Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde � professor-adjunto de rela��es internacionais e pol�ticas p�blicas. Escreve �s quartas.
Que sinais o Brasil pode captar do 'brexit'?
O governo brit�nico acaba de formalizar a Bruxelas sua decis�o de deixar a Uni�o Europeia.
O 'brexit' provavelmente representa o principal evento geopol�tico desde a queda do Muro de Berlim.
Christopher Furlong/AFP | ||
A primeira-ministra brit�nica, Theresa May, assina a carta que d� in�cio �s negocia��es do "brexit" |
Embora a elei��o de Donald Trump carregue impactos globais potencialmente maiores —dada a pr�pria envergadura do poder norte-americano—, ela n�o disp�e do mesmo grau de "perenidade" que o "brexit" implica.
Daqui a tr�s anos e meio, os eleitores podem mandar o atual titular da Casa Branca de volta para a Trump Tower. Se isso acontecer, os EUA tenderiam a reassumir um discurso de lideran�a na abertura de mercados e na coopera��o com seus aliados.
Washington poderia reconectar-se a projetos como o TPP (Parceria Transpac�fico) ou voltar a desempenhar um papel construtivo nas tratativas globais sobre o clima.
O mal que Trump pode causar aos EUA e ao mundo, excetuando-se � claro o campo militar, � hipoteticamente enorme. Contudo, o pr�prio ciclo democr�tico tem condi��es de corrigi-lo.
O "brexit", por sua parte, marca um div�rcio de mais de quatro d�cadas entre Londres e o continente. E, ainda que acordos comerciais e pol�ticos entre brit�nicos e a UE sejam poss�veis e prov�veis, nada ser� como antes. Uma revers�o completa daqui a alguns anos —um "brentrance"— n�o � conceb�vel num futuro pr�ximo.
A separa��o entre Reino Unido e UE emite ao Brasil sinais importantes. Alguns tem a forma de aprendizado. Outros, de oportunidades que se abrem.
As raz�es que conduziram ao "brexit" s�o diferentes das que levariam a um desmantelamento do Mercosul. Fica, por�m, a clara li��o de que a integra��o regional n�o � destino, e tampouco "estado natural" das rela��es internacionais.
Na Carta Magna brasileira a integra��o dos povos latino-americanos configura objetivo constitucional. Em nosso passaporte, logo na capa pode-se ler a inscri��o "Rep�blica Federativa do Brasil" e, pr�ximo a ela, "Mercosul", como se esta fosse uma realidade inescap�vel da condi��o nacional.
As experi�ncias de nossa participa��o no Mercosul e em outras din�micas de integra��o regional, muitas delas fracassadas, ressaltam no entanto que nada pode ser considerado eterno.
O Mercosul estaria em melhor estado se houvesse algum avan�o em �reas espec�ficas, como liberaliza��o comercial ou integra��o log�stica.
De pouco valeu o disp�ndio de tempo e energia na busca de objetivos mais ambiciosos ou grandiloquentes, como o de uma moeda comum ou a emiss�o de comunicados em que os pa�ses do grupo se posicionam sobre o processo de paz no Oriente M�dio.
Os dois s�cios de maior economia no Mercosul —Brasil e Argentina— continuam com enorme desafio de sua harmoniza��o fiscal interna ainda � frente.
Mais do que ensinamentos, o 'brexit' tamb�m traz oportunidades bastante concretas para o Brasil. Na fase de transi��o que agora se inicia, Londres quer mostrar, no �mbito do com�rcio, que est� "aberta para neg�cios".
Os governo brit�nico quer agilizar —ao menos � este o tom que Theresa May vem apresentando ao mercado— alguns resultados concretos em termos de acordos comerciais.
Aqui, vale sublinhar que nas muitas e dif�ceis negocia��es dos pa�ses do Cone Sul com a UE, o ator europeu com menos restri��es � liberaliza��o em produtos agr�colas era o Reino Unido. Isso abre excelentes perspectivas para o Brasil, seja na dimens�o pa�s-a-pa�s, seja num eventual acordo Reino Unido-Mercosul.
E o 'brexit' ainda tem o m�rito adicional, da �tica brasileira, de "incitar" Bruxelas a tamb�m concluir rapidamente acordos comerciais. Isto j� repercute num empenho maior dos europeus num acordo com o Mercosul.
O caminho adiante para o Reino Unido ser� acompanhado com aten��o por todos os atores internacionais.
Muitos apostam na transforma��o do "brexit" em mais isolamento —um outro caso na j� preocupante escalada protecionista em diversos pa�ses.
Outros enxergam no div�rcio a chance do Reino Unido voltar a ser um "global trader". Se para este lado penderem os brit�nicos, o Brasil tamb�m pode ter muito a ganhar.
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