Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde � professor-adjunto de rela��es internacionais e pol�ticas p�blicas. Escreve �s quartas.
Aturdida, m�dia global examina drama brasileiro em editoriais
Por mais que ocupe, desde os anos 1970, posi��o entre as dez maiores economias e represente grande peso relativo em sua regi�o, o Brasil n�o � figura frequente na imprensa internacional.
Claro que a aten��o se expandiu em 2010, quando o PIB do pa�s cresceu 7,6%, em meio � grande recess�o que assolava EUA e Europa, no que muitos enxergaram um "segundo milagre econ�mico brasileiro".
Multiplicou-se tamb�m a exposi��o do pa�s nas coberturas associadas aos megaeventos esportivos que o Brasil sediou. Mesmo assim, por vezes outros latino-americanos, como Col�mbia ou Cuba, rendem mais espa�o na m�dia jornal�stica mundial.
Nesse contexto, ganha especial relev�ncia notar que nestes �ltimos cinco dias alguns dos gigantes da opini�o p�blica planet�ria, como "The Economist", "Financial Times" e "Washington Post", devotaram extensos editoriais ao drama pol�tico nacional. Nas avalia��es, h� ao menos tr�s pontos constantes.
Primeiro: a ideia de que, com Temer ao comando, o Brasil n�o se encontra "sob nova dire��o". O PMDB, ao amparar os anos Lula-Dilma, n�o apenas teria deixado as digitais na m� gest�o macroecon�mica, mas tamb�m no desfrute das recompensas que o capitalismo de Estado brasileiro conferiu � coaliz�o governamental.
Nesse aspecto, se Temer conseguiu distanciar-se da incompet�ncia na administra��o da pol�tica econ�mica, o fez menos por convic��o e mais por imposi��o da realidade. Temer e seu PMDB poderiam ter abra�ado par�metros presentes no resumo "Ponte para o Futuro" em qualquer momento dos �ltimos 20 anos. Fizeram-no apenas em 2015/2016 pois a dura situa��o do pa�s assim exigiu.
No caso da Lava Jato –luz que se lan�a sobre a penumbra da economia de compadrio brasileira– ficou mais dif�cil romper com o passado recente, o que veio n�tida e dramaticamente � tona nas �ltimas duas semanas. O editorial da "The Economist" sugere que a chegada de Temer ao poder n�o representou jamais "claro rompimento com um passado s�rdido".
Segundo: a no��o de que muitos esc�ndalos elucidados pela Lava Jato s�o s�mbolo do fortalecimento das institui��es no Brasil. Ainda assim, o "Washington Post" defende que, caso o pa�s mergulhe num caos pol�tico antes da aprova��o de algumas reformas estruturais, de pouco ter� v�lido todo o processo de depura��o pol�tica que emerge das investiga��es na Petrobras ou na seletivamente generosa pol�tica de favorecimento a empresas "campe�s nacionais" por parte do BNDES.
Deriva dessa percep��o a certeza, esposada nas tr�s publica��es, de que as reformas, e n�o as pessoas que dirigem o pa�s, s�o o que realmente importa entre agora e as elei��es presidenciais de 2018.
Terceiro –e �ltimo: o Brasil tem de embarcar numa reforma pol�tica que permita � popula��o, como aponta o "Financial Times", saber que suas elites est�o menos preocupadas em evitar a cadeia e mais voltadas a governar o pa�s.
Aqui, claro, fala-se de todo o espectro pol�tico, em patente alus�o ao PSDB e outras for�as de oposi��o � alian�a de poder que comandou o pa�s de 2003 a 2016. Enquanto isso n�o ocorrer, a economia, ainda que com pontuais sinais de melhora, continuar� ref�m da pol�tica no Brasil.
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