Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde � professor-adjunto de rela��es internacionais e pol�ticas p�blicas. Escreve �s quartas.
Congresso do PC chin�s d� a Xi Jinping sua 'tr�plice coroa'
Aly Song - 26.set.2017/Reuters | ||
Cartaz traz mensagem do presidente chin�s, Xi Jinping, a favor do Partido Comunista em Xangai |
Nesta quarta-feira (18), tem in�cio em Pequim o Congresso do Partido Comunista (PC) chin�s. A reuni�o confirmar� um novo mandato de cinco anos (que s� se inicia em mar�o de 2018) ao presidente Xi Jinping. A ocasi�o representa, neste ano, a outorga de uma "terceira coroa" ao l�der chin�s.
A primeira foi-lhe concedida no in�cio do ano em Davos por Klaus Schwab e a elite que circula no F�rum Econ�mico Mundial. No rescaldo de meses que viram "cisnes negros" como o 'brexit' e a elei��o de Donald Trump, Xi foi al�ado � condi��o de "superstar" da globaliza��o.
Se EUA e Europa aparentemente se direcionavam a uma guinada comercialmente protecionista e geopoliticamente isolacionista, a China de Xi aparecia aos que ascendiam aos Alpes su��os como campe�o do livre com�rcio.
Nos EUA, o assunto era —e continua sendo— o individualismo nacional no campo das trocas internacionais. Trump abandonou o projeto em constru��o de um tratado comercial no Pac�fico, flerta ciclicamente com uma guerra econ�mica contra a China e est� virando o Nafta (Acordo de Livre Com�rcio da Am�rica do Norte) pelo avesso.
No Velho Continente, a ideia de "Fortaleza Europa" (quando o assunto � imigra��o) tendo de conviver com o potencial fragment�rio seja do exemplo brit�nico, seja da intoler�ncia transformada em for�a partid�ria em pa�ses como Fran�a, Holanda, �ustria ou Pol�nia.
Diante disso tudo, o l�der chin�s n�o economizou na imagem. Em seu discurso, o mais concorrido do F�rum, indicou que a atua��o de seu pa�s no mundo al�m de n�o fechar as portas da globaliza��o econ�mica, as escancaria ainda mais. Naquele instante, e na comparativa incipi�ncia de l�deres nas tradicionais pot�ncias ocidentais, Xi Jinping era coroado "rei da globaliza��o".
A revista "The Economist" deu a Xi Jinping sua segunda coroa. Em sua �ltima edi��o, retrata o l�der chin�s como "homem mais poderoso do mundo". Nas m�os do presidente chin�s estariam as principais cartas n�o apenas para manter o fluxo global de mercadorias circulando com vigor, mas tamb�m em �reas que transcendem o com�rcio, onde a China � reconhecidamente uma superpot�ncia.
Xi � a principal pe�a no tabuleiro da Pen�nsula Coreana. Dado o hist�rico de coopera��o entre Pequim e Pyongyang, a vizinhan�a geogr�fica e indispensabilidade de suprimento e mercado chineses para a Coreia do Norte, Xi � o obst�culo central para que uma situa��o j� bastante delicada n�o se deteriore ainda mais.
E isso ganha tanto mais relevo no instante em que Pequim come�a a rebalancear objetivos econ�micos (que tiveram enorme preced�ncia em todas as administra��es de Deng Xiapoing at� Hu Jintao) com os pol�tico-militares.
Essa mesma centralidade da China —e portanto de Xi— � vis�vel tanto em seu protagonismo na agenda clim�tica, como no papel de fonte irradiadora de investimentos.
O projeto "OBOR" ("One Belt, One Road") que robustece a infraestrutura n�o apenas em sua vizinhan�a geoecon�mica imediata, mas naquilo que mais amplamente se chama de "Eur�sia". Em termos comparativos, o OBOR implica mais recursos econ�micos e compasso geogr�fico bastante mais aberto que o Plano Marshall.
No Congresso que agora se inaugura em Pequim, Xi recebe sua terceira coroa��o. E ela n�o se reveste t�o somente da concentra��o do poder em suas m�os ou de sua gest�o coincidir com um momento esplendoroso do papel da China no mundo.
A tr�plice coroa parece vir agora da constata��o de que, para a grande maioria dos chineses (e para n�mero crescente de l�deres e elites de outros pa�ses), sob Xi a China evidencia que seu "sistema" � superior.
Tal situa��o foi bem definida pelo professor Li Xiguang, da Universidade Tsinghua, em coment�rio no "Financial Times" : coube a "Mao Ts�-tung derrotar invasores estrangeiros e a Deng Xiaping acabar com a fome. J� Xi ressalta a confian�a em nosso sistema politico e econ�mico."
Essa "terceira coroa" —a da certeza de que a China encontra-se no melhor caminho— representa um balde de �gua fria naqueles que apostavam numa reforma r�pida, ampla e liberalizante do quadro pol�tico chin�s.
Muitos supunham que com mais prosperidade, tecnologias e comunica��es mais globalmente dispon�veis e chineses viajando pelo mundo em n�meros impressionantes, o hermetismo e centraliza��o do poder na China teriam seus dias contados.
Bem ao contr�rio, o fortalecimento da figura de Xi � s�mbolo de que os chineses t�m pavor das imperfei��es da democracia.
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