![marcos troyjo](http://f.i.uol.com.br/fotografia/2015/05/21/513511-115x150-1.jpeg)
Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde � professor-adjunto de rela��es internacionais e pol�ticas p�blicas. Escreve �s quartas.
Haver� uma 'Doutrina Trump'?
Timothy A. Clary - 9.jan.2017/AFP | ||
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O presidente eleito, Donald Trump, fala � imprensa na Trump Tower |
Muitas diplomacias e pol�ticas de defesa se orientam com base em "manuais do usu�rio" —atualizados de tempos em tempos ao sabor das prefer�ncias dos mandat�rios e das exig�ncias da conjuntura.
No caso dos EUA, tais "manuais" s�o sofisticadamente constru�dos e implementados. No mais das vezes, recebem o nome de "doutrina". Assim foi com a Doutrina Monroe que, no s�culo 19, percebia a Europa como fonte dos males do mundo e, portanto, caberia aos EUA arregimentar um grande poderio naval que transformasse o Atl�ntico num "lago americano".
J� no p�s-Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o brilhante estrategista George Frost Kennan, ao identificar tra�os do estilo russo de pol�tica externa e defesa —invari�veis, fossem os ocupantes do Kremlin czares ou bolcheviques—, argumentava que a URSS seria uma pot�ncia vocacionalmente expansionista. Contr�ria aos interesses de Washington, a diplomacia de Moscou deveria ser "cerceada".
Nascia, portanto, a ideia de conten��o —caberia construir um "cord�o sanit�rio" em torno da URSS—, pilar da Doutrina Truman e de todas os governos da Casa Branca at� o desmantelamento oficial da Uni�o Sovi�tica na noite de natal de 1991.
Desde ent�o, as doutrinas de pol�tica externa dos EUA oscilaram entre o apego �s no��es de "soft power" — a almejada influ�ncia que teve maior express�o nas presid�ncias Bill Clinton e Barack Obama— e a concep��o de "preemptive strikes" (os tais "ataques preventivos") que tanto marcaram a atua��o externa durante a presid�ncia George W. Bush.
Em meio a diferentes doutrinas, nas �ltimas duas d�cadas os EUA se lan�aram a uma importante inflex�o de pol�tica externa —diminuindo sua �nfase no Atl�ntico e a reorientando ao Pac�fico.
Nos anos Obama, quando tal mudan�a ganhou maior for�a e detalhe, seus componentes conformaram o movimento conhecido como "Piv� para a �sia". A Parceria Transpac�fico (TPP, na sigla em ingl�s) era a principal vertente geoecon�mica de tal pol�tica.
Durante a campanha que o elegeu ao posto de homem mais poderoso do planeta, Donald Trump desferiu in�meras cr�ticas �s pol�ticas externa e de defesa de Obama. Prometeu dela muito distanciar-se, e, claro, o abandono de toda a arquitetura minuciosamente desenhada no TPP ser� um sinal muito forte de que os rumos mudaram na b�ssola da nova Casa Branca.
Ser�, ent�o, que j� � poss�vel distinguir os tra�os constitutivos do que ser� a "Doutrina Trump"?
Fala-se, com boa base, de que Trump implementar� um postura isolacionista. Vale lembrar, contudo, que durante a gest�o de Obama a pol�tica exterior dos EUA tamb�m contou com v�rios exerc�cios de introvers�o. Diminui a presen�a diplom�tico-militar de Washington —com menor engajamento em Europa, Am�rica Latina e Oriente M�dio e supostamente uma maior aten��o � �sia.
A Doutrina Obama, � verdade, privilegiou, como m�todo, a negocia��o sobre unilateralismo. Isso n�o muda o fato de que os EUA j� se encontram h� algum tempo mais voltados a si que a dilemas globais. Trata-se de uma tend�ncia —que precede Donald Trump— segundo a qual Washington, como na Guerra Fria, concorda em atuar num mundo organizado em esferas de influ�ncia. Evita assim, sempre que poss�vel, inserir-se em tabuleiros de risco elevado. Assim foi com Ucr�nia e L�bia —e mesmo na S�ria.
Trump demonstra desprezo pelo quadro de alian�as estrat�gicas alinhavado por Washington nas �ltimas d�cadas —e tamb�m ojeriza � diplomacia multilateral. No �mbito do com�rcio, deseja abandonar "maus acordos" negociados por seus antecessores, confundindo na maioria dos casos d�ficit na balan�a comercial com "perdas econ�micas" para os EUA.
N�o percebe, assim, que os EUA mant�m d�ficits comerciais com o resto do mundo desde 1976 —muito antes, portanto, da emerg�ncia de supostos vil�es como a China ou o Nafta.
A essa altura, poucos dias antes da posse, n�o se pode falar de uma nova "doutrina". A descoordenada vis�o de Trump sobre pol�tica externa continua mais assemelhada � superficialidade do marketing pol�tico do que base s�lida sobre a qual deveria se sustentar uma renovada diplomacia para seu pa�s.
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