Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde � professor-adjunto de rela��es internacionais e pol�ticas p�blicas. Escreve �s quartas.
Macron mostra que decl�nio do Ocidente n�o � inevit�vel
Num discurso pronunciado de Londres, em 1941, com seu pa�s ocupado pelos nazistas, o general De Gaulle real�ava o pacto imemorial entre a grandeza da Fran�a e a liberdade do mundo ("il y a un pacte vingt fois s�culaire entre la grandeur de la France et la libert� du monde").
A frase adorna a imponente est�tua do general-presidente que se projeta sobre a avenida Champs-Elys�es, na capital francesa. Mais do que simples express�o de orgulho galicista, a mensagem � a de um pa�s essencialmente aberto, pol�tica e economicamente e, nesse sentido, um basti�o na defesa dos ideais do Ocidente.
Panoramic/Zumapress/Xinhua | ||
O presidente eleito da Fran�a, Emmanuel Macron, participa de cerim�nia do Dia da Vit�ria na 2� Guerra |
Com a vit�ria no �ltimo domingo de Emmanuel Macron, a Fran�a se distancia da atual tend�ncia, que se alastra perigosamente nos EUA e na Europa, voltada ao ensimesmamento nacional, ao protecionismo comercial e � intoler�ncia civilizacional —tudo isso turbinado pelo populismo como m�todo.
Nos pesados golpes desferidos logo ao in�cio do debate que precedeu o pleito presidencial, o futuro inquilino do Eliseu pontuou suas diferen�as ante a candidata Marine Le Pen, da Frente Nacional. Para Macron, sua advers�ria era o signo da "derrota" da Fran�a para o mundo, e portanto da necessidade de "prote��o" que seu pa�s enseja.
O jovem presidente eleito, no entanto, posicionou-se como candidato da Fran�a que "conquista", que aceita lidar com a globaliza��o nos seus pr�prios termos, que n�o tem medo do que vem de fora. Bem ao contr�rio, da Fran�a que compete e vence internacionalmente.
A preval�ncias das for�as desglobalizadoras em tempos recentes (elei��o de Trump, "brexit", etc.) abalaram esse importante pilar do projeto ocidental que � o pr�prio princ�pio de livre mercado e livre com�rcio.
Ali�s, numa grande resumo, pode-se sintetizar numa f�rmula matem�tica a no��o de que economia de mercado, livre com�rcio, democracia representativa, liberdade de express�o e estado de direito somam-se na defini��o do que seja o "Ocidente".
Triunfante no per�odo p�s-Guerra Fria, momento captado pela famosa tese do "Fim da Hist�ria" professada por Francis Fukuyama, o Ocidente tem sofrido pesados reveses.
Se um dos vetores da "Globaliza��o Profunda" que experimentamos da Queda do Muro de Berlim at� o colapso do Lehmann Brothers foi a primazia da economia de mercado e o livre com�rcio, ent�o a a atual desglobaliza��o rima com "desocidentaliza��o".
Tal fen�meno � menos resultante da ascendente "Orientaliza��o" ("Easternization", t�tulo do mais recente livro de Gideon Rachman ), colunista do "Financial Times", e mais o suced�neo da perda da confian�a ocidental em seus pr�prios valores.
Essa � a preocupa��o que alimenta o aparecimento de importantes livros sobre o futuro da economia de mercado e da democracia representativa como "O Destino do Ocidente", de Bill Emmott, ex-editor-chefe da revista "The Economist", e tamb�m "A Retra��o do Liberalismo Ocidental", de Edward Luce, principal correspondente do "Financial Times" nos EUA.
Com o �xito de Macron, a Europa se afasta do perigoso individualismo nacionalista de Marine Le Pen, sentimento que levou tamb�m � ascens�o de movimentos antiglobaliza��o e sua express�o eleitoral na �ustria e na Holanda. Ainda assim, tal mat�ria-prima nacional-individualista estar� presente nas pr�ximas e cruciais elei��es na It�lia e na Alemanha.
Macron contribuir� tanto mais para o fortalecimento dos pilares ocidentais se conseguir conjugar complexas din�micas internas e externas.
No plano dom�stico, trata-se de reconstituir o pacto social franc�s por meio de reformas modernizantes. Diminuir o tamanho do Estado na economia, decrescer a hipernormatiza��o burocr�tica que asfixia empresas e flexibilizar a legisla��o trabalhista s�o tarefas �rduas e urgentes tarefas na Fran�a —como no Brasil.
E, no plano externo, seria muito bem-vinda uma lideran�a francesa na retomada das negocia��es para um mega-acordo comercial entre Europa e EUA, a chamada Parceria Transatl�ntica de Investimento e Com�rcio (TTIP, na sigla em ingl�s), que muitos deram por morto com a elei��o de Trump e sua conhecida ojeriza a tratados econ�micos plurilaterais.
A atitude pr�-globaliza��o de Macron emite vibra��es com efeitos para muito al�m do hex�gono territorial franc�s. Ela em muito ajudar� a revitalizar o combalido conceito de Ocidente.
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