No dia 30 de dezembro de 1066, uma turba de muçulmanos invadiu o Palácio Real de Granada, na Espanha, e crucificou um vizir judeu. Em apenas um dia, milhares de judeus foram assassinados. Daí ao Holocausto nos anos 1940, foram vários os massacres e perseguições sofridos por esse grupo étnico-religioso.
O regime de Hitler foi a manifestação mais grotesca de um fantasma que assombra a Europa há séculos: o fantasma do antissemitismo.
Após as câmaras de gás, que chocaram o mundo, supunha-se que esse fantasma havia sido exorcizado, mas o ataque do Hamas a Israel mostrou que ele estava apenas adormecido.
Nos oito dias após o massacre, que ceifou mais de mil almas, foram registrados 202 episódios contra judeus na Alemanha —aumento de 240% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a ONG Rias.
Costuma-se relacionar o ódio aos judeus apenas a Alemanha, devido ao nazismo, mas esse preconceito está entranhado na cultura europeia. De 7 de outubro até o último dia 5, o Ministério do Interior da França contabilizou 1.040 ocorrências que levaram à prisão de 486 pessoas. Casos também foram verificados na Itália, Áustria, Espanha e Inglaterra.
O antissemitismo tem origens que envolvem religião, economia e política. Ao longo da história, judeus foram culpados pelo assassinato de Jesus, tachados de capitalistas opressores ou de subversivos comunistas. Eram tantos os motivos e em tantos países que, segundo Bernard Wasserstein, em 1939, havia mais judeus em campos de prisioneiros fora da Alemanha do que dentro dela.
Na onda atual, a motivação política contra o Estado de Israel, em prol da causa palestina, despertou o vírus incubado do antissemitismo que ora contamina o Velho Mundo.
Como se rechaçar a barbárie cometida pelo Hamas ou defender a existência de um Estado judeu fosse o mesmo que apoiar a infração aos direitos humanos dos palestinos. É o efeito nefasto da polarização política, que torna o preconceito aceitável e a sensatez impossível.
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