marcelo gleiser
Horizontes
Professor de f�sica, astronomia e hist�ria natural no Dartmouth College (EUA). Ganhou dois pr�mios Jabuti; autor de 'A Simples Beleza do Inesperado'. Escreve aos domingos, semanalmente
A Ilha do Conhecimento
Hoje, roubo o t�tulo de meu novo livro, que ser� lan�ado nesta semana no Brasil. Nele, examino nossa busca por sentido. Como a humanidade, atrav�s da hist�ria, vem tentando compreender a natureza da realidade e seu lugar nela? Como sabemos o que � real?
Apesar de focar na realidade f�sica, na natureza e na nossa rela��o com ela, argumento que as quest�es fundamentais da exist�ncia –quest�es sobre origens (De onde viemos? Qual a origem do universo? Da mat�ria? Da vida?), sobre o fim (O que ocorre quando morremos? Qual o futuro do planeta? Do cosmo?), sobre a ess�ncia de quem somos (O que � a mente? Existe verdade?)–, s�o quest�es universais, que transcendem barreiras culturais, e que s�o e devem ser respondidas de diversas formas. Achar que apenas uma �rea do conhecimento � suficiente para tratar de quest�es complexas, empobrece mais do que enriquece.
Essa complementaridade do conhecimento se faz transparente quando abordamos quest�es que chamo de incognosc�veis, que est�o al�m do conhecimento. Considere, portanto, que o conhecimento forme uma ilha. Esse conhecimento � de todos tipos: cient�fico, filos�fico, art�stico, liter�rio, religioso. Mas foco principalmente no conhecimento cient�fico e filos�fico. Como toda boa ilha, a Ilha do Conhecimento tamb�m � cercada por um oceano. No caso, pelo Oceano do Desconhecido.
� medida que aprendemos mais sobre o mundo, a Ilha cresce. �s vezes, tamb�m pode sofrer retra��o, ao percebermos que algo que t�nhamos como certo est� incorreto: muitas ideias e teorias caem ap�s terem sido "aceitas". Por exemplo, a ideia de que a Terra � o centro do Cosmo fez parte da Ilha at� o in�cio do s�culo 17. (Cop�rnico publicou seu livro em 1543, mas a centralidade da Terra custou a ser abandonada.)
O Oceano do Desconhecido � um lugar fascinante. L�, encontra-se tudo o que n�o sabemos sobre o mundo, sobre o Universo, sobre n�s mesmos. As part�culas de mat�ria escura, que comp�em 25% do que existe no cosmo; a energia escura, que comp�e outros 70%; as respostas para as milhares de perguntas feitas todos os dias sobre a vida, sobre as doen�as, sobre o funcionamento do c�rebro e do consciente. As perguntas que ainda n�o fizemos. L�, reside o Mist�rio, que Einstein dizia ser a emo��o fundamental que inspira a arte e a ci�ncia. Queremos aprender mais, sempre, e estender o territ�rio da Ilha.
� de se esperar que, com o crescimento da Ilha, o Oceano do Desconhecido encolha cada vez mais, enquanto avan�amos em dire��o a uma meta final, uma "verdade final", absoluta. Mas n�o � isso o que ocorre. � medida que a Ilha do Conhecimento cresce, crescem, tamb�m, as margens de nossa ignor�ncia.
O conhecimento pode levar a respostas; mas leva, tamb�m, a novas perguntas, a uma habilidade crescente de explorar o novo, cuja exist�ncia n�o poder�amos ter antecipado. Basta comparar o conhecimento do Cosmo antes e ap�s a inven��o do telesc�pio, ou o conhecimento da vida antes e ap�s a inven��o do microsc�pio.
Aqui e ali no Oceano do Desconhecido nos deparamos com o incognosc�vel, com quest�es sem resposta. O que aprendemos sobre o mundo depende de como olhamos para ele. E nosso olhar tem um alcance limitado. Aceitar os limites do conhecimento � um ato de libera��o. Nos juntamos a Einstein, inspirados pelo Mist�rio, lan�ando um pouco de luz sobre a vastid�o daquilo que n�o sabemos.
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