Ao longo dos últimos meses, estudei o funcionamento dos condomínios em outros países, conversei com gestores, administradores e advogados e concluí que não há nada parecido com o que vivenciamos no Brasil.
Criativos que somos, demos origem a algo inédito, uma forma muito peculiar de complicar o que deveria ser simples.
Tudo começa por nossos longos regulamentos e convenções que, não raro, ultrapassam cem artigos e parágrafos, com as regras mais óbvias do mundo, que nem sequer precisariam estar escritas.
Um prato cheio para interpretações, análises jurídicas e discussões intermináveis nas assembleias e no Judiciário.
Nos outros países, as normas são mais enxutas, precisas e de fácil aplicação. Pelo mundo, os síndicos, ou gestores, cuidam basicamente das contas e do cumprimento das obrigações legais. No Brasil, são “babás de marmanjo” e gastam muito tempo e energia com o comportamento dos vizinhos. Ser síndico aqui requer habilidades extraordinárias e virou um verdadeiro abacaxi.
Do ponto de vista operacional, os moradores estão mal-acostumados, pois têm funcionários para as atividades mais corriqueiras e simples, como abrir um portão, recolher o lixo na porta do apartamento e limpar o andar.
Em outros países, os condôminos se encarregam dessas tarefas e até se espantam com o fato de não separarmos e levarmos nosso lixo até os locais de descarte. O lado bom é a geração de empregos formais, tão importante para nossa economia.
No Brasil, até mesmo pela violência e pela ausência de espaços públicos de lazer, as áreas comuns dos condomínios são extremamente utilizadas pelos moradores. Os empreendimentos já são planejados e construídos com esse viés, ao passo que, nos outros países, as áreas comuns se resumem a jardins e gazebos, facilitando a vida dos síndicos.
A inadimplência ocorre em todo o mundo, mas aqui sempre esbarramos na morosidade do Judiciário, algo que já está melhorando.
Em muitos países, o processo de cobrança tramita em apenas alguns meses e o devedor não tem moleza.
Expulsar o condômino que se porta mal, o chamado morador antissocial, é medida possível e relativamente simples em muitos lugares, sobretudo para garantir a harmonia e o sossego dos vizinhos.
A legislação aqui é fraca nesse sentido, mas, felizmente, já há boas decisões judiciais sobre o tema, autorizando a expulsão dessas pessoas.
Enfim, a vida em condomínio é bastante peculiar e o ponto mais positivo é a verdadeira relação de vizinhança que conseguimos construir.
Não apenas moramos nos apartamentos, mas vivemos o condomínio intensamente, uma relação mais quente, e por vezes carinhosa, de pura amizade, que não se vê em nenhum lugar do mundo.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.