![marcelo leite](http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15073330.jpeg)
� rep�rter especial da Folha,
autor dos livros 'Folha Explica Darwin' (Publifolha) e 'Ci�ncia - Use com Cuidado' (Unicamp).
Escreve aos domingos
e �s segundas.
Civiliza��o n�o se alcan�a s� com tecnologia
Divulga��o | ||
![]() |
||
Foto de cometa tirada pela sonda Rosetta |
Nada melhor do que nascer e viver em dois s�culos que permitiram � humanidade manter uma sonda espacial viajando pelo �ter por mais de uma d�cada e depois pous�-la no cometa Churyumov-Gerasimenko.
Durante dois anos a nave europeia Rosetta revelou segredos desses astros espor�dicos. Agora, descansa silenciosa sobre um deles.
Tamb�m � �timo testemunhar que o veredicto cruel da natureza pode, ao menos em alguns casos, ser revertido pela biotecnologia. Defeitos em genes de mitoc�ndrias –as diminutas usinas de energia das c�lulas– causam s�ndromes como a de Leigh, que impede o desenvolvimento normal do sistema nervoso e condena criancinhas � morte certa.
Ap�s juntar o �vulo de uma mulher com mitoc�ndrias saud�veis ao n�cleo do de outra portadora do defeito, m�dicos dos EUA anunciaram h� dias o nascimento de um beb� livre do progn�stico fatal. Isso � bom e deve ser saudado, por impreciso que seja falar em "filho de tr�s pais" e desprovidos de sentido que sejam os pruridos �ticos a respeito.
V�rios desses avan�os em engenharia e biotecnologia contribuem tamb�m para tirar a investiga��o policial da idade da pedra em que se encontrava ainda na maior parte do s�culo 20. Pense na comprova��o de identidade por meio de testes de DNA –quantos r�us n�o ter�o escapado da pena de morte gra�as a eles, nos pa�ses que insistem em manter essa puni��o b�rbara?
H� que considerar, contudo, que civiliza��o n�o se alcan�a apenas com tecnologia. Leis, direitos, procedimentos e compaix�o tamb�m s�o ingredientes indispens�veis dessa liga muito f�cil de desandar.
Por exemplo, quando o presidente democraticamente eleito de uma na��o de mais de 100 milh�es de pessoas, como Rodrigo Duterte nas Filipinas, manifesta o desejo de matar –sem julgamento nem piedade– todos os bandidos e viciados do pa�s, estimados em mais de 3 milh�es de almas. Gente. Pessoas.
N�o chegamos a tal ponto, ainda, no Brasil. Mas aqui h� quem defenda –em nome da justi�a!– a decis�o de tr�s desembargadores paulistas de anular a condena��o de 74 policiais militares pelo massacre de 111 presos do Carandiru, em 1992.
Entende-se a dificuldade t�cnica de identificar o autor de cada um dos disparos e quais deles foram fatais. Mas uma sociedade civilizada jamais se conformaria com tamanho fracasso do aparelho policial e judicial –a n�o ser, talvez, quem inconfessadamente considere que aquelas 111 vidas nada valiam.
N�o seria imposs�vel, por outro lado, individualizar ou at� evitar as mortes. Para isso seria preciso ter uma pol�cia cient�fica aparelhada e capacitada. Seria preciso que comandantes policiais e superiores –governador e secret�rio de Seguran�a– agissem de modo racional ao lidar com rebeli�es e erradicassem a superlota��o dos pres�dios.
Seria preciso, ainda, que os PMs invasores seguissem procedimentos minimamente aceit�veis, antes, durante e depois dos disparos, como n�o mover corpos ou recolher c�psulas e, assim, inviabilizar a per�cia.
Nada disso seria preciso, por�m, se boa parte do p�blico e dos formadores de opini�o no Estado mais desenvolvido do pa�s n�o fossem t�o incivilizados a ponto de achar –e votar de acordo com essa convic��o retr�grada– que a pol�cia e o Judici�rio paulistas est�o sempre certos quando promovem e incentivam essa e outras chacinas.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade