![marcos troyjo](http://f.i.uol.com.br/fotografia/2015/05/21/513511-115x150-1.jpeg)
Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde � professor-adjunto de rela��es internacionais e pol�ticas p�blicas. Escreve �s quartas.
Riscos (e oportunidades) da desglobaliza��o para o Brasil
H� mais malef�cios que pontos positivos na tend�ncia � desglobaliza��o que hoje se aprofunda no mundo todo.
Por um lado, se o consumidor est� acostumado a comprar um brinquedo no Vietn� por uma fra��o de custo, ele provavelmente est� tirando posto de trabalho de algu�m que faria esse produto no Brasil ou nos EUA. Por outro, esse mesmo consumidor � compensado com um bem muito mais barato.
"China Daily"/Reuters | ||
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Cont�ineres s�o transportados das docas para navios no porto de Qingdao, no nordeste da China |
Essa din�mica permite uma melhora na efici�ncia da economia. Aquelas pessoas que produziriam o tal brinquedo em pa�ses de maior custo relativo poderiam ser (re) treinadas para fazer outras coisas em que o pa�s tenha mais vantagens comparativas.
Vamos supor que essa ret�rica desglobalizadora vingue cada vez mais nos EUA e na Europa. O resultado disso ser� infla��o no mundo. Aumentos no custo de produ��o dos bens ser�o repassados aos consumidores. Maior infla��o convidar� a pol�ticas monet�rias mais apertadas. E eventualmente pol�ticas comerciais ainda mais protecionistas.
Ora, como fica o Brasil nesse cen�rio? Na �rea fundamental da globaliza��o que � o com�rcio exterior, o Brasil � um dos pa�ses isolados do mundo. Alguns dizem que � o pa�s mais fechado do mundo se desconsiderarmos Coreia do Norte, Cuba e Venezuela.
E isso n�o � s� problema que emergiu do longo per�odo petista. Do Descobrimento ao Brasil do s�culo 21, raramente temos mais do que 25% do PIB resultantes da soma de valores de exporta��o e importa��o.
Depois de ter passado por uma experi�ncia nacional-desenvolvimentista nos �ltimos 13 anos, em que se manteve o pa�s fechado, o Brasil resolveu se abrir. Nesse momento, contudo, o mundo est� com mais portas fechadas.
H�, no entanto, algumas boas oportunidades. Acordos entre pa�ses latino-americanos e europeus t�m agora boa chance de sair do papel. Os europeus comunit�rios est�o �vidos por tais tratativas, pois querem mostrar que a sa�da dos brit�nicos da Uni�o Europeia n�o abalar� o bloco.
Com os EUA de Donald Trump, pergunta-se, o cen�rio comercial para o Brasil fica ainda pior? Nosso pa�s n�o ser� muito afetado por pol�ticas mais protecionistas da Casa Branca. Isso � bom, mas pelas raz�es erradas.
O Brasil � dos poucos pa�ses que consegue a fa�anha de acumular sucessivos d�ficits comerciais com os EUA. Isso faz com que n�s n�o estejamos na tela de radar protecionista de Trump como M�xico ou China.
Isso significa que aumentaremos as exporta��es para os EUA? N�o necessariamente, com poss�vel exce��o das commodities minerais. Se nestes pr�ximos quatro anos Trump for de fato agressivo na quest�o da infraestrutura, isso vai jogar o pre�o das mat�rias-primas minerais l� para cima.
Em outras regi�es do mundo, tamb�m � for�oso reconhecer que a situa��o n�o est� necessariamente ruim para n�s. O Sudeste Asi�tico cresce de forma robusta e desloca para cima a curva de demanda por alimentos. E, nesse particular, destacam-se nossas rela��es econ�micas com a China.
Tal interc�mbio j� � volumoso, sobretudo se levarmos em considera��o o hist�rico dos �ltimos 15 anos, em que um com�rcio bilateral de US$ 1 bilh�o foi al�ado a US$ 80 bilh�es.
Quando, no entanto, examinamos de perto a composi��o de nossas exporta��es � China, basicamente enxergamos min�rio-de-ferro, complexo soja e alguns outros poucos bens de baixo valor agregado. E, no fluxo de exporta��es chinesas para o Brasil veem-se m�quinas, sat�lites, computadores.
Nunca � demais repisar um dado estarrecedor: uma tonelada de produto brasileiro exportado para a China vale US$ 200. Uma tonelada de produto chin�s exportado para o Brasil vale US$ 3 mil. H�, ent�o, um desequil�brio estrutural na balan�a comercial Brasil-China que n�o vai mudar porque os EUA se fecharam.
Ainda que o cen�rio externo esteja mais desafiador, nossos problemas internos —falta de estrat�gia, coordena��o e ambiente para se concentrar nos grandes temas do desenvolvimento— continuam sendo os principais determinantes de nossa baixa participa��o no com�rcio global.
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