Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde � professor-adjunto de rela��es internacionais e pol�ticas p�blicas. Escreve �s quartas.
Atentado em Nova York tira foco do esc�ndalo Trump-R�ssia
A semana come�ou tensa na Casa Branca.
Na segunda (30), em lance pouco antecipado pela m�dia jornal�stica, desencadeou-se novo ciclo potencialmente fragment�rio a Donald Trump resultante da investiga��o sobre influ�ncia russa durante a corrida presidencial ano passado nos EUA.
Na ter�a (31), a poucas centenas de metros do epicentro do Onze de Setembro, oito pessoas morreram e muitas outras foram feridas num atropelamento terrorista � imagem do que j� se viu em Nice, Londres e Barcelona.
Ambos acontecimentos s�o em princ�pio negativos para Trump. Por um lado, agravou-se rapidamente a situa��o de tr�s personagens de sua campanha. Por outro, o ataque em Nova York evidencia qu�o ineficaz � a ret�rica trumpiana de "America Safe" numa sociedade aberta, em que a liberdade de ir e vir � sagrada, e a arma � algo t�o rudimentarmente dispon�vel quanto um ve�culo automotor.
Kena Betancur / AFP | ||
Policiais acorrem ao local onde terrorista atropelou e matou oito pessoas |
De maneira fortuita, no entanto, o atentado ajuda conjunturalmente os interesses de Trump. A situa��o de seus que sofrem acusa��es da justi�a � grave. O mais conhecido deles, Paul Manafort, e seu associado direto, Rick Gates, s�o mantidos em pris�o domiciliar. Ambos t�m longo hist�rico de consultoria pol�tica na �sia, �frica e, sobretudo no ex-espa�o sovi�tico.
A principal fonte de renda da consultoria desde sua funda��o teria sido a presta��o de servi�os junto ao ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovich, destitu�do em 2014 na sequ�ncia dos famosos protestos da Pra�a Maidan. A comunidade de intelig�ncia e pol�tica externa dos EUA v� Yanukovich como "marionete" de Putin.
Ambos estariam envolvidos em lavagem de dinheiro e outras irregularidades financeiras - o que lhes valeu a aludida pris�o. Manafort (com Gates como assessor) foi nada menos que presidente da campanha de Trump � Casa Branca durante alguns meses, per�odo em que, por diversas ocasi�es, Trump e Putin trocaram demonstra��es de empatia.
A acusa��o que se lan�a sobre Manafort e Gates - e certamente a outros integrantes da campanha republicana e do c�rculo �ntimo de Trump - � resultado de investiga��o liderada por Robert Mueller.
Este, que tem no curr�culo o cargo de ex-diretor do FBI, foi nomeado em maio passado pelo Departamento de Justi�a para exercer o cargo de "conselheiro especial" autorizado a examinar crimes federais, em particular os relacionados a evental influ�ncia russa na elei��o dos EUA.
Na mesma segunda (30), Mueller anunciou que um outro assessor de pol�tica externa da campanha presidencial de Trump, George Papadopoulos, declarou-se culpado de mentir ao FBI e engajou-se num acordo de colabora��o premiada. Em v�rios momentos durante a campanha presidencial, Papadopoulos teria buscado formas de coopera��o com fontes russas ou agindo em nome dos russos para abalar a candidatura de Hillary Clinton.
Tudo isso carrega potencial avassalador, sobretudo se atingir membros da fam�lia Trump, como seu filho Donald Jr., ou seu genro, Jared Kushner, encarregado do aconselhamento em assuntos tanto variados quanto complexos, como paz no Oriente M�dio ou rela��es com a China.
Na noite da �ltima segunda, Anderson Cooper, �ncora da rede de televis�o CNN, perguntava a David Gergen, professor de Harvard e ex-assessor nas presid�ncias de Nixon, Ford, Reagan e Clinton, qu�o s�ria se afigurava a situa��o para a Casa Branca de Trump. Sua resposta: "o quadro � muito delicado, mas n�o � Watergate". Alguns nas redes sociais brincaram: "n�o � Watergate, � mais grave, pois envolve a R�ssia, pot�ncia estrangeira hostil."
O atentado em Manhattan tirou no entanto �nfase da pesada aten��o que a opini�o p�blica nos EUA come�ava a dedicar ao "Russiagate". N�o ser� surpresa alguma se nos pr�ximos dias toda a t�nica da atua��o de Trump se voltar ao ataque em NY. Nada � mais instrumental nesse momento a Trump do que multiplicar focos de distra��o.
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