Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde � professor-adjunto de rela��es internacionais e pol�ticas p�blicas. Escreve �s quartas.
Notas sobre o capitalismo de Estado
Ouvi h� alguns dias de um banqueiro brit�nico –que j� trabalhara tanto no Brasil como na China– que o malogro econ�mico brasileiro e o �xito chin�s tinham a mesma raz�o: a forte presen�a do Estado na economia.
A prop�sito, o principal ponto de discuss�o do F�rum Econ�mico de Davos h� cinco anos era o capitalismo de Estado. E a tradicional revista "The Economist" trazia � �poca o tema numa de suas ic�nicas capas.
Naquele instante, as variantes de capitalismo de Estado aplicadas nos Brics pareciam produzir muito mais sucessos do que a dupla EUA-Europa, ainda abalada pelas crises dos subprimes e das d�vidas soberanas.
O fato � que tanto a pr�pria no��o de capitalismo como a ideia de capitalismo de Estado representam conceitos demasiado amplos. Comportam realidades t�o diferentes como China ou Cingapura, Brasil ou R�ssia.
Cabe ressaltar que diferentes pa�ses implementam sua interpreta��o de capitalismo de Estado sobre as bases de ordens pol�ticas diversas e diferentes abordagens sobre a rela��o custo-benef�cio de integrar-se � economia global.
� poss�vel, assim, vislumbrar dois submodelos majorit�rios de aplica��o de ferramentas Estado-capitalistas, sobretudo em termos de estrat�gia econ�mica. Os dois pa�ses que ofereceram os elementos mais facilmente identific�veis em tempos recentes s�o justamente o Brasil e a China.
O Brasil, que buscou consolidar o modelo em diferentes momentos hist�ricos, jamais por�m o implementou com tanto afinco como nos anos Lula-Dilma. E o fez num contexto de pujante sociedade civil, imprensa vigilante e livre, pleno direito � cr�tica e sufr�gio universal. O capitalismo de Estado brasileiro que disso resultou foi consumista, orientado para dentro e curto-prazista.
Na China, o capitalismo de Estado se deu sobre estruturas de imobilismo pol�tico e (for�ada) coes�o. O projeto nacional chin�s de poder, prosperidade e prest�gio � mais importante do que a livre movimenta��o e express�o pol�tica dos atores sociais. Disso resultaram �nfase em poupan�a e investimentos, economia voltada para fora e perspectiva de longo prazo.
O capitalismo de Estado chin�s foi marcado –por certo tempo– pela administra��o artificial do c�mbio e da remunera��o do fator trabalho, acesso favorecido aos principais mercados compradores do mundo, grande capacidade de ac�mulo de poupan�a e investimento nas m�os do Estado, parcerias p�blico-privadas voltadas � infraestrutura e log�stica de com�rcio exterior, e uma combativa diplomacia empresarial.
O capitalismo de Estado no Brasil desenhado no per�odo Lula-Dilma foi erigido sobre protecionismo comercial, fortalecimento das megacorpora��es de economia mista que atuam em commodities agr�colas e minerais, pol�tica industrial defensiva e, por �ltimo, remunera��o do capital financeiro em n�veis bem superiores �s taxas praticadas ao redor do mundo - de modo a compensar os esqu�lidos n�veis de poupan�a e investimento internos, ambos inferiores a 20% do PIB.
Tanto o modelo chin�s como o brasileiro conferiram car�ter sacrossanto � no��o de conte�do local. No caso chin�s, muito se especulou quanto ao conte�do local como imperativo para manter-se empregada – a baixos n�veis de remunera��o –a imensa popula��o de jovens que a cada ano chega ao mercado de trabalho.
Contudo, esse que foi o principal estere�tipo da competitividade chinesa –m�o de obra abundante a baixo custo– j� est� caduco. Economias como �ndia, Paquist�o, Vietn� ou mesmo pa�ses africanos j� oferecem mais atrativos neste particular do que a China.
O que marca a �nfase que o capitalismo de Estado na China contempor�nea atribui ao conte�do local se manifesta na robusta capacidade de realizar compras governamentais ou celebrar contratos internacionais exigindo, como contrapartida do parceiro estrangeiro, a instala��o de unidades produtivas em territ�rio chin�s.
Neste sentido, aparentemente � grande a coincid�ncia com o modelo brasileiro de busca de conte�do local, que concentra o poder do Estado, suas autarquias e das grandes empresas de economia mista e em favor da atra��o de investimentos estrangeiros diretos.
No entanto, o capitalismo de Estado no Brasil e sua filosofia "local-conteudista" promoveram t�o somente substitui��o de importa��es. Na China, tais ferramentas foram instrumentalizadas � promo��o de exporta��es.
A vertente chinesa promoveu internacionaliza��o e competitividade e, no limite, acabou por auxiliar na emerg�ncia do pa�s como principal na��o-comerciante. Em contraste, o modelo brasileiro t�o somente serviu para isolar o pa�s do mundo, refor�ando suas fei��es de atrasada autarquia.
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