Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde � professor-adjunto de rela��es internacionais e pol�ticas p�blicas. Escreve �s quartas.
Ap�s fases disruptivas, Apple inova por 'adapta��o criativa'
Stephen Lam/Reuters | ||
O CEO da Apple, Tim Cook, durante um evento de lan�amento do iPhone 8 |
No momento em que a Apple lan�a uma nova gera��o de iPhones, vem � mente um interessante paradoxo.
Quando Steve Jobs, j� com o c�ncer em est�gio avan�ado, deixava suas fun��es de lideran�a na empresa, Tim Cook, seu sucessor, enviara e-mail a todos os funcion�rios: "estou confiante de que a Apple n�o vai mudar". Frase melhor, no entanto, seria: "a Apple vai continuar mudando" —o mundo e a si pr�pria.
A Apple incorporou intensamente o princ�pio de destrui��o criadora. N�o esperou tend�ncias de mercado para transmutar seu DNA. Sabedora da natureza ca�tica e resiliente das empresas intensivas em tecnologia, promoveu, em diferentes fases, sua reinven��o serial (serial reinvention).
Foi a empresa pioneira em compreender que o principal fil�o das tecnologia da informa��o n�o residia nos hipertrofiados computadores do tipo mainframe para aplica��es governamentais ou corporativas.
A verdadeira revolu��o estaria em levar o princ�pio de computa��o diretamente a cada indiv�duo. Num primeiro momento, a cada lar, escola e empresa. Depois, na mobilidade desse n�made contempor�neo em que hoje todos nos transformamos.
Captou da mesma forma que o acesso ao mundo digital n�o poderia intermediar-se por um emaranhado de linguagens de uso e programa��o intelig�veis apenas a pequeno grupo de iniciados. A interface passou a ser t�ctil, ainda mais com tabletes e telas interativas. E crescentemente com voz (e agora reconhecimento facial) mediante intelig�ncia artificial.
Quando os computadores pessoais tornaram-se produtos de massa, a Apple investiu pesadamente em design para fugir da mesmice. Desenhou algo no limite entre funcionalidade e estilo.
Do ponto de vista organizacional, a empresa segmentou-se em pequenas equipes funcionando como unidades de neg�cio, em vez das divis�es mastod�nticas e impessoais de outras gigantes do setor. N�o h� na Apple as tecnoestruturas descritas classicamente por John Kenneth Galbraith em seu livro "O Novo Estado Industrial" (), publicado h� 50 anos.
Apostou, ao contr�rio do que supunha Marshall Mcluhan, que o meio n�o era a mensagem. Desmaterializou a ind�stria da m�sica com o iPod e o iTunes. Redefiniu a telefonia m�vel e os computadores de m�o com o iPhone.
Dividiu �guas para a ind�stria de m�dia jornal�stica, entretenimento e ensino com o iPad. Superou, assim, a cl�ssica divis�o entre hardware e software, implementando a no��o de smartware.
Apostou no decl�nio da web e criou sua pr�pria - e draconiana - for�a de vendas online, a App Store. Com isso, reconfigurou o com�rcio eletr�nico.
Remeteu o conceito de "flaghship store" a uma nova dimens�o antropol�gica. As lojas da Apple n�o s�o estabelecimentos comerciais. S�o templos de comunh�o.
Seus consumidores, uma tribo p�s-moderna - fi�is de uma religi�o tecno-secular. Seu minimalismo e aplicativos propriet�rios, c�nones da f�. O Genius Bar da loja � um col�gio de sacerdotes. O lan�amento ritualizado de produtos, a anuncia��o. A inova��o, a salva��o.
A lideran�a da Apple n�o lhe trouxe conforto, mas inquieta��o. Reinven��o em s�rie forneceu a for�a vital com que Jobs desafiou o c�ncer e conduziu a empresa ao Olimpo tecnol�gico.
Nos �ltimos anos, tais reinven��es s�o mais do tipo "adapta��o criativa" do que a disruptiva "destrui��o criadora". Os novos iPhones n�o redesenham o mapa do smartware, trata-se de uma inova��o apenas incremental.
Ainda assim, do alto de seus 1,3 bilh�o de iPhones vendidos at� hoje, a Apple, marca mais valiosa do mundo, � um bom exemplo da m�xima dos que desejam manter a lideran�a na inova��o: � em time que est� ganhando que se mexe.
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