Eliza Maria Ferreira Veras da Silva nasceu em 1944 numa família humilde do sul da Bahia. Seus estudos sempre foram incentivados pela mãe, Dahil, que reconhecia o talento excepcional da filha. Terminado o ensino médio —com nota dez em todas as disciplinas do último ano!— mudou-se para Salvador, onde lecionou em vários colégios.
Em 1964, foi aprovada em 2º lugar no vestibular da graduação em matemática da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Concluiu o curso —bacharelado e licenciatura— ao final de 1967 no Instituto de Matemática e Estatística (IME) da UFBA, onde logo se tornou professora assistente.
Lá ficou sabendo da possibilidade de continuar os estudos no exterior. No início dos anos 1970, ganhou uma bolsa da Unesco para fazer mestrado na Universidade de Montpellier, na França, onde trabalhou com o algebrista Artibano Micali.
Após a defesa da dissertação, sobre álgebras associativas, reassumiu as suas funções na UFBA, onde, ao mesmo tempo, seguiu trabalhando rumo ao doutoramento.
Em 1977, voltou a Montpellier com uma bolsa do governo francês para concluir a sua tese, intitulada "Sobre os números inteiros não associativos".
Levantamento feito pela professora Manuela Souza (UFBA) indica que Eliza Maria foi a primeira mulher negra brasileira a obter o grau de doutora em matemática.
Permaneceu no IME-UFBA, do qual foi vice-diretora nos anos 1980, até a aposentadoria, em 1994. Nesse tempo, contribuiu para o ensino e a causa da diversidade na matemática. Em 2022, foi homenageada pela UFBA com o "Programa de Apoio a Projetos e Iniciação Científica em Matemática Professora Dra. Eliza Maria Ferreira Veras da Silva", que apoia a formação de estudantes negras(os).
O dicionário Aurélio define "pioneira" como "aquela que abre ou descobre caminho através de região desconhecida".
Eliza Maria é uma pioneira da matemática brasileira, como são Marília Peixoto, Maria Laura Mouzinho e Elza Gomide, sobre quem escrevi antes. Muitos caminhos restam ainda por abrir, e as suas trajetórias motivam e inspiram outras pioneiras, de todas as idades.
Como, por exemplo, as alunas do projeto Meninas Olímpicas do Impa, e outras iniciativas similares em todo o país, cujo objetivo é diminuir as barreiras ao acesso das jovens ao cenário científico. São a primeira geração a quem é dito que ciência é lugar de mulher, e a experiência mostra que estão escutando. É com elas que se trava a batalha para alcançar a plena presença feminina no mundo da ciência e da tecnologia.
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