Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde � professor-adjunto de rela��es internacionais e pol�ticas p�blicas. Escreve �s quartas.
Trump descobre que n�o h� 'Pax Americana' no com�rcio global
Em sua mais recente coluna no "Financial Times", o comentarista Martin Wolf classifica a pol�tica comercial de Donald Trump como "halfhearted".
Este termo geralmente denota falta de entusiasmo ou energia. Em vista da prometida inflex�o do papel dos EUA no com�rcio internacional que Trump prop�s ao eleitorado, houve mais fuma�a que fogo. Nesse contexto, a melhor maneira de traduzir "halfhearted" para o portugu�s � "meia-bomba".
Mandel Ngan/AFP | ||
O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa em cerim�nia militar na Casa Branca nesta ter�a (2) |
N�o foi por falta de motiva��o que at� agora o propalado cavalo-de-pau da Casa Branca no campo do com�rcio gerou poucas a��es concretas.
Sim, � verdade que os EUA retiraram seu nome daquele que se projetava como exemplo de acordo de �ltima gera��o —o TPP, em que padr�es trabalhistas, ambientais ou de pol�tica industrial seriam t�o determinantes quanto tarifas ou quotas na �sia-Pac�fico.
A reviravolta prometida por Trump at� agora n�o se deu por uma combina��o de ao menos dois motivos.
Primeiro: Trump est� descobrindo que o mundo � muito mais complexo do que pensava —e, nessa revela��o, d�-se conta de que os "outros" tamb�m t�m suas prioridades e particularidades. Ou seja, Trump, no com�rcio, n�o � regente de uma "Pax Americana".
Desde que assumiu a presid�ncia em 20 de janeiro, Trump j� recebeu v�rios l�deres mundiais, alguns at� em sua resid�ncia na Fl�rida —Mar-a-Lago, tamb�m chamada pela imprensa dos EUA de "Casa Branca de inverno".
E nenhum desses encontros, seja com o chin�s Xi Jinping, seja com a primeira-ministra brit�nica Theresa May, produziram os efeitos concretos e imediatos que Trump fez crer a seu eleitorado.
As complexas rela��es com a China n�o v�o a lugar algum se Trump t�o-somente recorrer a bravatas de campanha. Num olho-a-olho com Xi, fica dif�cil tentar explicar a hipercompetitividade da China como resultante principalmente da manipula��o ardilosa do yuan para dotar mais atratividade �s exporta��es chinesas.
E no caso do com�rcio com Londres, Trump n�o tem como propor algo no curto prazo que pudesse eclipsar a aten��o priorit�ria que os brit�nicos t�m de dar a seu termo de div�rcio vis-�-vis � Uni�o Europeia.
Segundo: mesmo no n�cleo duro de seu governo, h� s�rias diverg�ncias sobre rumos da pol�tica comercial.
Por um lado, o grupo "nacionalista", de que o Conselheiro de Com�rcio Peter Navarro � o principal expoente, prega linha-dura ante parceiros com que Washington acumula grandes d�ficits comerciais —exemplo de China e M�xico.
Por outro, existe a ala "Wall Street", capitaneada por Gary Cohn, Conselheiro Econ�mico Nacional, que prega maior engajamento —mediante alguma reforma— dos EUA no �mbito de acordos (como o Nafta) ou sistemas (como a OMC) j� existentes.
O grupo de "Wall Street" at� agora tem levado a melhor. Para isso, conta com o peso do Congresso norte-americano, que em sua maioria apoia, por exemplo, a continua��o do Nafta.
Tamb�m a ind�stria dos EUA, como � o caso Conselho Americano de Pol�tica Automotiva, fez chegar � Casa Branca o recado de que uma "retirada do Nafta prejudicaria gravemente a competitividade da Am�rica do Norte no mercado global".
Trump cada vez mais � for�ado a ver as claras conex�es entre com�rcio e geopol�tica, o que reconduz os EUA a uma postura externa mais "normal" e alinhada com o que t�m sido as linhas-gerais de pol�tica exterior de Truman a Obama.
No com�rcio, a exemplo das demais �reas das rela��es internacionais, os EUA s�o protagonistas, mas n�o hegem�nicos.
A contragosto, O atual inquilino da Casa Branca est� "aprendendo no emprego" que n�o � nada f�cil adotar posi��es unilaterais e "abandonar" a globaliza��o.
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