Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde � professor-adjunto de rela��es internacionais e pol�ticas p�blicas. Escreve �s quartas.
A rela��o China-Brasil � do tipo 'Sul-Sul'?
Conceber e aprimorar tecnologicamente produtos e processos —e lev�-los aos mercados globais— � o grande diferencial de poder e riqueza nas sociedades contempor�neas.
Choques de "destrui��o criativa", nos dizeres de Joseph Schumpeter, fazem pa�ses ocupar o "centro" da geometria econ�mica internacional.
Kenzaburo Fukuhara - 4.set.2017/AFP | ||
Os presidentes Michel Temer e Xi Jinping (China) se encontram na c�pula dos Brics em Xiamen, no dia 4 |
Segundo a famosa "hip�tese Singer-Prebisch" e toda a escola estruturalista que se lhe seguiu, deriva deste modelo um padr�o "Centro-Periferia" ou, para alguns, "Norte-Sul".
No centro, ou Norte, pa�ses que realizam intensiva destrui��o criativa e agrega��o de valor. Na periferia, ou Sul, pa�ses dependentes da comercializa��o de mat�rias-primas.
Quando a lideran�a central era desempenhada pela Inglaterra no s�culo 19, elites latino-americanas, como a da Argentina, logravam manter elevados padr�es de vida com a exporta��o de carne ou trigo.
Era o mundo ricardiano das vantagens comparativas que permitia a Buenos Aires prosperidade e sofistica��o cultural. H� um s�culo a capital argentina contava tantas livrarias como Paris e teatros equivalentes aos de Londres.
Com os EUA (tamb�m uma superpot�ncia do com�rcio agr�cola) no papel de economia central, emergiu o desafio da industrializa��o por "adapta��o criativa". Diferenciais teriam de residir em vantagens "competitivas."
A China tem combatido sua condi��o perif�rica desde 1978 com industrializa��o voltada a exporta��es. O Brasil, com a substitui��o de importa��es.
A primeira visa acordos comerciais, PPPs voltadas � estrutura��o de com�rcio exterior e baixa remunera��o dos fatores. A segunda, protecionismo, alento ao mercado interno e incentivo em compras governamentais ao conte�do local.
O �xito ou fracasso desses modelos est� associado a uma correta compreens�o —e necess�ria adapta��o— das estrat�gias nacionais a um verdadeiro "eclipse" no centro da economia global.
Isso porque a China tornou-se um "outro centro", para al�m do tradicional "Norte ". � um erro, portanto, saudar o interc�mbio comercial Brasil-China como valida��o das rela��es "Sul-Sul".
O modelo industrial chin�s de Na��o-Comerciante tem sido t�o eficiente e portentoso em escala, que sua arrancada gerou, no per�odo de 2003 a 2011, uma retomada da demanda planet�ria por commodities.
O PIB chin�s em d�lares correntes foi multiplicado 60 vezes desde 1978. Ultrapassar� US$ 12 trilh�es ao final deste ano.
Por um lado, a China acelerou sua adapta��o criativa e, mediante exuberantes super�vits comerciais e sucessivos excedentes orientados estrategicamente � pesquisa, desenvolvimento e inova��o (P&D+I), est� aproximando-se do centro denso em tecnologias.
Em 2020, a China chegar� � marca de 2,5% de seu PIB voltados � P&D+I, superior portanto � media de 2,1% dos pa�ses da OCDE. O Brasil continua no patamar de apenas 1% de seu PIB em P&D+I.
Por outro, este renovado sistema internacional em que h� uma centralidade da China faz reemergir, para pa�ses como o Brasil, l�gica semelhante ao padr�o Norte-Sul das vantagens comparativas do s�culo 19.
Isso se ilustra por fatos como o da tonelada chinesa exportada ao Brasil a US$ 3.000, enquanto a tonelada brasileira � China vale menos de US$ 170.
Esta gravita��o passiva em torno de um novo centro � extremamente temer�ria para o Brasil. Pode levar a uma sensa��o de ef�mera prosperidade causada por ciclos de alta no pre�o internacional das mat�rias-primas.
Minha estimativa � que n�o estamos distantes de um ciclo dessa natureza, decorrente da transposi��o do parque industrial chin�s para sua vizinhan�a geoecon�mica. O crescimento de �ndia, Vietn�, Indon�sia e outros pode de fato sustentar valores elevados para bens agr�colas e minerais durante muito tempo.
Se para Brasil e demais latino-americanos os benef�cios do com�rcio em commodities n�o se traduzirem em investimentos nas �reas de ponta deste cen�rio global de acirradas rivalidades tecnol�gicas, estaremos consolidando um novo eixo "centro-periferia".
Desta feita, continuar� a nos caber a fun��o de periferia. J� o papel de centro se deslocar� cada vez mais de EUA-Europa para a ascendente regi�o da �sia-Pac�fico.
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