin�s no Brasil, sobretudo na forma de aquisi��o de bens, como as chamadas "fus�es e aquisi��es".
Para empresas chinesas que quiseram ter uma pegada global durante um per�odo recente, o momento para a investida � agora. E os chineses v�o entrar com tudo tamb�m nessa din�mica de privatiza��es e concess�es, sobretudo quando ficar claro qual ser� o cen�rio pol�tico brasileiro a partir das elei��es de 2018.
Eles est�o com o dedo no gatilho para mais investimentos no Brasil em v�rias �reas, praticamente todo o segmento da infraestrutura est� sendo examinado pelos chineses.
No �mbito da geopol�tica global, n�o � correta a interpreta��o de que a consagra��o de Xi Jinping na China em 2017 simplesmente responde � chegada ao poder de Donald Trump.
Mesmo se Hillary Clinton fosse eleita presidente, todos teriam de reconhecer que a China se consolida como uma das duas maiores pot�ncias do mundo —e a hipertrofia do poder chin�s � percept�vel em diversas �reas das rela��es internacionais.
A China est� aumentando muito sua fun��o como fonte irradiadora de capital e de empr�stimos externos. Pequim tamb�m expande seus investimentos em 12% ao ano na �rea de defesa.
Tudo isso independe de quem est� no poder nos EUA. Agora, � claro, isso foi ainda mais real�ado pelo fato de que essa ascens�o chinesa se deu contemporaneamente � chegada � Casa Branca de um presidente protecionista, avesso � globaliza��o.
Se a globaliza��o foi o grande trampolim que permitiu essa prosperidade da China e o livre com�rcio supostamente � a melhor sa�da para os problemas internacionais, os EUA entraram na contram�o de tend�ncia. Nesse empalidecimento da hegemonia norte-americana, 2017 foi marco definitivo de que a China tomou assento � mesa dos que comandam o mundo.
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