Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde � professor-adjunto de rela��es internacionais e pol�ticas p�blicas. Escreve �s quartas.
Brasil tem chance de "dia de sol perfeito" na economia
Se voc� estava buscando motivos para ficar menos desanimado com o Brasil, o an�ncio da privatiza��o da Eletrobras pode ser um bom sinal.
Por mais incr�vel (e imerecido) que venha a parecer, o pa�s, em meio a seus escombros morais, pol�ticos e fiscais, tem uma razo�vel oportunidade de engatar um ciclo positivo na economia –e na hist�ria.
Pilar Olivares - 20.ago.2014/Reuters | ||
Fachada da Eletrobras, no Rio de Janeiro |
No mundo, e dentro do Brasil, correntes de ventos contr�rios e a favor est�o alcan�ando um equil�brio interessante. Em lugar da certeza de que tudo est� perdido, desponta a chance do pa�s virar o jogo. Caso tenha compet�ncia, o Brasil aproveitar� conjuntura a que se pode chamar de "dia de sol perfeito".
Conhecemos bem sua plena ant�tese –a "tempestade perfeita" que acomete o pa�s em anos recentes. Para ela concorreram fatores externos, como a retra��o do pre�o internacional das mat�rias-primas e a aumento do protecionismo comercial.
Influ�ram tamb�m as proje��es de que a normaliza��o das pol�ticas monet�rias nas economias mais maduras teria efeitos de estrangulamento de liquidez para emergentes como Brasil. H� exatos tr�s anos, o banco de investimento Morgan Stanley listava o pa�s ao lado de Turquia, Indon�sia, �frica do Sul e �ndia como pertecentes ao indesej�vel grupo dos "Cinco Fr�geis".
No entanto, eram os fatores internos a espalhar o rastro de devasta��o da tempestade perfeita. O impeachment que inescapsvelmente se avizinhava. A impiedosidade da Lava Jato sobre o modelo de economia pol�tica vigente. A radioatividade da "nova matriz econ�mica". O esgotamento da pol�tica de campe�s nacionais e do sacrossanto conte�do local. O estouro, enfim, das comportas fiscais do estado brasileiro.
Basta olhar o n�mero de desempregados, a retra��o do PIB ou a falta de �nimo para investir e temos a dimens�o do que continua a significar essa traum�tica tormenta.
Ainda assim, o momento est� prop�cio para a virada da sorte. Se quiser, como demonstram os primeiros lances nessa din�mica de privatizar a Eletrobras, o pa�s pode realizar no bi�nio 2018-19 um portentoso programa de desestatiza��o. Nesse movimento, os bem-vindos influxos de caixa com a venda de ativos – grande refresco para o quadro fiscal –s�o os menores dos benef�cios.
Os principais dividendos estar�o no aumento da efici�ncia e na diminui��o do papel do estado na economia e na sociedade. Aqui, os ganhos de mudan�a cultural, de constrangimento da mentalidade estatista, s�o de igual monta aos de natureza econ�mica.
Se de fato enveredar pelo rumo da desestatiza��o, o Brasil desencadear� enorme potencial produtivo. E, antes mesmo que isso ocorra nos fundamentos, a forma��o de expectativas positivas desempenhar� grande papel no desanuviar do horizonte econ�mico brasileiro.
Uma onda desestatizante se agregaria a outros pujantes ventos de cauda. O crescimento do Sudeste Asi�tico – que dobrar� seu peso relativo na economia global nos pr�ximos quinze anos – continuar� a deslocar a curva da demanda mundial por alimentos, commodities agr�colas e minerais. S�o esferas em que o Brasil apresenta vastos diferenciais competitivos.
Do ponto de vista do investimento estrangeiro, seja na modalidade de portf�lio, seja na planta produtiva, o tamanho espec�fico do Brasil ainda importa. Sobretudo se considerarmos que h� amplos estoques de capital no mundo dispon�veis para projetos de infraestrutura – �rea em que o Brasil representa clara "fronteira m�vel".
Est�o coincidindo tamb�m os frutos de uma boa gest�o macroecon�mica – infla��o na meta e juros em queda – com a constata��o de que as reformas estruturais moveram-se para o centro do palco. A trabalhista andou e, ainda que sob a tens�o inerente �s grandes mudan�as de paradigmas, o Brasil provavelmente adotar� um sequencial de "reformas tribut�rias" e "reformas previdenci�rias" – ambas no plural. � isso ou o caos reformador do mercado.
E, ainda que se busque cotidianamente barrar a Lava Jato, seus efeitos colaterais ben�ficos no campo do compliance, transpar�ncia e melhores rela��es com investidores se far�o sentir crescentemente.
Claro que existe um universo de coisas passiveis de dar errado no (e para o) Brasil nos pr�ximos dezoito meses.
O cen�rio internacional, por algum evento fragment�rio, por exemplo, com epicentro na Pen�nsula Coreana, escureceria. O reality show trumpiano na Casa Branca pode sempre nos reservar alguma epis�dio mais dram�tico, com repercuss�o geoecon�mica.
No plano interno, talvez a matem�tica fiscal em si venha a precipitar novo corte na nota de classifica��o de risco brasileiro antes da elei��es do ano que vem. Quanto a reformas, o status quo pol�tico-fisiol�gico disp�e de couro grosso. H� muito o que pode desandar. O pa�s conta com abundante cole��o de mazelas a alimentar o desalento.
Ainda assim, n�o reconhecer que a conjuntura est� prestes a oferecer uma baita chance para o Brasil recuperar parte do preju�zo � mais do que aus�ncia de otimismo. N�o enxergar que o pa�s pode iluminar-se com um "dia de sol perfeito" � falta de realismo.
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