![marcelo leite](http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15073330.jpeg)
� rep�rter especial da Folha,
autor dos livros 'Folha Explica Darwin' (Publifolha) e 'Ci�ncia - Use com Cuidado' (Unicamp).
Escreve aos domingos
e �s segundas.
Precisamos falar sobre a caatinga, o mais seco e brasileiro dos biomas
Fl�via Pezzini | ||
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�rea de caatinga localizada no Parque Estadual da Mata Seca, em Minas Gerais |
Como na sexta-feira (23) come�ou a primavera, vamos falar de florestas. Pensou Amaz�nia, mata atl�ntica, cerrado? N�o, o assunto hoje � caatinga.
Muita gente nem sabe que se trata de uma forma��o florestal, com �rvores e arbustos que cobrem o terreno. Mais comum � pensar nela como um mato estorricado, pobre, lugar de pobreza e fome.
Quem j� esteve na caatinga depois das chuvas sabe que n�o � bem assim. Minha maneira de enxergar a "mata branca" (este o sentido da express�o em tupi) mudou durante viagem � serra da Capivara, no Piau�, duas d�cadas atr�s, quando me deparei com um floresta toda verde.
Essa capacidade de sobreviver a secas prolongadas como as do semi�rido brasileiro e desabrochar quando volta a chover constitui o maior segredo da caatinga. Suas �rvores e outras plantas t�m adapta��es para aguentar a falta de �gua, como no caso dos cactos.
A caatinga vem a ser o �nico bioma exclusivamente nacional, mas n�o est� sozinha entre as florestas secas das Am�ricas. Do M�xico � Argentina h� v�rias delas, igualmente desprezadas e amea�adas, como destacou a capa da revista "Science" desta semana.
Entre os 64 autores do artigo figuram os brasileiros Fl�via Pezzini, do Jardim Bot�nico Real de Edimburgo (Esc�cia), Danilo Neves, do Jardim Bot�nico Real Kew (Inglaterra), e Ary Oliveira-Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais. Al�m do texto cient�fico, o grupo lan�ou um v�deo em portugu�s, ingl�s e espanhol para explicar a import�ncia desse tipo de floresta.
O artigo destaca, por exemplo, que grandes civiliza��es americanas, como os astecas, buscavam seu sustento nesse ambiente. Cultivos t�o importantes para a agricultura atual quanto milho, tomate, feij�o e amendoim surgiram a�.
A caatinga e suas primas latino-americanas, al�m disso, nada t�m de pobres. Os 1.602 invent�rios bot�nicos consultados pelos autores do estudo registram a presen�a de 6.958 plantas lenhosas.
Em alguns pa�ses restam menos de 10% da extens�o original das matas secas, o que as p�e entre as florestas tropicais mais amea�adas do planeta. A caatinga ainda tem 53% de seus 828 mil quil�metros quadrados originais (um d�cimo do territ�rio nacional), onde vivem 178 esp�cies de mam�feros, 591 de aves, 177 de r�pteis, 79 de anf�bios, 241 de peixes e 221 de abelhas –al�m de 27 milh�es de pessoas, claro.
Com tudo isso, apenas 1,2% da caatinga est� em unidades de conserva��o de prote��o integral. Por exemplo, o Parque Nacional da Serra Capivara, que volta e meia fica arriscado de fechar por falta de verbas.
Em contraste, a floresta amaz�nica ainda tem 80% intactos e 9,9% de seus 4.199 quil�metros quadrados sob prote��o integral. Isso sem contar as 422 terras ind�genas, que re�nem 1,15 milh�o de quil�metros quadrados (23% de territ�rio amaz�nico), em geral com bom estado de conserva��o.
Sim, � verdade, a mata atl�ntica e o cerrado tamb�m est�o amea�ados, at� mais que a caatinga. Mas nem por isso ela merece ser tratada como a prima pobre e feia. Precisamos falar mais dela, e bem.
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