Entregar ganhos de 11% nos dez primeiros meses deste ano pode parecer um pequeno passo para uma ação da Petrobras, mas é um grande salto para um título do governo. E são grandes as chances de estarmos nas últimas chamadas para os voos desse tipo de ativo.
Primeiro, é importante dizer que as ações da Petrobras (PETR4, que subiram 52% neste ano) só entraram neste texto por "licença poética". Vou falar de renda fixa, que, ao contrário do que diz o nome, varia bastante. Comparemos bananas com bananas.
Dinheiro caro no mercado e apetite do governo por tirar mais grana de circulação fazem os ativos de renda fixa terem suas altas. A Selic, nossa taxa básica de juros, é o guia para isso. Quanto mais altos os juros básicos, maior será o retorno oferecido pelas empresas pelos nossos investimentos.
Além dos "empréstimos" direcionados a empresas ou setores, que fazemos ao investir em produtos como CRIs, CRAs, CDBs ou debêntures, esse cenário vai definir o retorno dos títulos públicos, considerados os ativos mais seguros do país.
Neste ano, a inflação acalmou. O IPCA acumulado de 12 meses até outubro foi de 4,82%. No mesmo mês do ano passado, o indicador somava 6,47% de alta. Uma diferença considerável. Com isso, o governo reduz a pressão por tirar dinheiro de circulação —e o reflexo direto disso são os cortes da Selic.
Dito isso, é urgente enxergar que outubro foi o terceiro mês consecutivo com resultados negativos no IMA-B —espécie de Ibovespa dos títulos públicos atrelados à inflação (chamados de "Tesouro IPCA+", ou "NTN-Bs").
O índice é uma referência para os investidores que sabem diversificar seus investimentos —e entregou ganhos de 11,2% neste ano.
Quem puxou a desvalorização do índice nos últimos três meses foram os títulos de longo prazo, com vencimento acima de cinco anos. Mas em outubro, até o IMA-B 5, que reúne apenas os papéis que vencem antes disso, saiu no negativo.
É a primeira vez desde novembro de 2022 que o índice de títulos de curto prazo atrelados ao IPCA fica no vermelho. Nos últimos três anos (36 meses), isso só aconteceu cinco vezes.
Não é só a inflação que tem tirado rentabilidade dos títulos públicos. A insegurança em relação ao equilíbrio fiscal (que abordei nesta coluna) e o aumento dos juros nos Estados Unidos, um mercado considerado mais seguro que o nosso, levam os grandes investidores institucionais a migrarem seus investimentos de renda fixa.
Ainda há boas ofertas, mas em menor volume do que há seis ou oito meses. A impressão que fica para quem olha o mercado como um todo é que elas não estarão na mesa por muito tempo.
Com a seca, quem comprou os títulos de renda fixa que ofereciam bons prêmios terá cada vez mais chances de vendê-los antes do vencimento, com lucro, no chamado "mercado secundário", ou seja, para outros investidores. E assim usar a variação da renda fixa a seu favor.
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