![marcos troyjo](http://f.i.uol.com.br/fotografia/2015/05/21/513511-115x150-1.jpeg)
Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde � professor-adjunto de rela��es internacionais e pol�ticas p�blicas. Escreve �s quartas.
Megaprojeto de infraestrutura � s�mbolo da China superpot�ncia
Com a chegada de Xi Jinping ao comando do poder na China h� quatro anos, o pa�s operava sua terceira reinven��o desde a Revolu��o Mao�sta de 1949.
Tal evolu��o ganhou grande relevo nesta semana, com o mandat�rio chin�s liderando reuni�o em que quase 70 pa�ses se fizeram representar num f�rum em Pequim sobre a nova rota da seda projetada pelos chineses —o projeto "One Belt, One Road" (ou "Obor").
Damir Sagolj/Reuters | ||
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Mesa � decorada para banquete de recep��o do encontro sobre o megaprojeto de infraestrutura chin�s |
O Obor � a grande jogada de infraestrutura de pontes, estradas, ferrovias, t�neis, gasodutos e outras opera��es log�sticas que buscam interligar �sia e Europa.
No todo, o Obor � o maior projeto de fomento infraestrutural que o mundo j� viu desde o Plano Marshall. Ele n�o apenas consolida a China como superpot�ncia econ�mica, mas tamb�m refor�a o epicentro chin�s como dinamo da ascens�o asi�tica.
Na primeira reinven��o chinesa nada havia de percept�vel da superpot�ncia em que o pa�s se transformaria. Com Mao Ts�-tung no poder, a China buscou eliminar vest�gios das dinastias imperiais e adotar o regime comunista e seus tra�os caracter�sticos: coletiviza��o da propriedade e trabalho no campo. Estatiza��o dos meios de produ��o e asfixia da iniciativa privada. Xenofobia econ�mico-ideol�gica rumo � autarquia em seu est�gio mais insular.
Metas estipuladas por burocratas comiss�rios, cren�a na infalibilidade do Grande Timoneiro Mao e a forma��o do "novo homem" da Revolu��o Cultural produziram milh�es de mortos e dissidentes —e uma economia esqu�lida.
A segunda reinven��o, liderada por Deng Xiaoping desde 1978, valeu-se da disposi��o dos EUA, no contexto da Guerra Fria, em oferecer recompensas pontuais a Pequim pelo distanciamento em rela��o a Moscou.
A China passou ent�o a gozar desde 1979 do status de "na��o mais favorecida" em seu com�rcio com os EUA. Reinventou-se, assim, como pa�s que dispunha de acesso privilegiado aos grandes mercados compradores do mundo. Pequim elaborou de forma pioneira um regime de parcerias com empresas estrangeiras de modo a incentivar o capital que se estabelecia na China a tamb�m investir em infraestrutura.
Os chineses mantiveram c�mbio e custos de produ��o artificialmente subvalorizados e exerceram agressiva diplomacia empresarial. Com esse modelo de na��o-comerciante, a "globaliza��o profunda" dos �ltimos 30 anos arremessou a China � posi��o de segunda maior economia do planeta.
A terceira reinven��o, contempor�nea � chegada de Xi ao poder em Pequim e ao desenrolar do projeto Obor, tem se dado por raz�es externas e internas.
As que v�m de fora: a crescente resist�ncia de mercados externos —sobretudo EUA e Europa— � continua��o de uma grande receita exportadora por parte da China. Al�m do que, num mundo em que empregos parecem mais importantes que lucros, a �nfase dada � no��o de conte�do local por parte de americanos e europeus diminui a porosidade desses mercados aos produtos "Made in China".
As que v�m de dentro: as pr�prias pol�ticas contrac�clicas adotadas por Pequim conduziram a um quadro em que os chineses t�m sal�rios mais altos —consomem mais; poupam e investem menos.
No limite, trata-se de reinven��o com vistas a um modelo em que a China crescer� menos —mas talvez melhor. O fato � que a maci�a acumula��o de excedentes por parte do governo e das empresas chinesas permite ao pa�s uma escalada nos investimentos em infraestrutura na sua esfera de influ�ncia geoecon�mica e em ci�ncia e tecnologia.
Esta terceira reinven��o chinesa tem na ideia de inova��o end�gena e na infraestrutura na Eur�sia suas palavras de ordem. N�o � de surpreender, assim, como a China tem multiplicado exponencialmente patentes geradas a cada ano.
Resta saber se, ao lado do Obor, a almejada inova��o em s�rie poder� continuar a florescer de uma sociedade em que, apesar de ineg�veis conquistas que conduziram ao status de superpot�ncia econ�mica, na pol�tica ainda se respiram rarefeitos ares democr�ticos.
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